Tássia Reis conta como renasceu durante a criação de “Topo da Minha Cabeça”

17/09/2024

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Erick Bonder

Por: Erick Bonder

Fotos: José de Holanda/ Divulgação

17/09/2024

Topo da Minha Cabeça é o primeiro álbum de inéditas da cantora e compositora Tássia Reis em cinco anos. Propondo uma mistura de gêneros como o samba, o R&B, o jazz, o funk e o rap, o disco foi lançado no dia na segunda-feira, 9/9. Contando com participações de Criolo e Theodoro Nagô, o álbum de nove faixas possui produções de Kiko Dinucci, Barba Negra, EVEHIVE, Felipe Pizzu e Fejuca.



Tássia parte de uma tradição ancestral em diálogo com sonoridades contemporâneas. “A música brasileira é uma música preta. Essa condição precisa ser celebrada”, declara a artista em entrevista à NOIZE. Durante a conversa, a compositora revisitou as origens da sua formação musical: em primeiro momento, dentro de casa com a família, na escola de samba, e posteriormente, relatou suas vivências no rap nacional e na cultura hip hop no início dos anos 2000.

Em busca de liberdade criativa, Topo da Minha Cabeça reafirma Tássia como artista da canção, em suas diversas manifestações. A cantora traz temas pessoais nas letras que propõem um mergulho dentro de si, em um processo de autoconhecimento e construção de autoestima.

Abaixo, leia nossa entrevista completa com Tássia Reis: 

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Quais são suas expectativas com o novo trabalho?

A expectativa está alta. Eu estou muito feliz, muito satisfeita com o que a gente conseguiu, onde a gente chegou musicalmente. É um álbum que eu queria muito fazer. É fruto das minhas vivências, uma construção dos últimos anos, do que venho estudando e absorvendo. Tem uma grande influência do samba, assim como meu último single “Asfalto Selvagem”, mas também tem funk e R&B. É um disco bem meu, com muitas influências que se misturam

Como foi a produção de Topo da Minha Cabeça? 

O nome do disco tem muito a ver com um exercício de presença, que é você estar com você mesma, da ponta do seu pé até o topo da sua cabeça. Não só se amar olhando no espelho, mas amar tudo o que faz parte da sua essência, da sua construção. Se aceitar, entender, colocar limites em você e nos outros. Resgatar o que faz a gente vibrar, o que faz a gente se sentir vivo, o que faz a gente querer viver mais, querer entregar mais coisas. Então, é quase um resgate espiritual, mas é um resgate pessoal, no dia a dia, não em um lugar distante. Às vezes, quando falamos de espiritualidade, parece que é algo distante. Mas é um exercício diário, quero normalizar esse resgate no nosso cotidiano.


O álbum está sendo preparado há cinco anos. O que você viveu nesse período e como isso foi somado na construção do disco?

Esse álbum representa um renascimento. No ano passado, vivi uma situação de quase morte, então eu renasci. Estou bem agora, 100%, e em breve vou contar melhor essa história. Mas acho que, depois disso, comecei a absorver tudo de uma forma diferente. Inclusive, era pra eu ter lançado o disco antes, mas obviamente não rolou porque precisei me recuperar. Fico grata por não ter lançado antes, porque só fui entender algumas coisas depois que elas passaram. Então, esse disco pegou a reta final, está saindo do forno, mas é uma construção de muito tempo, que eu só consegui entender e compreender no ano passado. Às vezes a gente vive muita coisa, e muita coisa faz a gente se transformar. 

Como a parte visual se conecta com o conceito do álbum? 

Estou muito feliz também com a identidade visual. A direção criativa é do Leandro Assis, que é um dos maiores artistas do Brasil e do mundo. Ele é respeitadíssimo e o que ele entrega é “uau”. Estamos construindo isso juntos, é a primeira vez que eu conto com uma pessoa de fora fazendo essa direção. A conexão que eu estou tendo com ele tá sendo incrível. Acho que a gente conseguiu ilustrar o que o álbum é. 


As músicas trazem samba, R&B, soul, hip hop. Esse diálogo entre influências é algo característico no seu trabalho. Mas ao mesmo tempo, são influências que vem de um lugar em comum. Como você enxerga isso?

