Uma viagem à África e um enriquecimento musical tremendo. Sete anos depois da formação do Família Gangsters, os paulistanos Pedro Lobo, Marcos Mossi e Felipe Gomide tiveram a oportunidade de viajar à Moçambique com o apoio do Ministério da Cultura e saíram de lá com o EP África, amigos e a saudade de uma cultura que é muito maior e incrível do que eles imaginavam.
A imersão africana de cerca de um mês foi feita em setembro de 2012. Aos poucos, as músicas foram lançadas em 2013, mas só agora a banda conseguiu disponibilizar o EP completo, com capa e tudo, na iTunes Store por U$ 3,96. São quatro faixas com participações especiais que deixam o EP ainda mais representativo como um registro de um aprendizado e troca cultural. “Magumba Com Xima”, “Canto do Mar” e “Tsula Uya Gonda M’laio” foram gravadas na capital Maputo, onde a banda passou a maior parte do tempo. Apenas a canção “Leaders, Teachers and Priests” foi gravada no Brasil quando o músico africano Ras Haitrim estava por aqui. O resto do EP foi todo escrito e gravado em Moçambique e mixado no Brasil.
Ras Haitrim é apenas uma das participações africanas do EP. Como nos contou o baixista e vocalista Pedro Lobo, “assim que a gente pensou em Moçambique fomos conversar com um produtor que já tinha ido pra lá e através dele a gente conheceu a cena musical do país. Mais de Maputo, que é a capital, onde fica a cena mais forte. Mostraram um monte de artistas pra gente, falaram um pouco de cada um e a gente também pegou um produtor local de lá. Conversando com essa galera a gente acabou chegando nesses quatro, que nos achamos que eram bem diversificados: um rapper, um cara do reggae, uma mulher cantora e um cara da música tradicional.”
A letra de “Magumba Com Xima”, que conta com a contribuição do rapper Azagaia, é como se falasse da própria experiência da banda na África. “Investigue antes de julgar”, diz o refrão. Assim como nós vemos uma imagem distorcida do Brasil ser transmitida pelas novelas, também tendemos a criar nossos próprios pré-conceitos em relação a outros países. Se você pensa que música africana é só ritmo e batuque, saiba que existe muito além disso. “Tem aquele outro lado que a gente não espera que seja uma coisa tradicional da África. São coisas mais calmas, mais melódicas. Em Moçambique, tem um estilo que é a marrabenta que parece até um sertanejo meio antigão… coisas que a gente jamais esperava que tivessem lá a gente foi encontrar lá”, comentou Pedro.
Outra joia africana que o Família Gangsters traz no disco é o português encantador de Lenna Bahúle, preenchido pelo instrumental ska em “Canto do Mar”. O EP muda de clima levemente com a festiva “Tsula Uya Gonda M’laio”, cantada por Cheny Wa Gune em changana, um dos 21 dialetos de Moçambique. Pra finalizar o EP bem ao clima Família Gangsters, o homem do reggae Ras Haitrim canta junto com a banda “Leaders, Teachers and Priests” em uma música cheia de ritmo e guitarras praianas.
África é um registro completo de um mergulho em uma cultura até então estranha para a banda, mas que sempre foi fascinante. Entre as experiências da viagem, Pedro nos falou sobre uma visita, guiada pelo rapper Azagaia, ao Mafalala, um gueto moçambiquense. “Pra entrar em um bar, a gente chegou em uma viela, deu com a porta fechada, ele teve que esmurrar a porta. Veio um cara numa janelinha, olhou, e a gente entrou. Era um barzinho bem roots e só pela galera ver que a gente era do Brasil os caras piraram e mandaram a gente tocar um samba. Eaí, a gente ficou tocando um samba num bar com as portas fechadas, ninguém entra, ninguém sai. Foi uma experiência muito louca.”
O resultado dessa absorção da pura música africana você ouve no EP África, disponível na iTunes Store por U$ 3,96.