Desde terça-feira, a Matilha Cultural está exibindo a Get Shot, uma exposição que retrata parte da história do movimento punk ao redor do mundo. Nela, mais de 100 fotografias ajudam a resumir a evolução do gênero, sobretudo nos Estados Unidos, e como ele se desmembrou ao redor do planeta. Tudo isso através das lentes do uruguaio Martin Sorrondeguy, uma das figuras mais atuantes do cenário independente nas últimas três décadas.
“A exposição é uma documentação histórica do que aconteceu no movimento underground nos últimos tempos. Há fotos de lugares importantes para o gênero e, principalmente, retratos das bandas que construíram essa história, tanto no Japão como na Europa e nos Estados Unidos”, contou Sorrondeguy à Noize na manhã do dia que a Get Shot foi inaugurada.
A vida de Martin está entrelaçada com a história do punk rock. Ele nasceu no Uruguai, mas foi morar com a família em Chicago, onde onde começou a se envolver com a cena punk e hardcore nos anos 80. “O punk rock e tudo o que veio depois, com o nome “movimento alternativo”, é fruto daquilo que os jovens norte-americanos criaram por lá, muitos anos atrás, como forma de protesto ao establishment. Ter crescido nos Estados Unidos foi muito bom justamente por isso, por poder absorver tudo tão perto da minha casa”, revelou o uruguaio.
E foi acompanhando os mais diferentes shows que ele acabou descobrindo uma nova paixão: a fotografia. Não demorou muito para que ele começasse a registrar as apresentações de bandas de amigos e outros eventos relacionados ao movimento underground, em diversas partes do mundo.
Nos anos 90, Martin Sorrondeguy também conquistou certa notoriedade com os seus projetos musicais. Ele foi o fundador da banda Los Crudos, nome de referência do hardcore que prega a cultura do “do it yourself”. E foi também o vocalista do Limp Wrist, uma das principais bandas do gênero conhecido como queercore, de temática GLS e com letras a favor dos homossexuais – e contra qualquer tipo de preconceito.
Essa diversidade de subgêneros é uma das características mais complexas do punk rock que Martin Sorrondeguy tenta explicar na exposição Get Shot. “Eu gosto muito dessa variedade. Mas, mesmo assim, acho que existe muitas coisas em comum. Quando estamos falando de underground ou de punk rock, precisamos reparar que tudo isso possui um denominador comum, todos vieram do mesmo lugar. A ligação com as próprias origens é o que do movimento underground esta coisa tão legal”, considerou.
Para quem não sabe, a exposição Get Shot é um resumo do livro homônimo que Martin lançou em setembro de 2012 com as fotos que, segundo ele, “melhor representam a cena underground no mundo nesses últimos 30 anos”. Lançado pelo selo punk Make a Mess, o livro é composto por 250 páginas e quase mil imagens, de todas as vertentes do cenário punk. E conta também com fotografias de grandes ícones do movimento, como Fugazi, Operation Ivy e Dopredead.
O bacana é que o projeto não deve se encerrar por aqui. “Estou falando com um amigo de Buenos Aires que quer editar uma nova edição do livro”, adiantou Martin. “Tenho a sensação que essa exposição é algo que sempre estará viva, já que nunca deixarão de existir jovens interessados nesse tipo de música, trazendo uma energia nova ao estilo”, completou.
E se o movimento punk rock tem essa capacidade de se renovar, quais seriam as novas bandas que Martin Sorrondeguy recomendaria? “São várias as que agradam. Mas se eu tiver que destacar alguém, certamene seria o Los Valientes, da Argentina, e o Futuro, que é de São Paulo. Sei que cada banda tem o seu jeito de compor e de tocar, mas essas duas possuem uma energia diferente, algo muito bacana que eu já senti na primeira vez que eu ouvi”.
Los Valientes – “Adelanto 2012”
Futuro – “Mãos Atadas”
Exposição Get Shot
De 9 de abril a 12 de maio, na Matilha Cultural
Rua Rego Freitas, 542, São Paulo (SP)
Horário de funcionamento: de terça a domingo, das 12h às 20h. E sábados, das 14h às 20h.
Entrada gratuita
(Fotos: Martin Sorrondeguy)