A primeira mulher escolhida para representar o Girls That Rock foi a Fernanda Evangelista. Basta dar uma olhada no ensaio que nós fizemos com ela, em parceria com o fotógrafo Gustavo Tissot, que você vai entender.
Girls That Rock não são mulheres óbvias. Veja a Fernanda, por exemplo. Quem diria que por trás de toda a atitude e de todas as tatuagens existe uma bibliotecária e estudante de museologia?
Nascida em Porto Alegre, Fernanda também tem uma carreira de modelo que já a levou pra morar em Tóquio e uma coleção de tatuagens que chegam a quase 60. Uma pintura de mulher, literalmente.
Trocamos uma ideia com a gata sobre música, tatuagem e a relação dessas duas entre quatro paredes.
Qual é a banda que você escuta desde pequena?
Yes, é a primeira banda que eu lembro. A banda que eu ouvia quando era piá, minha primeira memória musical é Yes e Genesis.
O que toca no seu iPod hoje?
Muito Tame Impala, adoro eles. Toca Asteroid também, um power trio da Suécia que é bom pra cacete e também The Clean, uma banda neo-zelandesa da década de 80 que ainda está em atividade. Ah! Muito Cake também.
Um músico foda?
Eu estou num momento apaixonada pelo Kevin do Tame Impala. Ele é muito completo, sabe tudo, é um pirralho e o Tame Impala é a volta da psicodelia, progressivo…
Um cara feio do rock que você não jogaria fora?
Phil Anselmo. Eu acho ele muito afudê, só que ele não é bonito.
Um show inesquecível?
Um só é foda! Mas o Tame Impala foi animal, no ano passado, no Cine Joia. Foi a primeira vez que vi eles e eu tava meio sem grana, tinha recém voltado da Europa. Estava a uma semana no Brasil e não tinha nada de grana, tava vivendo de cartão de crédito. Mas comprei um ingresso, fui pra São Paulo sozinha e de cara encontrei um amigão meu lá, o Guilherme Neto, a gente não se via a muito tempo. O Gui é amigo do Nick, o baixista do Tame, então eles tavam ali conversando e eu conheci toda a banda. Comprei um vinil e deixei com eles no camarim… Na segunda música do show, eu decidi que iria pro Rio, com o Gui, pra ver o Tame Ipala de novo, de tão foda que foio show. E no dia seguinte eu fui, sem dinheiro nenhum, mas fui.
Camiseta de banda?
Eu tenho uma do Genesis que eu adoro, que já era da época do Phil Collins. Eu comprei ela num brechó quando eu morava no Japão. Foi usada por um homem certo, ela já tava meio velha, meio desbotada, e as mangas muito largas… Como sou modelo, com 17 anos eu fui pra Tóquio, me formei no colégio e fui morar no Japão, fiz 18 lá, nos anos 2000. Comprei num brechó e tenho até hoje, essa é a do coração.
E o Japão?
Fui pra duas temporadas, temporadas de desflie mais fotos. Fui pra duas temporadas no mesmo ano e ao todo eu morei sete meses e um pouquinho. Nesse tempo eu conheci o Iron Maiden, foi do caralho, enlouquecedor. Conheci a banda numa boate, mas não fui no show, nem sabia que eles tavam fazendo show. Mas de qualquer maneira já devia estar sold out, os japoneses são loucos por Iron.
Eu tava nessa boate e vi eles descendo as escadas pra entrar, tive um surto psicótico. Tenho foto com os caras e tal, demais. Foi só um tempinho, eles tavam no meio da festa, e eu sou uma fã, não uma groupie, então fui embora com essa foto:
Uma música pra dançar sozinha em casa?
“Master Plan”, do My Morning Jacket.
Uma música pra fazer amor?
Qualquer uma da Ella Fitzgerald.
Uma música pra fazer sexo?
Wicked Lady, tinha tudo pra fazer sucesso na década de 70. Tem uma instrumental que tem uns sete minutos e que se chama “The Axeman Cometh” que é muito boa pra isso.
O que significa tatuar pra você?
Na real, não tem grandes explicações. Geralmente elas são puramente estéticas ou refletem os meus gostos. Se uma pessoa me vê na rua sabe o que eu gosto de escutar, de ler e o que acho de interessante em termos de arte. Os temas das minhas tattoos são música, literatura e cartoon.
Pode falar sobre uma específica?
Há uns doze anos eu escrevi “Keep Walking” na panturrilha, logo acima do tornozelo. Eu achei uma boa tirada.Deixei ali e fiz uma outra pintura mais pra cima depois, e agora com 30 eu tive um insight, sou bem impulsiva com tattoo, daí fui no tatuador e fiz uma sketch do John Cleese, do Monty Python uma parte do “Ministry of Silly Walks”. Então, a tatto do Monty Python combinou com o keep walking, tatuagem que fiz quase 15 anos antes
Tattoo de banda, quais?
Cake, Queens of stone age, Rolling Stones, Yes, Genesis, Ramones.
Qual a relação de tatuagem e música pra você?
Tem tudo a ver, são coisas pelas quais eu sou apaixonada. Música é a coisa mais importante no mundo pra mim, bate cinema, literatura, qualquer coisa, não vivo sem. As tatuagens dizem que é um jeito de ser diferente, de não ser bege. Esse foi o principal motivo pra me tatuar, queria ser diferente e não ser uma pessoa bege. Comecei e não parei mais.
Tatuagem e sexo, existe relação?
Com certeza, eu tenho umas tatuagens que deixa as pessoas meio noiadas. Tenho uma menina tatuada nas costas, ela está bem em cima, quase na nuca. É uma menina olhando reto pra frente. No inicio do relacionamento, já aconteceu do cara se levantar pela manhã e se assustar com a boneca, levar um cagaço.
Mas existe fetiche, né. E também gente que não gosta.
Eu adoro, acho bem mais interessante do que uma pessoa sem. Acho muito sexy, acho afudê, gosto de ver, tem algo até meio voyeurístico. Assim como quando vou cuidar de algum acervo de biblioteca e tem o lance de saber o quem a pessoa é com base no que ela lê, tenho isso com tatuagens também, olho as tattoos e sei os gostos e o que aquela pessoa vive.
(Fotos: Gustavo Tissot)