Na NOIZE 27 você confere um ensaio de moda e uma entrevista bacanuda com os caras da Rock Rocket. Aqui, segue a íntegra desse bate-papo, que rolou durante a última passagem dos caras por Porto Alegre.
Foi o Alan, vocalista e baterista da Rock Rocket, que veio com essa quando perguntei se foi por a grama europeia ser mais verde que eles lançaram seu novo compacto primeiro no Velho Mundo: “Na verdade não é, mas a gente foi buscar lá fora o que não tem no Brasil: uma rádio que toque bandas fora dos padrões impostos pelas grandes gravadoras (independente de serem brasileiras ou não)”. Eu não tenho uma banda com sete anos de estrada, muito menos uma que toque rock sujo, pouco comercial como o punk tem que ser. Então resolvi deixar a Rock Rocket – que também tem Noel na guitarra e Jun no baixo – continuar falando, em vez de eu meter o bedelho no momento que é todo deles. Falem mais, garotos, contem sobre esse lance de não seguir os padrões impostos pelas majors…
Alan: É o caso da Radio FRO, na Áustria, onde rola o programa Rumble. Esse programa tem duração de duas horas e está há mais de 10 anos no ar, sempre focando o garage punk. Sem querer ser descrente, mas acho impossível que algo do genero possa durar tanto tempo no Brasil, ou mesmo existir. Por mais que o Rock Rocket, o Autoramas e o Astronauta Pinguim estejam na programação. Mas tembém o Brasil gera várias outras oportunidades que outros países não geram. Seria injusto dizer que lá é melhor que aqui por causa de um programa de rádio, por mais vergonhosa que seja a indústria do jabá brasileiro. O nosso compacto chegou em Londres antes do Brasil, sim, mas isso também se deve a um fator simples: a fábrica de vinil é na Europa. Quando acertamos de lançar o compacto pela VinylLand, a Polysom ainda não tinha previsões para voltar as atividades. Então por que não juntar o útil ao agradável e lançar uma edição UK/BR? Assim metade das cópias vão ficar por lá e metade virão para o Brasil, mais precisamente dia 12 de setembro! E o papo do media player, bom, o Rock Rocket tá na pagina gringa mas tá na brasileira tambem.
Jun: A cultura musical lá é outra pegada, outro patamar…os meios de divulgação são mais antenados com novidades, lá existe muito mais respeito com o artista, seja ele independente ou mainstream…o vinil nunca acabou por lá…pra mim será um prazer ver a bolachinha do Rock
Rocket rodando na minha vitrola dos anos 80 ….sou muito fã de velhos e empoeirados vinis…
.: Aliás, esse compacto é mesmo em vinil, certo? E qual a relação de vocês com os bolachões?
alan: Eu sou colecionador de vinil, sempre foi meu sonho lançar uma bolachinha ou um bolachão. Fora isso, também sou responsável pelo Clube do Vinil SP. É um evento que rola no Bar Berlin, só com discotecagem em vinil, bandas, espaço pra venda e troca de disco etc. É bem bacana, e agora que a Polysom vai retomar as atividades eu estou com planos de transformar o Clube do Vinil SP em um selo.
Jun: Sou apreciador desde sempre, pra mim, nunca morreu. Conheço muitos amigos aqui da Zona Leste que pensam como eu, sempre trocamos idéias a respeito. Parece que hoje é meio “moda” falar de vinil, mas é realmente algo que voltou para ficar. Estamos realmente felizes de podermos lançar algo dessa importâcia por aqui.
.: O som de vocês é simples e direto, os clipes brincam com o terror trash e o lo-fi. Ser o cara da banda que lida com twitteres e fotologs enche o saco?
Alan: Sim.
Noel: Internet é um mal necessário que as bandas tem que saber usar hoje em dia, é meio chato, sim, ter que ficar atualizando as coisas, às vezes a gente até acaba demorando mais do que devia, porque ninguém da banda tem essa característica de ser interneteiro…
.: O Lado A da Rock Rocket é veloz e barulhento. Vocês têm um Lado B calmo e tropical, gostam de música assim?
Noel: Nunca pensei que a gente tivesse um som tropical, no máximo uma ou outra música com uma pegada mais surf music. De qualquer forma, sou mais chegado em som rápido e barulhento, coisa muito calma às vezes me dá tédio, mas sabe como é, tudo tem o seu momento.
