Se os elementos que compõem a dupla BOY fossem ingredientes, a receita pareceria um pouco improvável e talvez você nem tentasse executá-la. Ainda bem que o que as duas mulheres fazem é música e só preciso apertar play pra descobrir o som delas.
A dupla, composta pela vocalista suíça Valeska Steiner e pela baixista alemã Sonja Glass, está no Brasil para uma pequena tour. Elas lançaram WE WERE HERE, segundo álbum da carreira, no final de 2015 pela Grönland Records e, desde então, estão com a agenda lotada até metade de 2016. Ontem, elas se apresentaram em São Paulo e, amanhã, tocam no Palco MECA do Planeta Atlântida.
O som delicado e, digamos, atmosférico chamou atenção desde 2011, quando lançaram o disco de estreia, Mutual Friends, também pelo selo alemão Grönland. O álbum chegou nos EUA só em 2013, quando o single de estreia “Little Numbers” alcançou mais ouvidos e o estilo solar da dupla cativou o público. O fato de as duas serem de nacionalidades diferentes, escolherem cantar em inglês e atenderem pelo nome BOY também chamou atenção, suponho.
Essa semana, conversei com Valeksa, a vocalista, pra tentar descobrir o que rolou de legal na carreira delas até aqui e, é claro, o que elas estavam esperando nessa vinda ao nosso país tropical.
Além de falar sobre a vida na estrada, ela também me contou que tem escutado bastante Rodrigo Amarante – e ficou encantada quando contei sobre todas as bandas que ele já teve e que minha cachorrinha se chama Little Joy por causa de uma delas. Dá pra notar que o papo foi mega descontraído, né? Confira a entrevista na íntegra:
Primeiramente, que legal que vocês vêm pro Brasil! Vocês já estiveram aqui antes? Como rolou isso, de vocês virem tocar aqui?
Não, nunca. E estamos muito felizes por finalmente vir. Estamos muito empolgadas! Estou em casa fazendo as malas e quase não consigo acreditar que iremos pro Brasil. É realmente uma grande aventura pra nós.
É engraçado, já havíamos sido convidadas algumas vezes, mas sempre tinha algo. Foi em 2012, por aí. E nós torcíamos pra que em algum momento rolasse. E, na verdade, eu não sei como as pessoas nos conheciam, mas começamos a receber mensagens de fãs brasileiros na nossa página no Facebook, pedindo pra que fôssemos pra aí. Então, sempre houve algo sobre o Brasil e já era um lugar pra onde queríamos muito ir.
Que ótimo! É, vocês têm bastante fãs aqui no Brasil mesmo.
Sério?
Sim, sério.
Mesmo? Nossa, não acredito!
Eu andei olhando a agenda de vocês e notei que estão rolando shows desde o ano passado e a tour vai até o meio de 2016. É bastante coisa! Como tem sido a vida na estrada?
É, realmente é muita coisa! Mas o bom de ser músico é que a vida tem duas partes muito distintas. Primeiro tem a parte em que trabalhamos em cima de um álbum, quando realmente nos focamos em escrever e gravar, ficamos muito em casa e no estúdio. Depois de um tempo, sentimos mesmo vontade de começar a tocar e a fazer uma turnê. Agora estamos fazendo muitos shows e vai chegar um momento em que provavelmente vamos querer estar em casa, trabalhando em um novo disco. Então é ótimo poder viver esses dois momentos.
Suas músicas são muito delicadas e criam uma espécie de mood. Esse era um efeito que vocês estavam tentando criar quando começaram a compor?
Na verdade, a gente não tentou muito chegar em algum lugar específico. Tentamos mesmo só escrever e ver como soaria. E foi assim que saiu quando começamos a compor. Ficamos felizes se vemos que nossa música consegue transportar sentimentos, emoções, e se as pessoas conseguem se relacionar com as faixas. Acho que esse é o tipo de coisa que é muito difícil de planejar. Você tem muita sorte se consegue.
WE WERE HERE manteve o estilo de vocês, mas ao mesmo tempo soa novo, diferente. O que você acha que mudou desde Mutual Friends?
Foram quatro anos entre os dois e eu acho que, provavelmente, qualquer pessoa muda nesse tempo. A gente viu muita coisa nesse período. Fizemos uma tour, mas também pudemos ficar em casa de novo, convivemos com nossos amigos. Não posso dizer que mudamos completamente, mas houve um pouco de vida entre os dois [álbuns] e nós tentamos inserir isso nas músicas.
Tentamos experimentar com alguns novos instrumentos e sintetizamos eles. Essa deve ser uma das maiores características do álbum porque desenvolveu muitas das nossas ideias quanto a sonoridades e instrumentos. E isso foi bem empolgante porque tentamos coisas que não faríamos antes e acho que isso tem a ver com esse período que passou.
Não planejamos nada. Apenas decidimos que poderíamos tentar qualquer coisa, ao mesmo tempo em que não tentávamos soar completamente diferente. Nós ainda queríamos soar como BOY de alguma forma.
Não vou perguntar quais são as influências musicais de vocês, mas queria saber: o que você tem escutado? Algum som que você gostaria de recomendar?
Tem um artista que eu venho escutando muito – ouvi bastante no Natal, quando fui pra casa, na Suíça. Ele se chama Rodrigo Amarante. Não tenho certeza, mas acho que ele é brasileiro.
Sim! Ele é brasileiro!
É bem engraçado, porque tenho escutado bastante e realmente gostei muito da música dele. Me lembrou um pouco de Devendra Banhart, que eu também gosto muito, então foi um período bem relaxante e com a trilha certa.
Ah, também tenho aquelas bandas favoritas de todos os tempos, tipo Phoenix e Bon Iver. Gosto muito mesmo.