Saudades de uma aglomeração dançante, né? A música tem essa capacidade encantadora de ser visceral. Para além de influenciar em nosso humor, arejar nossos pensamentos e mexer com os nossos corações, nosso post de hoje se dedica àquelas batidas que fazem com que pés, braços, quadris e cabeças estejam instintivamente balançando no mesmo compasso.
No mundo em suspenso que estamos vivendo desde a propagação da transmissão do novo Coronavírus aqui no Brasil, não tem mais bloco, não tem mais show presencial, não tem mais festa. Mas, mesmo em quarentena, você não deve esquecer o quanto dançar pode lhe fazer bem. Por isso, a gente se adapta para não perder o passo, né? A equipe da revista NOIZE, material impresso que acompanha cada vinil que lançamos pelo NOIZE Record Club, foi convocada a indicar músicas para dançar em casa. Arrasta o sofá, solta o corpo e se joga!
Rafael Rocha, Diretor Criativo da NOIZE Media
Stevie Wonder – “Higher Ground”
Stevie Wonder é meu pastor e nada me faltará! Qualquer coisa da fase 72-78 do mestre não tem pra ninguém, é hit atrás de hit. E nessa pedrada do disco Innervisions (1973) não é diferente.
Caetano Veloso – “Odara”
Essa rola até uma lagriminha escorrendo no rosto. Caê é Caê, um dos nossos maiores gênios da música, não deixa ninguém parado com esse hit.
Ariel Fagundes, Editor da revista NOIZE e do noize.com.br
Gerson King Combo – “Uma Chance”
Mestre absoluto do funk nacional, Gerson King Combo merece o título de realeza que traz no nome. É difícil escolher só uma faixa do seu disco homônimo de 1977, mas “Uma Chance” é demais. É só dar play pra começar a sentir os ossos mexendo no ritmo do groove, recomendo muito!
Curtis Mayfield – “Move On Up”
Essa é daquelas tracks feitas pra melhorar seu dia. Desde a levada de bateria até os arranjos de instrumentos de sopro e o vocal agudinho, tudo parece que tudo foi feito pra empolgar a pessoa que está ouvindo. Qualquer lugar do mundo é uma pista de dança em potencial se estiver tocando esse som.
Brenda Vidal, Repórter da revista NOIZE e do noize.com.br
Jessie Ware – “What’s Your Pleasure?”
Eu sempre fui muito ativa: rodopiar pela sala de casa cantarolando e dançando é uma coisa que eu faço desde pequena. Sempre gostei dos movimento “feeling myself” em casa, mas a quarentena mostrou o quanto eu sinto falto de sair para dançar e, principalmente, o quanto inventar passos enquanto cozinho, busco água ou paro no espelho faz toda a diferença pra seguir com um astral bom, dentro do possível. Em algum lugar eu juro que deve existir uma lei que penaliza Jessie Ware por ter lançado o disco What’s Your Pleasure? em um ano pandêmico! Sério, é um absurdo não ter nenhuma memória de pista com alguma das tracks. O disco inteiro poderia estar aqui, mas destaco a irresistível faixa título. É tudo: disco vibes, vocais sussurrados e sensuais, letras de flertes provocativos e chiques. A dica para a imersão completa é ouvir a faixa acompanhada do “Dance Video”, que colo abaixo, com o coreógrafo e divindade na face da Terra Nicolas Huchard. É sensacional e fico em dúvida se o que eu mais desejaria era dançar como ele ou ficar tão bem quanto ele no vestido rosa que ele veste.
Paige – “BRASIL”
Descobri a Paige na quarentena, enquanto ouvia uma playlist brabíssima. Logo o seu vocal aveludado e o groove contemporâneo com ares de anos 80 fizeram eu mexer os ombrinhos. É uma canção cheia de charme, brilho e com várias linhas que dão uma performance com direito à lipsync (a famosa dublagem das Drags de RuPaul’s). E nada “sem conteúdo”, viu? Curiosamente, também é uma canção com um clipe sensacional e cheio de dança. Mas dá gatilho… ver criança, jovem e gente mais velha caminhando na quebrada, sem máscara, aglomeração de farra no mundo sem pandemia é algo que dá muita saudade. Acredito que “uma pretinha como ela”, como Paige diz na faixa, saiba ser luz da festa, o ritmo, a força, e tenha tudo para construir o futuro da nação que me contempla. Curta com o clipe! Ps: Também desejaria ficar tão deslumbrante em looks incríveis como a Paige!
Árthur Teixeira, Diretor de Arte da revista NOIZE e NOIZE Record Club
Chico da Tina – “Resort”
Chico da Tina, Francisco da Concertina (Concertina é um tipo de acordeão) é um trapper ficcional bem português de Portugal. O músico, em meio a manobras de skate e boas rimas com gírias locais, propõe uma reflexão sobre a crise de identidade da sua geração causada pela globalização em colisão com os costumes lusitanos. Seu som é ao mesmo tempo uma sátira e uma homenagem ao passado Minho (região portuguesa). Chico é como se fosse o sobrinho descolado do David Bruno, outro expoente da mistura hip hop e tradições portuguesas. Quem escuta esperando um clichê cômico português cantando trap se depara com um personagem muito mais complexo, que coexiste com o nosso mundo atual. Para quem só gosta de musica em inglês, ele dispara “És um americanizado, brow/Tu não pensas, não tem identidade”.
Seu Jorge e Almaz – “Pai João”
Estou a semanas cantarolando essa pela casa. Música composta por Tom da Bahia e originalmente lançada em 1968 pelo Trio Inema (que depois viria ser dupla Tom & Dito, compositores da música “A grande família” aquela da abertura da série haha). Tem também uma versão groovezão da mítica banda Tribo Massáhi naquele lendário disco deles de 71. Essa é a regravação de 2010 feita por Seu Jorge e o Trio Almaz: Lúcio Maia (Nação Zumbi), Pupillo (ex-Nação Zumbi e idealizador do Projeto Orquestra Frevo do Mundo) e Antonio Alves Pinto (o compositor de trilha dos seus filmes favoritos). Recentemente foi postada no Youtube uma session NPR Tiny Desk do Seu Jorge, também gravada em 2010, em que ele encerra sua participação com uma versão acústica dessa música que faz muito jus a esse tesouro nacional. No meu coração é 10/10.
Jaciel Kaule, Coodernador de Arte da NOIZE Media
FELIX ft TABU – “Foda-se”
Social e musicalmente, tava acompanhando mais de perto a cena eletrônica de Porto Alegre antes do isolamento. Nessa época, esse acompanhamento envolvia bastante presença e contato físico, é como já se disse né: no offline que o bicho pega. Mas desde quando começamos o isolamento, sigo vendo o que as pessoas e coletivos têm feito, tornou-se uma forma de construção e de linguagem ainda mais relevante. Acompanho bastante por lives, festas e, claro, pelos próprios releases que têm saído. E nessa de termos a classe artística tomando sufoco, é importante apoiar ainda mais. Pra cá, eu mando o som de dois produtores que acompanho e pago muito pau.
Sister Nancy – “BAM BAM”
Por outro lado, eu mando esse clássico que ouvi nesse último domingo (enquanto escrevo) e mais em já incontáveis outros dessa quarentena. Nesse último, debaixo do sol, com pé na grama, caixinha portátil e preguiceira: é um som que há tempos minha mulher instituiu como o som de domingo desde que estamos nessa. Virou o som que tem iniciado sempre um dia bom por aqui.