_por Karla Wunsch
_fotos: Yann Vadaru
8ª Virada Cultural de São Paulo, a cidade não parou por 24 horas. A gente também não. Claro que a ideia inicial era seguir o roteiro. Mas como não se deixar levar? Seguindo esta lógica, além dos shows fodas de gente como Titãs, Suicidal Tendencies e Gilberto Gil, também vimos bandas desconhecidas, figuras incríveis, stand-up comedy, pole dance, e por aí vai. Quer ver?
A primeira parada foi para ver os americanos da Man or Astroman? Surf music, punk, mensagens intergalácticas, roupas laranjas de astronautas e banda literalmente pulando no público. Pra acabar: fogo no palco e um público que não queria mais ir embora. Aliás, nos bastidores pós show uma insana Avona Nova, a baixista, repetia sem parar. “Nunca fiquei tão entusiasmada”.
Depois fomos ver como estava o Tony Allen no Júlio Prestes. Uma mistura de reggae com ritmos latinos e instrumentos africanos. Som altamente influenciador, no quesito “mexa seu quadril”.
Demos um pulo no palco do Arouche bem a tempo de ouvir o Michael Sullivan fazendo um show digno de banda cover “sucesso anos 80”. Whiskey-A-Go-Go, Uni Duni Tê e outros hits. Acontece de que cover não tinha nada. O cara é dono de quase todas aquelas músicas cuja letra todo bêbado sabe de cor. Leia aqui a entrevista completa com o cara.
Chegou a hora de ver Os Mutantes. Ou o que quer que seja, pois da formação original, resta apenas Sérgio Dias no palco. Mesmo assim, durante o show rolaram alguns momentos catarse com fãs chorando ao ouvir velhos hinos da banda, como “Bat-Macumba” ou “Minha menina”.Tudo em uma performance cheia de caras e bocas – mas que não foi tão empolgante. Já Sérgio, saiu bem satisfeito, e no conforto do camarim confessou: “Aqui é um sonho, bicho (…) Eu nunca vi tanta gente, é impressionante, é São Paulo, né? É tão legal”.
O cansaço começou a bater. As pessoas já estavam lotando os meio-fios, duvidando se conseguiriam aproveitar por muito mais tempo. Sem contar os banheiros químicos – que a essa altura deveriam ser evitados por qualquer pessoa de bom senso.
Já era de manhã quando o Suicidal Tendencies entrou no palco. Com menos de um minuto de show, o público derrubou a grade que separava a área da imprensa/convidados da área comum. A partir daí: muito grito, bate cabeça, pessoas e objetos voando. Nossos ouvidos e cordas vocais ainda estão tentando se recuperar dessa experiência.
Decidimos dar um tempo. O suficiente para comer aquele pastel de queijo com caldo de cana e logo voltar pro São João – mesmo palco do Suicidal – mas agora com Titãs. E embora algumas pessoas se repetissem no público, o lugar não parecia o mesmo. Tudo em ordem. As grades em seu lugar e um clima de paz. Por pouco tempo. Algo grande estava por vir.
Os Titãs subiram no palco quebrando tudo para mostrar o seu álbum clássico de 1986, o Cabeça Dinossauro . Em uma apresentação sem firula, trejeitos, ou qualquer badulaque, a banda cumpriu sua missão: “tudo isso é pra mostrar que a gente não é banda de uma música só”, falouedisse Paulo Miklos.
E não são mesmo. Misturaram músicas do Cabeça com alguns trabalhos posteriores, além de mostrar uma inédita, “Fala Renata”, tudo em clima de protesto e revolta contra a sociedade. E aí tava formado um show que foi como um soco no estômago, e fez muita gente pular do começo ao fim.
(Já viu a matéria sobre o Cabeça Dinossauro na Noize #52?)
Já tinha passado um bom tempo de Virada e ainda faltavam duas coisas: sexo e luta livre. Ou melhor, o palco Cabaré e o ringue da Sé. Um pulo rápido pelos dois bastou pra confirmar: festival mais eclético não há.
Como estávamos nessa de fazer diferente, aproveitamos pra ir ver a Trupe Chá de Boldo. Uma banda de 10 pessoas e muito estilo, que ganhou nosso coração de cara com uma música que eles “desistiram de definir”.
E fechando o festival: Gilberto Gil, aos 69 anos tocando reggae, forró e samba rock. Quem não bateu palmas em “Nos barracos da cidade” ou não chorou em “A paz” com certeza não tem coração. Todos os rostos estavam perplexos e felizes por estarem diante de uma lenda musical que dançou como uma galinha louca e pulou como uma criança de 6 anos, ao som impecável de sua banda infalível.
Cabô Gil, batemos em retirada. Já com saudade. E pés em frangalhos.