Com o tema “O Incrível Mundo Além do Sudeste”, a sexta edição do festival Movimento Cidade destacou artistas de onze estados, representando as cinco regiões do país. Realizado no último final de semana, entre 16 e 18 de agosto, o evento gratuito levou 100 mil pessoas ao Parque da Prainha, em Vila Velha, no Espírito Santo.
Confirmado para 2025, a plataforma reafirma o seu compromisso com a diversidade cultural, a responsabilidade com a sustentabilidade e a busca pelo impacto social positivo. Com proposta multiplataforma, o projeto une música, mostra audiovisual e arte urbana.
Na quinta-feira, 15/8, houve um encontro na Casa do Governador, espaço cultural, que abriga o museu de esculturas ao ar livre. “A cultura transforma cidades”. declarou Luísa Costa, Diretora Geral e Co-realizadora do evento. “Vamos entregar algo histórico para o nosso estado: um evento gratuito feito somente com lei de incentivo.”
A noite contou com a presença de Fabrício Noronha, Secretário de Cultura, e Renato Casagrande, Governador do Espírito Santo, entre outros dirigentes da cultura do estado. Já a Presidente da Funarte, Maria Marighella, apontou como “a cultura é a riqueza desse país e deve ser distribuída. A cultura antecipa a política.”
De sexta a domingo, a programação agitada contou com shows divididos em dois palcos principais, além da tenda Carango Nav, que trouxe DJ sets, roda de samba, batalha de MCs, ballroom e apresentação de slam. No sábado, Dona Onete, uma das headliners, teve problemas de saúde e foi substituída pelo encontro inédito de Potyguara Bardo, Getúlio Abelha e Kaya Conky.
O festival apresentou diversidade de corpos e de estilos musicais. A proposta da curadoria desenvolvida pela produtora cultural Júlia Aguiar foi “descolar do eixo”. Na apresentação do MC, ela escreve que “a partir desse exercício de imaginação criamos um panorama do Brasil com seus múltiplos planetas. O mundo que te convidamos a entrar é do mangue, carimbó, rap, trap, samba e pagode. Um fragmento da imensidão da música brasileira.”
Não à toa, a escalação reflete esse propósito ao mesclar nomes consagrados e apostas, incluindo o destaque à cena local, muito bem representada por Afronta, Dan Abranches, Dudu MC, Silva e Sthelô. Fora os shows, tanto os DJs, quanto os MCs da Carango Nav são fruto desse ecossistema vibrante.
Conversamos com Afronta, Dan Abranches e Sthelô durante o festival, leia o bate-papo a seguir:
Afronta
“A cultura ballroom é uma grande ferramenta para conectar pessoas trans e LGBTIAPN+”, explica Afronta, nome artístico da rapper e cantora Joá Vi Pereira. Na última sexta-feira, a artista foi a responsável por encerrar a programação do festival. Durante o show, que contou com apresentação de voguing, ela cantou as músicas do recém-lançado EP Princesa de V.V. “O meu vulgo já diz bastante sobre o que eu quero com essa viagem de ser artista”, declarou a MC.
Nascida e criada em Vila Velha, ela descobriu o rap aos 18 anos, e posteriormente se envolveu com o voguing. Desde 2019, é integrante da Casa de Boneketys, fundada pelas mothers Matysha e Ronalda. Através da música e da arte, Afronta divide a sua vivência travesti com o resto do mundo: “Conto a minha história no EP, do que ouvi e vivi para ser quem eu sou hoje. A minha intenção é que outras pessoas se reconheçam, especialmente as que são parecidas comigo.”
Dan Abranches
O músico, compositor e produtor musical se apresentou duas vezes no MC: na quarta-feira tocou um set de voz e guitarra com versões de músicas conhecidas da MPB contemporânea, já no sábado apresentou o show completo com a banda. Na mesma semana, Dan lançou o single “Ando”, aperitivo do seu segundo disco. O repertório do show mesclou as músicas de Titan (2021) com canções como “Flamingos”, de Baco Exu do Blues e Tuyo.
“Vejo o festival como uma janela para apresentar o meu trabalho para pessoas que vão me conhecer naquele momento”, explicou sobre a seleção do repertório. Na tentativa de definir a sonoridade do seu trabalho, o artista, que canta em inglês e português, bebe de referências do trap, r’n’b, MPB e blues. O cenário capixaba também o inspira: “Considero Vitória uma cidade linda, vejo água de todos os lados. A minha música traz o reflexo desse lugar, sinto o gostinho do mar em algumas músicas.”
Sthelô
Pop francês, dança flamenca e MPB: Sthelô abriu os caminhos para o primeiro disco, Melancolia Tropical, na noite de sexta-feira. O primeiro single “Coragem” foi lançado nas plataformas digitais no início de agosto. Além das composições autorais, ela apresentou uma versão de “Mania de Você”, hit de Rita Lee. A sonoridade do disco vem sendo lapidada há seis anos pela artista, ao lado do produtor musical Igor Morais, responsável pelos arranjos do álbum. “A corporeidade, a saúde mental, as paixões e os excessos são temas que me instigam bastante”, divide a compositora.
Ainda sem data de lançamento, o álbum carrega os questionamentos da artista baiana radicada em Vitória. “Como é ter um corpo miscigenado nesse espaço? É um trabalho de entender que você é lido de outra forma. O Melancolia Tropical está cheio desses atravessamentos”, afirma Sthelô. No momento, divide-se entre a música, a graduação em ciências sociais e o estudo de dança flamenca. Cada experiência adiciona uma nova camada ao disco: “Estou muito interessada em entender o que o meu corpo é capaz de fazer. É fácil ficar presa nas palavras, tem sido significativo me expressar de um novo jeito.”
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