Sou muito fã do The Walkmen, banda americana que até o ano passado fez uma cruza de indie com post rock que me emocionava deveras. Não com as estéticas consagradas desses dois estilos, mas propondo peso, ousadia, desapego e melancolia de sobra pra amalgamar os dois estilos. Nem Modest Mouse, nem God is an Astronaut, mas simplesmente The Walkmen, o que por mais de dez anos foi suficiente para criar na imaginação dos que já os conheciam um cenário e tanto.
E agora que o The Walkmen acabou, os primeiros projetos solo de seus integrantes começam a sair e eu, como fã, vou me inteirando de todos eles à medida que chegam à frutífera biosfera da internet. Comecei a dar atenção aos singles de Black Hour, o disco solo de Hamilton Leithauser que sai agora no início de junho, mas que foi posto hoje para audição na NPR, e me decepcionei bastante com a estética das músicas. Pareciam festivas, sexies e agitadinhas como o próprio The Walkmen nunca soou. Dei um pouco de crédito pelo fato de que singles nunca mostram o que os artistas que se dedicam a obras completas realmente estão preparando. São sempre um trailer mal feito de uma obra que vai levar todos os Oscars do ano.
E pode ser que Black Hour nem leve todas estatuetas, do Oscar ou do Grammy, mas é impossível não notar o talento e a disposição de Hamilton de fazer um trabalho incrível, impecável, sentimental, à flor da pele… São alguns refrões, apenas, espalhados entre as músicas. As canções, cheias de instrumentos distantes do The Walkmen (escuta-se banjos, marimbas, violoncelos, violinos e outros) fazem uma cama onde a voz de Leithauser pode se esticar como um gato novo e preguiçoso. E é bonito vê-lo fazendo isso, deixando sua voz-bichano ronronar raivosa, mas suave. Segue-se escutando canções de amor, inadequação, busca do caminho certo, certeza das decisões e peito aberto para o futuro, como na época da banda que deu fama ao vocalista.
Com participações de Richard Swift, Rostam Batmanglij (Vampire Weekend) e Paul Maroon (também ex-The Walkmen), Black Hours vale a audição via streaming, vale a sincronização no celular, a compra das MP3 na loja online do artista e ser cantado do início ao fim de um passeio de bicicleta ou como trilha de um piquenique numa praça legal. Com amigos, amores ou sozinho, a voz que tanto acalentou segue disposta a carinhar.
Bom pra gente.