Logo cedo na noite de sexta-feira, o Centro Cultural Oscar Niemeyer já fervilhava com a expectativa pros shows que começariam em poucas horas. Todos os shows atrasaram uns 30 minutos, o que acabou deixando todo mundo meio perdido sobre quando começaria cada coisa. Isso acabou beneficiando o Barro, que reuniu bastante gente acompanhado por apenas baixo, bateria e muitos samples no palco Skol. A banda Raça trouxe todo o seu groove pro palco Spotify, seguida por Luziluzia. Os chilenos da Magaly Fields levantaram a galera no palco Slap e aí já era hora de ver a Ventre desbravando o palco Chilli Beans.
A baterista Larissa Conforto tirou um minuto do show para falar sobre violência contra a mulher – deixando bem claro que pro trio carioca, música é muito mais do que entretenimento. Fióti, The Baggios, E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, Sinara e Hierofante Púrpura também formavam a lista pesadíssima de atrações da quinta noite de Festival Bananada.
Quando a Scalene subiu no palco Skol, dava pra ver o quanto eles são adorados pelos fãs. A banda que ganhou o Grammy Latino por Melhor Disco de Rock juntamente com Ian Ramil no ano passado fez Goiânia inteira cantar alto seus sonhos, em uníssono. Até nas faixas mais calmas, como “Surreal”, o grupo não perdia o ritmo. O groove diferenciado de “Entrelaços” foi um dos momentos que mais me chamou atenção no show, com o rock tradicional do quinteto mostrando que pode trazer vários sentimentos diferentes no som.
Na sequência, foi a vez de Akua Naru enfeitiçar o palco Chilli Beans com a sua sonoridade única. Misturando jazz, hip hop, R&B e uma magia que é só dela, Akua não precisou de tradução simultânea para falar a língua do Bananada. Deu pra ver que a artista gosta muito dessa união de culturas quando ela declarou entre uma música outra: “A coisa mais importante que se pode dizer em qualquer língua é obrigada”. Num mar de apresentações que puxam mais pro conceitual, a rapper americana trouxe um respiro pro lineup simplesmente por interagir com o público da maneira mais direta possível, levantando todo mundo na base do grave, do calor e do carisma.
Céu aterrissou no palco Skol com toda a atmosfera do disco Tropix. Com um dos shows mais esperados do Bananada, a cantora chegou brilhando e abriu o setlist com “Rapsódia Brasilis”. As faixas mais contagiantes do álbum (como “Perfume do Invisível” e “Arrastar-Te-Ei”) e a antiguinha “Cangote” inebriaram mais ainda um público que já estava apaixonado há tempos.
O que aconteceu depois não pode nem ser chamado de show. Ainda não inventaram uma palavra pro que o BaianaSystem fez acontecer nesse festival. A catarse coletiva era tanta que era impossível não se deixar levar pela massa de gente formando rodas, pulando e dançando no ritmo da guitarra baiana. Não tem como enquadrar o som que o grupo faz em um estilo ou gênero, já que ele nasce tanto do ao vivo e da resposta do público.
A força do grave era tão grande que fez o peito de todas (e isso quer dizer literalmente todas) as pessoas que estavam ali tremer duma maneira que eu nunca senti antes na vida. O single “Invisível” foi dedicado aos operários da música, e a letra “Você já passou por mim/E nem olhou pra mim” nunca fez tanto sentido.
O chão balançava junto com o baixo e o improviso do Baiana – sinceramente, é difícil pensar que possa existir alguma apresentação que seja melhor do que a deles. Jaloo que me perdoe, mas depois daquele rolo compressor que passou por cima do Centro Cultural Oscar Niemeyer, era impossível assistir a qualquer outra coisa.