Eram quase 22h quando cheguei na frente do Opinião quarta-feira e me deparei com uma pequena multidão de argentinos. Os hermanos estavam mandando ver na euforia, cantando, pulando e gritando pela banda convidada da noite com uma intensidade louvável. Levando em conta a legião de fãs que seguiu os Las Pastillas Del Abuelo até Porto Alegre (e ficou na frente da casa de shows desde as 13h) , imaginei que aquele devia mesmo ser um evento imperdível.
De certa forma, foi. No palco, aqueles sete músicos portenhos ofereceram ao público o que ele pedia: um rock latino clássico, aquela mistura de referências que a gente já conhece, muita simpatia e presença de palco – sem contar as empreitadas aventureiras do vocalista Piti Fernandez, que se jogou na plateia diversas vezes, com a facilidade de quem se atira numa piscina de bolinhas.
Entretanto, a estrela naquele momento era mesmo a plateia. Do início ao fim do show, dava pra ver que aquela galera na frente do palco era composta principalmente por fãs devotos da banda (de maioria argentina), somados a alguns curiosos e simpatizantes. É possível resumir a cena em: corpos saltando incessantemente, meninas chorando enlouquecidas nos ombros dos caras, tirando a blusa, cantando apaixonadas, subindo no palco. Fernandez não apenas se jogou, mas foi puxado pro meio do público algumas vezes – e se entregou sem resistência.
Quando recebi a tarefa de cobrir esse show, não conhecia o trabalho da banda, mas isso ajudou a encarar com neutralidade o que estava por vir. A questão é que não saí muito da zona neutra com a performance da LPDA. Talvez tenha sido eu que simplesmente não consegui absorver o elemento que aqueles fãs frenéticos pareciam sentir com a música da banda. Mas, pessoalmente, não achei o som muito diferente do rock argentino que ouvi por aí. Felizmente, o comboio de hermanos eufóricos tornou a experiência mais marcante e quase humilhante pra plateia (muito mais tranquila) do reduto mais bairrista do Brasil: Porto Alegre.
Como eu disse, quase. Isso porque a noite não estava nem perto de terminar. Ainda tinha Bidê ou Balde pra rolar.
Existe uma coisa inexplicavelmente confortante em assistir à Bidê no Opinião. Sim, bairrismo total, mas é uma gaúcha falando aqui, né. Os devaneios do Carlinhos Carneiro (e sua invejável performance de rockstar) e a animação da Vivi Peçaibes. A malandragem de Rodrigo Pilla e Leandro Sá (guitarras), ao lado de Lucas Juswiak (baixo) e de Guilherme Schwertner (bateria). Tudo isso combinado às músicas que no Rio Grande do Sul tudo mundo ouve desde, sei lá, 2000: desculpa aí, resto do país, mas tem uma magia nisso.
Foi lindo ver todo mundo cantando “Melissa”, “Cores Bonitas” e “Me Deixa Desafinar” mais uma vez – até porque, como eles mesmos cantam em “Microondas”, “é sempre bom de recordar”. Antes de “Tudo Bem”, Carlinhos avisou que a faixa seria sobre o (fatídico) pé na bunda e pediu pra que levantasse a mão quem já tivesse dado um. Falou gentilmente “agora vocês vão ouvir o meu…” e surpreendeu com um xingamento que eu prefiro não repetir aqui, mas garanto que fez todo mundo gargalhar.
Teve também uma música nova, “Fazer Tudo A Pé”, que vai estar no próximo disco e ganhou clipe faz pouco. Ainda que fosse novidade, o coro não enfraqueceu. Quando Piti Fernandez fez uma visita ao palco, o clima de bagunça do show anterior ressurgiu e todo mundo curtiu o furdunço. A cena mudou e ficou totalmente romântica quando a incansável “Mesmo Que Mude” invadiu as caixas de som. Justíssimo.
Um show da Bidê ou Balde é digno de fazer um público mais discreto soltar o gogó, dançar e perder a timidez, ainda mais com o estímulo de uma banda tão cheia de simpatia. Ainda bem, já que assim a reação da plateia nacional ficou um pouquinho mais perto da euforia portenha. Podemos até pular menos, mas não temos a nosso favor o direito de desafinar.