Antes de escolherem Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, a banda quase foi batizada de Música do Esquecimento. Alguns anos se passaram e o quarteto revisitou o nome para dar luz ao segundo disco, lançado em setembro. A irreverência da estreia ganha novos contornos no álbum, que mantém a veia roqueira, ao mesmo tempo que tensiona os limites do gênero.
Com o segundo trabalho no mundo, Sophia Chablau, Téo Serson, Vicente Tassara e Theo Ceccato caíram na estrada. No próximo sábado, 11/11, eles desembarcam em Porto Alegre, para tocarem no Festival Avante. Do line-up, estão ansiosos para assistir os shows de Tom Zé, Karina Buhr, Deize Tigrona e FBC.
A escalação para o evento vem em bom momento, pois nos últimos meses, o grupo vem aprimorando a apresentação ao vivo das novas músicas. Em setembro, se apresentaram no festival Coala, depois partiram para o Rio de Janeiro, onde abriram para o Bala Desejo no Circo Voador, e pouco tempo depois, encheram o Cine Joia, em São Paulo.
Assim como acontece no disco, que intercala momentos introspectivos com músicas enérgicas, os shows também apresentam essa dualidade. Segundo o baixista Téo Serson, os músicos ficaram receosos com a recepção das faixas menos agitadas, mas se surpreenderam com o acolhimento do público:
– “Como o primeiro disco é mais explosivo e eufórico, os shows tinham um clima catártico e agitado, que era muito divertido. O segundo disco, mesmo com seus hits explosivos, acaba indo para uma atmosfera mais intimista, experimental e melancólica. A gente esquece que tem muitas maneiras de emocionar as pessoas, e nem todas têm a ver com gritar e pular. Às vezes parar, ouvir e sentir pode ser tão ou mais forte”.
Outra mudança ao vivo foi a inclusão de composições cantadas por Vicente (“Embaraço Total”) e Theo (“Último Sexo”). “Ainda que a Sophia seja a grande voz da banda, essas músicas são essenciais para construir o mosaico sonoro e lírico do Música do Esquecimento, seja pela peculiaridade das canções que eles cantam, mas também pela proposta de ser um disco de banda, com contrastes e polifonias entre as diferentes vozes poéticas”, reflete o baixista.
A sonoridade do álbum, que está sendo lançado em vinil pelo selo Amigues do Vinil e Romaria Discos, foi lapidada ao lado de Vitor Araújo, que colaborou na produção musical. O artista era a peça que faltava no quebra-cabeça da Uma Enorme Perda de Tempo: “Era um sonho nosso pelo clima das composições e dos arranjos e pelo desejo de fazer um trabalho fonográfico mais aprofundado e minucioso”, conta Téo.
O primeiro conselho do pianista para o quarteto foi tentar não deixar as coisas mais complicadas do que elas precisam ser: “Seria um erro tentar complexificar demais, ainda que ele tenha criado arranjos complexos para cordas e outros instrumentos. Em algumas músicas, ele nos provocou a tentar arranjos e caminhos diferentes. Outras tiveram várias versões até o fonograma final, como ‘Embaraço Total'”.
Já o processo de mixagem e masterização foi capitaneado por Ana Frango Elétrico, produtore musical do primeiro disco da banda. Com as músicas finalizadas, elu somou na pós-produção: “Foi uma intervenção decisiva. Se por um lado, Ana não acompanhou as gravações, elu foi responsável por pensar o direcionamento sonoro do disco”.
O trabalho conta ainda com participação de Negro Leo em “Quem Vai Apagar a Luz”, além do piano de Araújo em “Time to say goodnight”. Cada momento do álbum conta um pedaço da história que o grupo quer transmitir, seja o humor de “Minha Mãe É Perfeita”, ao samba em clima de fim de noite na última faixa, “Deus Tesão”.
“Enxergamos a fluidez entre estilos musicais de uma forma orgânica, ela é o resultado das nossas referências musicais. Não como uma bricolage panorâmica, mas sim como um registro vivo de uma conversa, daquilo que trocamos enquanto amigos apaixonados por música”, pontua o baixista.
Concorrendo com “Segredo” na categoria Rock do Prêmio Multishow, eles enxergam o estilo como uma base, que deve ser sempre extrapolada: “As nossas referências mais diretas seriam o rock tropicalista dos Mutantes, o experimentalismo do Velvet Underground, a inspiração noventista do Sonic Youth, Yo La Tengo e Radiohead, e contemporâneos, como Ana Frango Elétrico e Negro Leo”.
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