“Uma criatura viaja pra fora do planeta terra após passar férias por aqui. Antes de sair da terra, ela teve uma noite de amor na Jamaica. Então ela saiu do planeta terra e teve que fazer uma manobra no tempo em Urano para chegar na velocidade da luz e viajar de volta pra casa. Depois dessa viagem, acabou encontrando uma danceteria interestelar, onde ela curtiu o Baile B. Louca, saiu do baile B e encontrou um fenômeno raro da natureza que é o elefante nuvem que a conduziu de volta ao planeta terra, mais precisamente no Brasil, onde ela vive cada dia um novo amor”.
Louco, né? Pois foi assim que o João Pedro Cé – guitarrista e produtor executivo – da Trabalhos Espaciais Manuais (TEM) me resumiu o disco de estreia da banda, T.E.M. ‘18. Fruto de um esforço conjunto do grupo com sua base de fãs, o trabalho foi lançado no mês passado em show – com ingressos esgotados – e, hoje, chega a todas plataformas digitais. O disco é um caldeirão referenciado à brasileira. Rock, reggae, dub, progressivo, experimental, fruto da reunião das dez cabeças da TEM (ouça abaixo).
Para alcançar a meta, 368 colaborações foram realizadas. “O processo do financiamento coletivo foi importante pra solidificar a relação da banda com o público”, conta João. T.E.M’ 18 chega tirando a banda de um limbo que muitas bandas independentes amargam: o de não ter um registro à altura do trabalho realizado ao vivo. Gravado em setembro de 2017 nos estúdios Mubemol e 12 Experiência Sonora, o disco tem produção de Marcelo Fruet com colaboração de Átila Viana e Daniel Roitman. A TEM assina a co-produção junto com Gilberto Ribeiro Junior e Sérgio Soffiatti e o álbum conta ainda com a participação dos trombonistas Bruno Roldo Rudger e José Milton Vieira.
Forjada nas apresentações ao vivo, a TEM entrega um trabalho maduro, fruto da parceria entre a banda e o produtor Marcelo Fruet. “Contar com o Fruet foi bom porque ele também estava preocupado em trabalhar conceitualmente o desenvolvimento da obra, que nesse caso foi trazer pro disco uma sonoridade que dialoga com o que nós fazemos no baile-show”, explica João.
Lembro de chegar para ver um show da TEM há dois anos atrás. Era um festival pequeno, em que um amigo trabalhava na realização. Tudo pronto, banda preparada para subir ao palco, eis que encontro este amigo que me diz: “Essa banda é demais. Fiz todo esforço para contar com eles, afinal não se sabe até quando estarão juntos”. Fiquei com um certo ranço sobre a colocação feita pelo amigo, afinal, por que uma banda que vinha ganhando espaço e conquistando público tenderia a se separar? Bem, de fato conciliar o tempo de dez pessoas não é fácil e passados estes dois anos, a demonstração de força faz com que o trabalho se mantenha e se renove.
Lidar com o tempo foi um dos maiores trabalhos nesse processo, desde o início da campanha de financiamento coletivo até o lançamento do disco agora. Primeiro, a banda optou gravar com um produtor baseado em São Paulo. Sérgio Sofiatti, músico e produtor da Orquestra Brasileira de Música Jamaicana é o responsável pelo primeiro single do trabalho, “Cada Dia Um Novo Amor”.
Essa música marca o início do processo de formação de T.E.M. ‘18. Ainda com o trombonista Felipe Mantovani na formação do grupo, a faixa foi registrada em junho de 2017 e lançada em julho com o início da campanha de financiamento coletivo. Tudo foi bem, meta alcançada, apenas com o agravante do trombonista ter tomado um caminho diferente.
Eis que, em seguida, uma notícia viria pôr a prova novamente a unidade da banda. O saxofonista Rafael Druzian fora aprovado pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, em Portugal e anunciou sua partida do grupo. Uma corrida foi criada a fim de contar com o saxofonista no registro do disco. Figura importante, responsável (junto ao baterista Gabriel Sacks) pela identidade visual da banda, além de gravar o disco, Druzian assina a capa de T.E.M.’18.
O tempo não dá trégua e, ao consultar Sérgio Soffiatti, ficou claro que ele não teria disponibilidade de fechar o álbum. Então, a banda foi atrás de um produtor capaz de abraçar um trabalho em meio ao processo de pré-produção e assim foi feito: Marcelo Fruet assumiu o comando da nave. “Facilitou que o Fruet nos conhecia, frequentava os shows, gostava do som da banda e, por contar com o auxílio do Átila [Viana] e do Daniel [Roitman], teve capacidade de assumir a bronca em meio ao processo de registro da Dingo Bells [também produzido por Fruet]” conta João, que acompanhou toda mixagem e masterização in loco no estúdio.
Gravado o disco, o ponteiro do tempo agora apontava para Austrália, para onde seguiu o baixista Ettore Sanfelice dias após o lançamento em abril. “Não cogitamos lançar o disco sem o Ettore. Membro por três anos, período em que a gente mais cresceu e firmou essa base de fãs responsável por viabilizar o disco. Se ele não estivesse na banda, nós não teríamos essa sonoridade registrada no disco”, explica João.
Nesse meio tempo, houve ainda a integração de Cleomenes Júnior e Pietro Duarte, que se integraram ao naipe de sopros do grupo. O novo baixista, Mateus Albornoz, apresentado na noite de lançamento do disco, entrou na banda mês antes. É ele quem assume os graves na circulação T.E.M.’18 Sul, que inicia hoje em Porto Alegre. A tour abre uma nova fase para TEM que investe na expansão pelo país. “Ao mesmo tempo em que a gente trabalha a circulação desse trabalho, estamos preparando material para o próximo. Seguimos a mesma fórmula de trazer para o show os novos temas e assim lapidá-los junto ao nosso público”, adianta João.
Acompanhe os próximos shows da banda abaixo: