Lookout Mountain, Lookout Sea (Silver Jews)

11/04/2008

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

11/04/2008

por Daniel Rosemberg

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Com o lançamento do álbum Lookout Mountain, Lookout Sea (Dragcity, 2008) os Silver Jews fazem mais do que consolidar uma carreira de quase vinte anos. A banda liderada por Berman se encarrega de fornecer tubos de oxigênio para o descendente country rock norte-americano, não o recolocando no topo da montanha, mas ao menos resgatando-o das obscuras profundezas do oceano.

As raízes estáveis e, supostamente, imaculadas do Jews não proporcionam novidades sonoras – o que há alguns anos parece ser total encargo dos britânicos do Radiohead – contudo, trazem alento aos fãs do indie rock que não buscam como referencial estéticas desconstrutivas baseadas em futilidades cotidianas, pirotecnias instrumentais ou estranhos nomes “artísticos”. Lookout Mountain, Lookout Sea não é um álbum conceitual, e sim o que de mais justo uma banda de leve expressão no cenário internacional poderia criar a partir de acordes simples e de uma sofisticada prosódia poética.

A faixa de abertura What Is Not But Could Be If, com seus arranjos diretos, dá ao ouvinte a impressão de que Lou Reed foi resgatado de sua atual inconsistência musical e levado de volta ao Velvet Undergroud de Andy Warhol por um cowboy de motocicleta. O barítono de David Berman remete aos melhores momentos de seu homônimo mais famoso, David Bowie. Suffering Jukebox é uma canção que segue exatamente a mesma linha melódica de Range Life, do aclamado Crooked Rain, Crooked Rain (Matador Records, 1994), trabalho que estabeleceu o Pavement no cenário musical. A duradoura parceria entre Berman e Malkmus, que data desde a criação dos Silver Jews em 1989, não está presente na nova gravação. Entretanto, o melhor álbum dos “Joos” – The Natural Bridge (Dragcity, 1996) – também conta com a ausência de Malkmus, sendo assinado somente por Berman.

Da incisiva My Pillow is a Threshold foi retirado o nome que deu título a Lookout Mountain, Lookout Sea. Curiosamente, o hino do álbum, Strange Victory, Strange Defeat, tem apenas dois minutos e quarenta e três segundos de duração. A faixa remete a carregadas baladas setentistas com o tradicional lirismo presente ao longo da obra dos Silver Jews. Open Field, com sua letra minimalista, é uma remissão aos prazeres da liberdade e aos dissabores de uma vida estável em família, e prepara os ânimos para as demais canções do álbum, que a partir daí adquirem uma tonalidade colorida que só pode ser proporcionada por um compositor apaixonado. As divertidas Candy Jail e Party Barge enaltecem o caráter autobiográfico de Lookout Mountain, Lookout Sea, providenciando a sensação de que Berman está amplamente satisfeito com o rumo de sua vida.

Embora as composições não apresentem grande diferenciação musical, o álbum é conciso em sua proposta, desmistificando a preposição de que bandas independentes precisam contar com aberrações visuais e/ou sonoras. A faixa de fechamento We Could Be Looking For The Same…,com seus pontos reticentes, faz com que uma banda de garagem proporcione o alento para que o futuro do rock independente não conte somente com cantoras juvenis que soem como Cat Power wannabes. Afinal, pode-se estar à procura das mesmas coisas sem a necessidade de uma sonoridade tão similar.

O ponto fraco de Lookout Mountain, Lookout Sea é quando a bela Cassie – esposa de Berman – toma os vocais principais, como já havia ocorrido no álbum anterior (Tanglewood Numbers, 2005). Seu timbre ordinário consegue tornar-se doce em pontuais backing vocals, mas o contraste direto com Berman é desnecessário. Parece que o poeta esqueceu a não intencional lição de Lennon: Fale do amor perfeito, seja piegas, mas mantenha seu cônjuge longe dos estúdios de gravação.

Recentemente, American Water, de 1998, foi citado na compilação 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer. A participação de Stephen Malkmus, um dos co-fundadores da banda, em American Water foi fundamental para uma maior popularização dos Silver Jews no cenário musical. A migração de fãs do Pavement, a partir do término das atividades desse grupo, também contribuiu para que os Jews recebessem atenção especial. Com toda propriedade criativa em Lookout Mountain, Lookout Sea, Berman mantêm-se bem amparado em seu explorado terreno de letras abstratas e melodias tradicionais.

Não é através de Lookout Mountain, Lookout Sea que os “Joos” conquistarão um milhão de fãs. Entretanto, a evolução em relação a Tanglewood Numbers é tamanha que, indubitavelmente, o prazer proporcionado por notáveis mudanças fará com que tímidos sorrisos brotem nas faces de sua seleta audiência. E, quem sabe, no próximo disco (sim, os Silver Jews ainda lançam LPs) esses sorrisos contidos possam tornar-se permanentes. Assim como aconteceu com o próprio Berman, depois de superar bloqueios pessoais que há anos o impediam de realizar apresentações ao vivo. A tardia turnê de estréia da banda ocorreu somente em 2005, contanto inclusive com inusitados shows em Israel. Pelo visto, tocar para seu público fez muito bem aos Jews.

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11/04/2008

Revista NOIZE

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