Alan: É, eu não sei dizer se gosto mais de Novos Baianos ou de Restos de Nada.
Jun: É sempre bom poder transitar por lugares diferentes da música, novas referências… mas tudo isso sem perder a identidade da banda, é claro…
.: Qual seria a atitude menos rock ‘n’ roll que os membros da banda mantêm com frequência?
Noel: Nao sei, dizem que roqueiro não gosta de futebol, todo mundo aqui acompanha de perto. Vou sempre em jogo, e estou sempre bem “legal”.
Alan: Pensar no futuro.
Jun: Essa não saberia responder… minha mente é “música” 24 horas por dia… mas sendo aqui na Zona Leste, sempre colo no campo do Cruz Credo da Vila Formosa pra rever os trutas do futebol (risos)…
.: Hoje em dia, vocês acham mais legal lançar um álbum ou vários compactos?
Noel: Eu gosto dos dois, é da hora lançar compacto mas acho que continua sendo importante lançar disco cheio tb.
Alan: É muito mais difícil fazer um LP coeso do que um um compacto. Mas ao mesmo tempo o compacto tambem tem aquela coisa de ser um ponta pé inicial, então você guarda tudo o que você tem e tenta resumir em uma, duas, três músicas. E se isso der certo você parte pro LP, saca? Então não dá pra dizer que gosto mais de um ou de outro, cada um tem seu valor, um pela coesão e outro pela espontaneidade.
Jun: Por mim, só lançaria compactos, sempre com lados B de músicas inéditas, acho muito mais atraente, e isso instiga o fã a querer saber e ouvir os próximos passos da banda…
.: Por um Rock and Roll Mais Alcoolatra e Inconsequente foi indicado a melhor clipe indie no VMB de 2004. Quais foram as consequências disso pra Rock Rocket? E pro rock em geral, o cutucão serviu? Como vocês veem a cena hoje e como se veem nela hoje e daqui para a frente?
Noel: Foi através desse clipe que muita gente conheceu o Rock Rocket e começamos a tocar fora de São Paulo, além de ter nos incentivado a gravar um disco inteiro. Não acho que mudou alguma coisa no rock nacional, porque de lá pra cá, apesar da cena independente ter crescido,
as bandas só decaíram. As bandas que hoje em dia ocupam o espaço do rock na midia simplesmente não são de rock, isso é uma merda. a minha esperança é que seja uma modinha passageira. Paralelamente a isso a gente continua fazendo nosso trampo e conseguindo se virar sobrevivendo de pequenos golpes.
Jun : Realmente, parece que o cutucão não serviu (risos). É incrível como a cena de hoje degringolou pro que temos aí, um chochorô sem fim. Mas eu acredito que o Rock Rocket tem o que poucas bandas tem hoje em dia: o palco. Aí sim, você vê a reação dos fãs, a pegada da banda, e percebe que nem tudo está perdido. Isso te motiva a dar novos passos e seguir
“tocando nos buracos da vida”… sem maldade, hein? (risos) Sempre tem coisas novas acontecendo na música, cabe às pessoas irem atrás, e não ficarem esperando o que a grande mídia tenta fazer elas engolirem.
.: Se cada lugar por onde vocês passaram com a banda rendesse uma história, quais seriam os mais interessantes?
Noel: Bom, tem várias… A que me veio na cabeça agora foi a de um lugar onde, por motivos de desorganização da organização do show, não pudemos tocar. Tivemos que sair correndo carregando as coisas e entrar na van com ela em movimento, um cara que tava com a gente com o braço sangrando com umas tripas pra fora. foi meio bizarro.
Alan: Pode crer, foi no interior da Bahia, essa fita foi foda. Teve também o dia em que fomos tocar em Porto Alegre e eu acordei dois dias depois, tatuado, sem saber o que tava escrito.
Jun: Putz, sou novo na banda, mas já deu pra ver algumas coisas estranhas, muito estranhas hehehehe…Po, em Santa Maria, RS, tentaram arrancar meus tênis, meus bottons, minha camiseta rasgou, tudo isso em pleno palco, achei bizarro…
.: Quem são “Os Legais”?
Noel: Tem uma banda de Santa Catarina que chama “Os Legais”, tem umas pessoas que são legais e tem um monte de maconheiro solto por aí.