É muito bom viver em 2017. Essa é a única constatação possível de se fazer depois de assistir ao show de lançamento do disco Cosmos, da My Magical Glowing Lens em Porto Alegre, na última quinta-feira. Se antes do show, a baterista Larissa Conforto (do trio carioca Ventre, que veio acompanhar o grupo capixaba) declarou “Cara, a gente tá vivendo a primavera da música brasileira”, as apresentações do evento batizado de Bolo Fofo Festivalzinho não deixavam a menor dúvida disso.
A primeira apresentação da turnê pelo sul da MMGL foi um transe completo entre luz, som e suor. Todos os olhos da plateia estavam vidrados em Gabriela Deptuski, que se derretia junto com a própria guitarra, entrando dentro do instrumento e tirando um som hipnotizante. O pop místico da banda nunca esteve tão afiado quanto no álbum Cosmos, lançado no começo dessa semana.
E se normalmente a banda capixaba já impressiona pela qualidade do som, a participação de Larissa Conforto (da Ventre, que veio para substituir Henrique Paoli) na bateria elevou a energia do festival na máxima potência. Dava pra enxergar os pedaços de baqueta voando enquanto ela dava tudo de si. O baixo de Gil Mello e o sintetizador de Pedro Moscardi só acrescentavam a construção astronômica, espacial e sideral que levou todo mundo que compareceu ao Bolo Fofo a uma nova dimensão.
Dimensão, aliás, é uma boa palavra para descrever os shows que abriram a noite: a Supervão, que trouxe beats pesados, preenchendo os olhos e ouvidos e mostrando que o seu ao vivo evoluiu imensamente desde o lançamento do EP Lua Degradê. O trio de São Leopoldo formado por Mario Arruda, Leonardo Serafini e Ricardo Giacomoni mergulhou no eletrônico e levantou vôo com a nova “Tempo Barravento” e ainda fechou o setlist com uma música inédita, que traz mais influências do som brasileiro.
Na sequência, a Musa Híbrida trouxe seu groove indescritível que só acontece com a mágica e a maestria de Vini Albernaz, Alércio e Cuqui. Mesclando baixo, guitarra e até um bandolim com elementos sintéticos como ninguém, o grupo de Pelotas se torna o centro de qualquer ambiente onde toca. A atração quase que magnética da plateia era palpável no ar.
Como é de costume nos eventos da cena independente que ganha cada vez mais força e diversidade no Brasil, não era incomum ver os músicos de uma banda maravilhados vendo a outra ao vivo. A troca que eventos como o Bolo Fofo Festivalzinho proporcionam a uma cidade é cada vez mais fundamental. O limite de horário para som alto na casa era até a meia-noite, e isso não impediu que a festa fervesse até o último segundo e que o público pedisse mais, mais, sempre mais.
A My Magical Glowing Lens terminou seu show (o último e mais enlouquecedor da noite) com a guitarrista Gabriela forjando uma microfonia e controlando o som distorcido à sua maneira, se aproximando dos amplificadores, da mesa de som e do próprio público. Gabi acabou a última música do setlist literalmente jogada no chão. De um jeito ou de outro, todo mundo estava ali também.