Se foi o toque dela ou o Toque Dela que causou a mudança, não se sabe. Talvez tanto a relação amorosa quanto o recém-lançado disco façam parte de um novo momento na vida/carreira de Marcelo Camelo: de felicidade e encontro consigo mesmo. E isso transparece na descontração que ele demonstrou na primeira passagem da turnê por Porto Alegre, na quinta-feira, 12, com excelente abertura dos gaúchos do Apanhador Só.
Pena que nem todo mundo acompanhe a batida. Na tentativa de movimentar o público, ocupadíssimo em cantar todas as músicas e louvar o Senhor Camelo, Deus Hermano ainda tentou provocar: “Show em pé é pra dançar, vamos pegar um no outro e chacoalhar o cabelo”. Mas nem “Menina Bordada”, uma das faixas mais animadas e propícias para o chacoalho, foi capaz de demover a legião de fãs de sua rotina padrão: cantar, ovacionar, admirar, derreter. E voltar a cantar, mais alto do que o próprio Marcelo, inclusive as músicas novas. Claro que não com o mesmo desespero a mesma intensidade que cantam “Morena” e “A Outra”, canções do Los Hermanos que ganharam novos e bonitos arranjos.
E aí, o Camelo dançarino e desinibido começa a demonstrar algo que até se aproxima de um desconforto. Tudo isso acontece paralelamente a um setlist muitíssimo bem executado por ele, um trio de metais que inclui Bubu (que tocava no Los Hermanos) e a Hurtmold, que aparenta a mesma alegria, como se de repente arranjar a obra de Camelo se tornasse mais divertido que ter uma banda instrumental. O deslumbre do público culmina na execução de “Santa Chuva” – que pareceu não estar prevista. “Eu toco essa então, não precisa falar palavrão”. Troca a guitarra pelo violão e anima os últimos momentos da noite, que acabou com “Pois É”, porque mesmo as sessões descarrego têm de ter fim.