Olha, talvez por eu ter sido adolescente nos anos 2000, e por ter uma família que gosta muito de música, fui bombardeada por várias influências sonoras diferentes — visuais também, mas especialmente sonoras. Então, tem o samba, que vem da família, da escola de samba que eu frequentei na adolescência. Meus pais se conheceram no ensaio de uma escola de samba, foi ali que surgiu o romance deles. Sempre ouvi muita música em casa — MPB, soul brasileiro, soul gringo, funk. Esse soul e funk que, no Brasil, antigamente chamavam de balanço. O samba groove que a gente escuta em “As Folhas Selvagens”, é algo meio Black Rio. É essa mistura brasileira, da nossa sonoridade, com influências de fora. E acho que, vindo dos anos 2000, fui bombardeada pelo rap nacional, pela vanguarda norte americana, com aquele R&B e rap que já viraram clássicos. Sempre fui influenciada por várias coisas ao mesmo tempo e nunca consegui separar essas influências. Sempre associei uma coisa à outra. Quem ia no pagode, ouvia black no intervalo, lá nos anos 2000 era normal ter rolê assim. Assim como hoje tem o pagofunk. Você vai no pagode e, no intervalo, toca funk. Essas misturas estão cada vez mais presentes na sonoridade atual. Tudo se mistura. O trap já se misturou com o reggae e por aí vai.

Você acha que essa característica foi se acentuando ao longo da sua carreira?

Talvez o que eu não entendesse, mas entendo agora, é que isso sempre esteve comigo, desde o meu primeiro EP [Tássia Reis (2014)]. Talvez por vir do hip hop, por ser dançarina, por ter essa bagagem, eu pensava: “Ah, eu só faço rap”. Mas o meu primeiro EP já não era rap puro, já estava em outra esfera. Quando fiz Próspera (2019), acho que já tinha um pouco mais de consciência disso, então a sonoridade que eu apresentava já tinha essa mistura. Pop não é necessariamente um gênero sonoro, é a possibilidade de se apresentar a mais públicos. Não tem a ver com estar no topo do streaming ou não.


Como a maturidade trouxe essa perspectiva em relação a essas características da sua música?

Minhas escolhas sempre foram influenciadas pela minha vivência, que é bem múltipla. Eu raramente fiz uma coisa só, sempre fiz várias coisas ao mesmo tempo. E acho que, com o tempo, perdi o medo de falar isso. Talvez, no começo, eu sentisse uma pressão do meio do hip hop: “Você não é pop, você é MC”. Mas acho que sou sim, e também sou uma ótima MC, se precisar. Entender que posso beber de várias influências é o que me liberta cada vez mais para fazer música. Não me sinto presa a ter que corresponder a um gênero musical. Posso fazer o que aquela música específica me pede. Esse é o exercício que eu mais gosto de fazer, inclusive no processo criativo de um disco.

Como foi desenvolver a abordagem fluída do Topo da Minha Cabeça? 

Começo a ouvir uma música na minha cabeça, começo a criar e escrever, aí percebo que é um samba. Quando escrevo, já começo a visualizar como ela vai ser produzida. Aí trago um produtor que tenha a própria visão, agrego minhas ideias e ele acrescenta outras. Acho que é esse movimento de deixar a música ser o que ela quer ser. Meu trabalho é tentar não atrapalhar e deixar a música ganhar vida. Sei que pode parecer romântico, mas acho que esse é o processo mais genuíno de criação musical. As músicas desse disco estão sendo o que elas querem ser. Acho que essa é a costura da minha carreira. Um dia, talvez eu faça algo focado em uma única coisa, porque estou com vontade. Mas a natureza da minha criação é deixar as coisas fluírem.


Esse novo momento da sua carreira está sendo super esperado. Quais são os planos daqui pra frente?

Em relação à turnê, estamos com algumas datas para liberar, vou anunciar em breve por onde vamos passar. Fiquei um tempo sem lançar nada, então acho que é natural essa expectativa e eu fico feliz com isso. Sobre os desdobramentos audiovisuais, vou deixar as coisas serem o que elas querem ser primeiro. Acho que, antes de tudo, quero que as pessoas ouçam e absorvam as músicas. A gente está em um momento de transição de mídias, onde o videoclipe já não tem o mesmo peso que tinha antes. Então, ainda estou decidindo o que vou fazer. Talvez faça um filme, algo assim. Tenho coisas para compartilhar do processo do disco e isso vai acontecer, mas estou indo por partes. Primeiro, quero que as pessoas ouçam a música, se conectem e entendam. Para isso, trouxe uma identidade visual marcante, porque acho que isso ajuda as pessoas a mergulharem no universo que estamos propondo, musicalmente. Eu amo o audiovisual, sou completamente a favor, mas a realidade do audiovisual é cara. Mas o que planejamos em termos de conteúdo está dando conta do recado, ajudando a completar o imaginário e as lacunas que surgirem, se necessário, em relação ao disco.


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17/09/2024

Erick Bonder

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