Fotos: Ariel Fagundes
Em frente ao Opinião, matando tempo antes do festival começar, vejo um rosto conhecido passar apressado com um disco de vinil embaixo do braço e entrar pela portas dos fundos da casa de shows. Algo me disse que se Wander Wildner iria subir no palco é porque a noite iria ser boa para o rock.
O El Mapa de Todos foi da cumbia eletrônica do Bomba Estereo ao La Cumbia Negra de Guri Assis Brasil, Gabriel Guedes e outros instrumentistas, entre eles, sentadão, o produtor Miranda na percussão. O grupo de visual caribenho mostrou o lado negro e pesado do ritmo colombiano a um público um pouco maior do que havia chegado no mesmo horário no dia anterior.
Talvez o fato da trupe contar com mestres como o ex-integrante de uma das melhores bandas instrumentais do Brasil e o guitarrista do Pública e, atualmente, dono de uma carreira solo promissora, tivesse incentivado o público a chegar mais cedo. Eles aqueceram o público com um set-list que incluiu uma versão cumbia do Pata de Elefante e Guri Assis Brasil finalizando o show na guitarra solada.
Um das maiores revelações de Pernambuco, Juvenil Silva trouxe o rock setentista e de sintetizadores, com um quê de Raul Seixas em sua voz, ao El Mapa. No repertório, tanto faixas de Desapego (2013) como de Super Qualquer no Meio de Lugar Nenhum, disco que estreou em outubro desse ano.
Juvenil serviu o público com acordes despojados como o de “Dia de Folga”, “Eu Vou Tirar Você”, “Desapego” e “Se Ela Nunca…”. Dando início aos convidados especiais, o músico chamou ao palco aquele rosto conhecido que vi entrar pela porta dos fundos no início da noite. Como já haviam feito em outras ocasiões, Wander Wildner se juntou a Juvenil Silva para uma versão de “Eu Não Consigo Ser Alegre O Tempo Inteiro”.
A segunda participação da noite foi um dos pontos altos do show de Andrés Correa & Banda, mesmo colombiano que abriu o El Mapa na terça-feira. Elogiado pela crítica e público, Ian Ramil subiu ao palco para entoar uma canção arrastada. Andrés Correa continuou o show percorrendo seu quinto álbum, Aurora (2014) e, audaciosamente, encerrou a apresentação com uma bossa nova. Quem assistiu ao show também foram os caras do Boogarins e Frank Jorge, que tocam na Casa de Cultura Mário Quintana (CCMQ) hoje.
Fernando Rosa nos trouxe do Chile o tesouro chamado Camila Moreno. Espontânea, talentosa e orgânica, ela hipnotizou o público com um show inesperado que passou por diversos instrumentos, da guitarra ao looping eletrônico. Camila Moreno tomou cada canto do palco como um animal selvagem e ávido pelo barulho.
Constantemente preocupada com o volume de sua voz, ela pediu um “Parabéns Pra Você” do público, em espanhol, para o baixista que estava de aniversário. O show passou por canções mais calmas também, mas que vinham das entranhas de Camila Moreno, principalmente quando ela retornou ao palco no final do show, sozinha com sua guitarra, para cantar sobre o veneno de certos olhos azuis na faixa “Ojos Azules”, do disco Panal (2012). A energia que a cantora emanava do palco era tanta que o público não resistiu aos seus gritos desesperados.
A passagem ansiosa de pessoas pra lá e pra cá piorou com a demora da última troca de palco. Mas os fãs do Mundo Livre S/A aguardaram esperançosos um show que lavou a alma de todos. Liderados por Fred Zero Quatro, os discípulos do manguebeat honraram o manifesto de 20 anos atrás. E foi uma aula de manguebeat com os maiores representantes ao lado do Nação Zumbi. Teve Samba Esquema Noise (1994), em homenagem à grande inspiração do manguebeat Jorge Ben – em alusão ao disco Samba Esquema Novo (1963) -, com essenciais como “Manguebit”, “Uma Mulher com W… Maiúsculo” e “O Rapaz do B… Preto”, dedicada com as palmas do público ao povo nordestino. Mas o Mundo Livre também não deixou de fora faixas dos álbuns Guentando a Ôia (1996), Por Pouco (2000) e o peso dos parceiros do Nação Zumbi.
Cumbia e melancolia colombiana, rock orgânico, movimento de contracultura nordestino. Todos os que se apresentaram nesta sexta-feira compravaram a riqueza da nossa musicalidade, ainda mais quando integrada e misturada. Hoje foi o último dia de El Mapa de Todos, e você confere na segunda-feira a resenha do que aconteceu na CCMQ, em Porto Alegre.