Nos atravessamentos entre os pulos certos e os tropeços, a Não Não-Eu embala a melancolia e a sensação de autossabotagem em levadas eletrônicas e sintetizadores no novo single “Sou o que me trai”, que você confere com exclusividade pela NOIZE ao fim da matéria.
O duo mineiro, formado por Pâmilla Vilas Boas e Cláudio Valentin, do selo PWR Records, se prepara para o lançamento do segundo disco da carreira, Pureza e Perigo, aguardado para o fim de abril. Com tanta novidade a caminho, batemos um papo com o duo que você precisa ler a seguir:
Como foi o processo de produção e construção da estética do disco que vem por aí?
Pâmilla: O disco foi todo produzido e gravado em casa. A ideia partiu das muitas conversas entre eu e Cláudio, conversas sobre a vida, música, o mercado da música atual, os comportamentos envolvidos, as expectativas etc. E a conclusão foi: precisamos mergulhar ainda mais na nossa proposta artística, trazer essa potência à tona, deixá-la mais clara e aberta para o público, independente de tudo. A nossa verdade e quem mais nos importa são as pessoas. Esse foi o ponto de partida. Algumas músicas do disco são composições antigas minhas, mas que trazem algo de muito profundo para o agora.
Cláudio: Eu então mergulhei nas ideias das músicas e fui traduzindo em beats e propondo novos arranjos. Raul Costa é nosso grande parceiro e foi o produtor musical do disco, responsável por destacar elementos importantes, cortar excessos etc. Em algumas músicas o Raul fez os arranjos e teve uma música que ele trouxe pronta e a Pam compôs letra e melodia.
Q
Quais foram as referências que inspiraram o álbum?
Pamilla: O nome do álbum foi inspirado no livro Pureza e Perigo (1966) da antropóloga britânica Mary Douglas. De alguma forma, ela discute as noções de pureza e perigo que abrange todas as culturas desde o início das civilizações. A sujeira pode ser ligada a desordem e a pureza a uma tentativa de ordem e de controle. Trazendo isso para o nosso cotidiano, podemos pensar nos corpos perigosos (que abalariam nossa ideia de ordem) e que por isso precisam ser controlados (corpos femininos, corpos negros, corpos trans etc).
Cláudio: Essas reflexões fazem parte de um processo de autoconhecimento que eu e Pam vivemos e que tentamos externalizar no disco. Pensamos muito sobre esses personagens que a gente cria sobre nos mesmos, os autoboicotes tendo como central o papel do corpo. A faixa “Sua Pele”, por exemplo, foi inspirada num trecho do teatrólogo [Jerzy] Grotowski quando ele diz que o corpo é a própria memória e que é possível desbloquear essas marcas deixadas no corpo e que afetam nosso estar no mundo.
Pâmilla: Do ponto de vista sonoro, o músico Christian Loffler foi uma grande referência sobretudo pela forma com que trabalha as camadas sonoras. O duo Kiasmos também foi uma grande referência, assim como Boy Harsher, Letrux, Luiza Lian e o lindo disco novo da Tuyo.
Agora com o single lançado, quais são os planos para os próximos meses?
Pâmilla: Depois do single, vamos lançar o disco e seguimos em turnê de lançamento começando com o show no Sesc Palladium em BH (26 de abril), seguimos para SP (Festival Hard Girrrl) e interior (São Carlos, Campinas, Bauru). A nossa proposta é desdobrar esse disco em vídeos ao longo do ano. A ideia é publicar um vídeo para cada música. A gente quer se dedicar mais ao que realmente interessa: nosso público e voltar as ações para essas pessoas que nos fazem acreditar nisso tudo.
Cláudio: Queremos trabalhar muito com conteúdo, ampliar nossa base de ouvintes e nos comunicar mais com a nossa galera.
Assista “Sou o que me trai”:
Ficha técnica
Direção: Cláudio Valentin e Raphael Vilas Boas
Concepção e edição: Cláudio Valentin
Fotografia: Raphael Vilas Boas
Produção: Pâmilla Vilas Boas
Assistente de Produção: André Reis
Letra e melodia: Pâmilla Vilas Boas
Beat e arranjos: Cláudio Valentin
Produção Musical: Raul Costa Duarte
Mix/Master: Alejandra Luciani
Selo: PWR Records
Agradecimentos: Flávio Charchar