Gostar de Blur não é simples. Graham Coxon conseguiu confundir todo mundo nos anos 1990, com uma guitarra atravessada, e que nem sempre ia no tempo de Damon Albarn. Os solos dele contradiziam tudo que eu tinha “aprendido” com Pantera, Guns N’ Roses, Stone Temple Pilots etc. Mas daí eles apareceram no meio de tudo isso meio que tirando sarro, não?
“Song 2”, pra mim, é um deboche ao grunge. E eu confesso que, como vivi o grunge na época, odiava o Blur no início. Trocava de canal quando passava “Song 2” na MTV. Achava o que eles faziam muito desrespeitoso. Aprendi a gostar do Blur quando o Gorillaz lançou o primeiro álbum. Ali entendi a genialidade do Damon (e, consequentemente, do Graham), e passei a ouvir o Blur com outros ouvidos. Isso foi em 2001.
Quando anunciaram o show deles no Planeta Terra, fiquei me coçando pra ir, mas fiquei esperando confirmar na Argentina ou no Uruguai, pois normalmente sai mais barato viajar para esses países. Enfim, confirmou no Uruguai e ainda por cima num teatro pequeno, a céu aberto, sem confusão e mais perto dos caras. Vendi o peixe do show do Uruguai pros meus amigos Leandro Sá e Vivi Peçaibes, do Bidê ou Balde, que eu sabia que também eram muito fãs, e aí começamos a organizar a viagem lá em julho.
Assim que decidimos ir de carro, a ideia da caixinha de leite veio naturalmente. Algo meio Amélie Poulain. Fotografar a caixinha em vez de nós mesmos, em cada ponto que passássemos na odisseia para ver o Blur. Nada mais justo. Durante a viagem, começamos a planejar uma forma de encontrá-los e conseguir autógrafo na caixinha, mas nunca pensamos que isso pudesse realmente acontecer.
Durante o show, a caixinha estava junto, sim! Chegamos até a ficar um tempo na frente do hotel que eles estavam hospedados, mas não conseguimos encontrá-los ali. A levamos pra passear pela Plaza Independencia, Ciudad Vieja, Feria de Tristan Narvaja e pelos bares e restaurantes da cidade. Inclusive, ela se apaixonou por um bolicho de esquina, que parecia estar congelado na década de 1970. Montevidéu é encantadora.
Enfim, o show terminou, com um set list matador, a gente se olhou e pensou que a missão estava cumprida. Ok, não encontramos a banda pessoalmente, mas ela nos deixou com um show que jamais esqueceríamos. Voltamos para o nosso hostel, mas com uma vontadezinha de brindar aquela noite. Depois de uma hora de descanso, decidimos ir tomar uma cerveja no La Ronda, único bar aberto. Chegando lá, encontramos nossos amigos que também estavam no show e, de repente, um deles fala. “Meu, é surreal, né?”. E eu, achando que ele ainda estava transtornado com o show, respondi que “sim, é surreal!”. Foi quando ele falou pra eu olhar pro lado. E ali eu vi o Graham e o Damon no mesmo bar, praticamente vazio. Sim, isso sim é surreal!
Fomos até o Graham e expliquei pra ele que tínhamos viajado mais de 800 km pra assistir ao show e feito um registro com a caixinha. Ele achou demais! Só pediu pra não tirar foto com flash, autografou a caixinha e foi super-simpático, dentro da nerdice dele. No fim, agradeci por todos esses anos de genialidade.
Alex e David também estavam por ali. Todos os três autografaram a caixinha. Faltava o Damon, que estava discotecando em vinil dentro do bar. O manager dele já estava sabendo da nossa história e, mesmo sem condições, ele exigiu que o Damon autografasse a caixinha dizendo “a fan will always love you”. Assim terminou a saga da caixinha, missão cumprida e uma noite inesquecível em Montevidéu.