Entrevista | Maurício Pereira evidencia poesia moderna em “Micro”

19/07/2022

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Gabriela Amorim

Por: Gabriela Amorim

Fotos: Biel Basile/Divulgação

19/07/2022

Toques minuciosos e detalhistas marcam a sonoridade de Micro (2022), novo disco de Maurício Pereira. Cinco anos separam o trabalho inédito de Outono no Sudeste (2018), mas ambos os discos possuem produção musical de Gustavo Ruiz. Motivado pela energia, o paulistano se juntou ao amigo, o músico Tonho Penhasco, dono de uma guitarra precisa – e que ele mesmo criou – para apresentar 12 canções, que já faziam parte do seu repertório há mais de três décadas, mas que ganham agora uma nova roupagem.

“No caso do Micro (2022), é um show que nasceu pequenininho para eu poder enfrentar a produção, conseguir ir para a estrada com competência, porque o Tonho é um mestre. Acontece que a gente tem um conhecimento muito forte um com outro, nós somos dois caras instigados com a música. Ao longo dos ensaios e shows, de repente a gente se olhou, parece que fez um barulho assim ‘cleck’, e a interpretação ganhou outro patamar. A partir desse momento, passou a ser um trabalho a mais, a ter espírito e luz própria”, afirma Maurício Pereira em entrevista à NOIZE.

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“Eu queria ter um repertório de músicas que conversassem com o mundo”, diz Maurício Pereira. (Foto: Biel Basile/Divulgação)

A dupla estreitou laços devido a pandemia de COVID-19, então os amigos, que trabalham juntos desde 2007, passaram a ter um contato ainda mais constante por meio de ligações, em longos bate-papos envolvendo o mundo, a música, a situação política do Brasil e a vida. “Uma das coisas para montar o disco era ter um lado A. Eu queria apresentar um repertório que conversasse com o mundo. Geralmente, eu não componho muito, mas já penso nisso enquanto componho. Compor de um jeito que, daqui a 50 anos, a música ainda funcione, é difícil e jogo muita coisa fora. Mas eu acabo falando da vida, dos sentimentos mais profundos, então tem coisas que não vão mudar. Outro ponto, era ter um registro de arranjos do Tonho, que é tão interessante. Grande parte do disco é registrar esse rearranjo que o Tonho fez, a maneira dele tocar guitarra é muito especial. Ele tem muita delicadeza para trabalhar comigo, mas é um cara cheio de Jimi Hendrix e Jimmy Page na cabeça, porque a gente é tio, ouvimos os velhos”, diz o paulistano enquanto sorri.

Aos olhos atentos de Pereira, o músico dá um tom mais poético a situações comuns do cotidiano. No repertório, ele traz letra para faixas como “Pan Y Leche”, “Um Dia Útil”, “Imbarueri” e “Um Teco-Teco Amarelo em Chamas”, esta última feita com Arthur de Faria, presente no disco Pra Marte (2007).

Citando o álbum A Procura da Batida Perfeita (2003), do rapper Marcelo D2, Pereira assume que hoje ele segue em busca da versão perfeita de suas músicas: “Enquanto compositor e cantor, estou à procura da versão perfeita, e o Tonho também tem esse pensamento. Quando a gente vai pra estrada, experimentamos muitas coisas. Quando chegamos em uma versão perfeita, a gente breca. É claro que ela vai mudar, as coisas mudam no ao vivo. Então essa canção perfeita não é sobre tocar melhor, é eu conseguir estar ainda mais dentro da letra, o Tonho mais à vontade com a guitarra, e a gente achar um jeito para que ela encontre o público de um jeito mais quente. Alcançar um ponto, que é a intersecção entre o público e a gente. É meio misterioso, não dá pra ser medido com a régua, mas tem uma busca”.

Maurício Pereira e Tonho Penhasco segurando sua guitarra. (Foto: Biel Basile/Divulgação)

Motivado pelo filho Tim Bernardes, antes do disco Outono no Sudeste (2018), o músico que já conhecia Gustavo Ruiz, iniciou a pesquisa em busca de um produtor musical. “O Tim sabia que eu ia embaçar e fez a ponte com o Gustavo. A liga foi instantânea. Nós sentamos, e conversamos sobre o cinema, a vida, a filosofia, a Tulipa [Ruiz], o Martim [Tim Bernardes]. Porque eu acho que para produzir um disco de um cara como eu, a gente tem que falar sobre a vida, eu preciso de alguém que me devolva repertório. E o Gustavo, mesmo tendo um conhecimento muito técnico, a tocada dele é muito afetiva, ele tem muita delicadeza para dialogar com a poesia do meu trabalho, então fiquei a vontade.” Com a filosofia de seguir a estrada, o músico admite que com o trabalho de Ruiz, os seus projetos conseguem chegar em outros ambientes, além do espaço alternativo, cena em que o músico gosta de se manter presente.

Incumbido de reaprender a interpretar as suas próprias faixas, ele compreendeu que não poderia fugir da dramaticidade. Então segue na busca da emoção: “Em um certo sentido, o Micro (2022), apesar de ser um disco que vem do improviso, ele é quase que um disco escrito. Como se eu fosse o Mozart e falasse ‘Cara, cheguei’. Eu tento cantar de um jeito X, porque acho que se eu ficar improvisando na letra, cada vez diferente, perco um pouco da emoção, e eu quero o drama, não quero o improviso. Eu não quero que digam que eu sou um virtuoso, quero que as pessoas saiam emocionadas. E às vezes para isso, você tem que cantar 50 vezes do mesmo jeito, o que não quer dizer se tornar uma máquina, mas é quase como ser um budista, você se tornar a canção”, finaliza.

A dupla vai apresentar o repertório do disco no Teatro Sérgio Cardoso (Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista. São Paulo), no fim de semana dos dias 6 e 7 de agosto. Sábado às 19h e domingo às 20h. Os ingressos estão sendo vendidos pela plataforma da Sympla, com valores entre de R$ 30,00 a R$ 60,00.

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19/07/2022

Gabriela Amorim

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