Um dos personagens do manguebeat hoje é a voz que conduz o programa “Independência”, da Oi FM. China, ex-vocalista do Sheik Tosado, ex-VJ da MTV e eternamente músico, mostra em todas segundas, às 21h, os novíssimos sons que estão pipocando pelos cantos do Brasil.
Ninguém melhor do que o próprio China para nos contar como é fazer um programa só com música independente. Além disso, nessa entrevista ele deu um diagnóstico de como anda o cenário musical de bandas que vivem por conta própria. E adivinhe: vai muito bem, obrigado.
Como surgiu a ideia de criar esse programa?
Eu tinha acabado de sair da MTV, tava entrando na Band, e tinha vontade de fazer rádio só não sabia como. Aí me ligaram da Oi FM oferecendo a chance de fazer um programa de música independente onde eu poderia tocar o que eu quisesse. Isso foi essencial pra aceitar o convite. Eu rodo o Brasil inteiro, recebo discos de bandas de todos lugares, então nada melhor do que ter um programa pra mostrar toda essa rapaziada.
Deve ser difícil escolher que músicas entram em cada programa recebendo tanto material, como você faz isso?
Pô, eu recebo em média 50 músicas por dia. Pra mim, é massa porque eu fico mais inteligente conhecendo novas bandas. Mas, pra fazer o programa, realmente é uma luta ter que escolher quem entra, quem sai. Vou tentando dar espaço pra todo mundo. Um lance que eu gosto de fazer é, durante umas semanas, escolher alguns artistas pra tocar mais pra quem escuta o programa ficar com eles na cabeça. Não adianta eu só tocar um monte de bandas diferentes que vão passar batidas pela galera.
Como você faz para equilibrar artistas conhecidos com os que são completamente novos?
Tento misturar bastante. Por exemplo, Criolo e Emicida são caras da cena independente, então tenho que tocar Criolo, Emicida, Tulipa Ruiz. Mas também tem um monte de banda nova que precisa de espaço, então eu intercalo. Aí, se o cara clicou no site da Oi FM que quer escutar mais músicas do Criolo, ele vai acabar ouvindo uns três sons diferentes que ele nunca ouviu por causa disso. É o que eu faço pra apresentar novos artistas: atrelar eles a artistas independentes que já sejam conhecidos. E, pra tocar no “Independência”, meu critério é bem simples. Primeiro, tem que ter uma gravação de qualidade. Segundo, a banda também tem que ter um quê de diferente, procuro não tocar bandas que se copiam. Se já tem uma banda fazendo bem aquilo, não precisa de outras copiando. Sempre tento procurar sonoridades originais pra botar no programa.
Você acredita no papel do radialista como difusor da música de qualidade? Esse lado nobre da profissão, sabe?
Os disc jockeys sempre foram caras que apresentaram novidades, né? Acho que isso não se perdeu. Como ouvinte, eu acho massa ouvir um cara que manja de música, tipo o Maurício Valladares do programa “Ronca Ronca”, da Oi FM. Porque ele é um cara que pesquisa e não tá ali falando besteira, tá ali dando a real e indicando alguns caminhos interessantes.
Como você se sente nesse papel de radialista?
Eu procuro não pensar nisso [risos]. Sou apenas um cara que gosta muito de música e tento colocar percepções pros ouvintes como eu faria na minha casa. Inclusive, o meu programa eu gravo em casa. Tenho um home studio, então gravo tudo de um jeito muito tranquilo como se estivesse apresentando um som pra qualquer amigo meu. É muito divertido.
O rádio foi importante pra sua formação musical?
Foi sim, principalmente nos anos 1990, em Recife. Tinham muitos programas que tocavam as músicas pernambucanas da época. O programa do Rogê tocava um monte de banda nova, e aí você ouvia elas na rádio da cidade e aquilo era uma coisa absurda. Hoje, infelizmente, a gente não tem tantas emissoras de rádio que apostem na música independente. A Oi FM acaba nadando sozinha nisso. Por um lado, é muito bom porque ela é pioneira ao revelar novos artistas, que é uma boa proposta que a rádio sempre teve.
A rádios online são uma alternativa?
Acho que são mais um canal que é importante. Eu não fazia ideia de que as pessoas ouviam rádio na internet. Comecei com isso depois da Oi FM, mas descobri que a maior galera escuta rádio assim hoje. Muita gente trabalha em casa e, às vezes, o dial das FMs normais não toca o que esse público quer ouvir, então ele vai procurar em outros lugares. Você também pode baixar o programa da Oi FM e ouvir na hora que quiser. Acho que é um jeito revolucionário de fazer rádio e levar informação pra mais pessoas.
O cenário independente já é forte há tempos, mas agora parece que há uma estrutura maior apoiando ele. Como você vê as transformações da cena desde que começou a se envolver nela?
Puts, na época em que comecei era tudo com fita demo. Você andava cheio de fita cassete no bolso pra, se por acaso encontrar um produtor ou empresário na rua, apresentar pra eles. A internet democratizou demais isso, recebo material de bandas do interior do Sul do país e que são muito boas. Antes, esse material nunca chegaria nas minhas mãos e isso é fascinante. Como pesquisador, gosto muito de fuçar as coisas, às vezes peço nas redes sociais: “Galera, quero ouvir só bandas do Sul”, aí o pessoal me manda e eu passo uma tarde só ouvindo e escolhendo o que é bacana de tocar no programa. A internet veio pra democratizar. Hoje, os artistas mais bem sucedidos da música brasileira – Tulipa Ruiz, Criolo e Emicida – são completamente independentes. O que faz com que a cena independente, por causa desses caras e da democratização toda, fique cada vez mais forte e tenha cada vez mais gente prestando atenção nela.
Nesse papel de pesquisador, você consegue identificar algum gênero que esteja se destacando hoje?
Cara, não. O que eu consigo te dizer é que a gente nunca viveu um momento com tanta música diferente rolando. Isso é muito legal. Não dá pra identificar de onde vai sair um novo manguebeat, um novo movimento da música brasileira. Não acho que vai ser agora. Acho que já já vai acontecer um grande movimento que vai revolucionar a música, mas o que eu tenho percebido é que os artistas que lançaram discos nesse ano saíram das fórmulas. Não existe mais uma regra pra gravar e distribuir seu trabalho, cada um tá buscando seu esquema. Isso é muito legal porque abre um leque gigante de coisas que você pode oferecer pro público. O jeito de fazer música vem mudando muito e eu acho que isso só deixa mais forte a cena independente.
Quer ouvir o que está rolando na música independente agora mesmo? Fique ligado no programa “Independência”, que o China apresenta todas segundas, às 21h, na Oi FM. Você pode também fazer o download dos programas para ouvir quando quiser, não perca: http://oifm.oi.com.br/site/
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