Mais um dia em direção ao Parc del Forum. Mais um dia de condução, de pessoas sorridentes, de ver o sol se pondo no mediterrâneo, um dia de encerramento dessa experiência musical chamada Primavera Sound 2016. Último dia, no caso, de programação dentro do Forum, pois as festas continuam hoje em casas noturnas espalhadas pela cidade. O que, de fato, já deixa este que vos escreve com um sentimento de saudade, mesmo sem ter chegado ao fim mesmo do festival.
Era perto das 20h quando entrava no Parc del Fórum. Passei o tradicional letreiro luminoso do Primavera e fui direto ao palco principal, pois ali estava a minutos de ver uma apresentação que aguardava muito: Brian Wilson, o gênio por traz de diversos clássicos dos Beach Boys, tocando nada mais nada menos que o clássico álbum Pet Sounds na íntegra. O show, que faz parte da turnê de comemoração de 50 anos do lançamento do disco, conta com além de Brian nos pianos e voz, com a presença de 2 ex-membros dos Beach Boys, Al Jardine e Blondie Chaplin, ambos tocando guitarra e cantando também.
Totalmente à vontade, falando muito com o público, Brian conduziu de forma emocionante todo o repertório do disco, passando por clássicos como “Wouldn´t it be nice”, a linda “God Only Knows”, “I Know There´s an Answer”, a instrumental “Pet Sounds”, que Brian introduziu de modo irônico enfatizando que a próxima música era totalmente “No voices!” e com direito a improviso de bateria dentro do arranjo, ouvi o repertório inteiro de um dos discos mais importantes para a música pop. Após o término do set original do álbum, Brian e seus colegas tocaram o hit “Good Vibrations”, que agitou o Parc e botou todos para dançar, seguidas de grandes clássicos dos Beach Boys como “California Girls”, “Surfin’ Usa”, onde todos os presentes faziam dancinhas simulando estar surfando, e um cover de Bobby “Boris” Pickett chamado “Monster Mash”, cantado por Blondie Chaplin. Um grande momento.
Aproveitei o final do show de Brian para me deslocar a um dos palcos alternativos, sentar um pouco e recarregar as energias. Eu sei, o festival a recém tinha começado, mas por se tratar do 4º dia dessa maratona, cada descanso é um esforço valioso.
Baterias carregadas, vamos em frente, pois a noite estava só começando. No palco Pitchfork, o rapper nova iorquino Pusha T começava sua apresentação. Com um cenário minimalista, apenas portando duas cruzes gigantes de neon com o dizer “Sin will find you outt”, “El Presidente de good music” (como se auto intitula, brincando com o idioma local e fazendo alusão ao selo g.o.o.d music de Kanye West, o qual ele faz parte) tocou um repertório forte, com foco em seu último disco King Push – Darkest Before Dawn: The Prelude do final do ano passado, fez todos dançararem no melhor estilo ny rap com a mãozinha pra cima. No meio de sua apresentação, tocou o hit de Kanye “Runaway”, do qual ele fez parte da composição e sua outra parceria com o rapper, “New God Flow”, que agitaram o público presente.
Da água pro vinho, sai do show de Pusha direto para o palco principal, pois ali já começava a apresentação de Pj Harvey. Com um cenário lindo, todos os músicos vestidos de preto, Pj começa o show com “Chain of Keys”, paulada orquestrada de seu último disco The Hope Six Demolition Project, com sua banda tocando de forma marcial, cadenciada por uma caixa e instrumentos de sopro, o coro de vozes ecoava no silêncio dos que ali estavam presentes e introduzindo essa bela apresentação que estava por vir.
Com um repertório denso e cadenciado, focado em seu último disco, a cantora executou praticamente a obra na íntegra, apenas faltando a intensa “”Near the Memorials to Vietnam and Lincoln” da ordem total de músicas do álbum. Porém alguns clássicos não podiam faltar, como a dobradinha “Down by the water” e “To bring you my love” do disco homônimo de 1995 To Bring You My Love, considerado pela Rolling Stone um dos 500 maiores discos de todos os tempos. Um show lindo, que prova por que PJ é considerada uma das grandes artistas da sua geração.
Logo após o show de PJ era hora de voltar para o hip hop, pois no palco Primavera começava o show do rapper americano Action Bronson, gordinho figura de Nova Iorque que vem fazendo uma carreira sólida com seu último disco Mr. Wonderful.
Com um set list cheio de mudanças de faixas, pausas e muito rap, Action fez um show tradicional do estilo, levantando a galera e botando todos para dançar novamente. Bases muito bem produzidas, um flow forte e com personalidade são características presentes em todas as suas músicas. Destaque para o hit “Baby Blue”, produzido por Mark Ronson, que o público pedia constantemente e fazia o rapper brincar com muito bom humor com este fato, falando que ele estava dando o seu melhor fazendo “the real rap shit”, e todos queriam ouvir o hit pop de seu show.
Com o festival chegando ao final, pude conferir ainda no palco Night Pro o show da banda brasileira de punk rock, Water Rats. Rápido e cheio de energia, os Rats conduziram um set com músicas de todos os seus discos, fazendo com que o público que aguentava estar até aquela hora no festival agitasse junto com a banda e ensaiasse algumas rodas punks para voltar para casa com algumas memórias corporais evidentes.
Após o show era hora de dizer adeus ao Parc Del Forum. Caminhando em direção a saída, com o sol nascendo no mediterrâneo, cruzo o palco Ray Ban, onde DJ coco fazia o encerramento dos palcos oficiais com umas 200 pessoas em cima do palco e tocando um set totalmente random com direito a NOFX e Pennywise (wtf?) e um final ao som de “Heroes” de David Bowie resumiam muito bem o que foram esses 4 dias de Primavera Sound, uma experiência musical linda e intensa, com todos os tipos de música, pessoas e cabeças, como todo grande festival deve ser. Yes, we can be heroes just for one day.