Que o Bananada é um dos maiores festivais de música do Brasil, isso a gente já sabe. Que Goiânia é o celeiro da boa música e tá movimentando a cena independente brasileira, isso a gente já sabe também. Mas também queríamos saber como essa galera vive e do que se alimenta. Assim, passamos a maior parte do período em que ocorreu o Bananada (bem) acompanhados da banda Carne Doce e imersos na “cultura local”. Vimos como é essa tal cena independente de Goiânia Rock City, que felizmente, ou infelizmente, não é só de rock não.
13 de maio
O festival em si só iniciou pra gente no terceiro dia, antes disso, já haviam passado por Goiânia outros grandes nomes nacionais e locais como Caetano Veloso, Do Amor e Bruna Mendez.
A primeira apresentação que acompanhamos ao vivo e a cores rolou na Universidade Federal de Goiás, com Maurício Pereira comovendo a todos os presentes com sua performance super intimista e enxuta com formato de show unplugged , apenas voz e piano. O melhor momento da apresentação foi quando o artista cantou “Tróvoa” que está presente no álbum Pra Marte (2007) e fez que com as fungadas de choro compusessem o plano de fundo.
Passado o vulcão de emoções proporcionados pelas poesias cantantes do Maurício, o próximo destino da noite foi o clube Diablo que recebeu na quarta o showcase da Balaclava Records: Parati, Terno Rei – que fez um show mais contido se comparado a grande atração da noite – e Luziluzia – uma das pratas da casa que levantou a galera e colocou todo mundo pra se mexer ao som de “Summertime”. O Terno Rei se apresenta no próximo dia 29 no Primavera Sound, um dos festivais mais importantes de Barcelona, na Espanha.
14 de maio
A quinta-feira foi de muitas atividades em Goiânia Rock City. Começamos acompanhando a gravação de uma sessions de Carne Doce e Francisco El Hombre para o Fábrica do Som, projeto que rola todo ano no Bananada.
Os shows do dia rolaram na Suqueria, um local muito charmosinho que mistura bar e brechó e que abrigou a psicodelia orquestrada pelas bandas Bike, que conta com a participação de Julito Cavalcante, atualmente também integrante do Macaco Bong; e The Abdalas, que pode se dizer que é o projeto instrumental dos guris da Boogarins em parceria com Diogo Valentino (Bonifrate e Supercordas). Não existe expressão melhor do que soltar um “FODA” e balançar a cabeça para definir o que foi o showcase da Proposito Records. Ainda na mesma noite, o Bananada contou com as apresentações de Water Rats e Merda, que representaram o punk rock brasileiro.
15 de maio
A sexta-feira começou com uma preparação um tanto extra para a grande maratona do festival que iria começar no Centro Cultural Oscar Niemeyer. Acompanhamos de perto o ensaio do Carne Doce e partimos em direção ao CCON, onde fomos recebidos pelo painel lindamente descomunal concebido pelo coletivo de designers Bicicleta sem Freio especialmente para o festival.
Os trabalhos iniciaram com os goianos da Bang Bang Babies e logo em seguida com Scalene que se mostrou muito a vontade com o público ao longo da apresentação. A programação foi seguida pelo produtor paraense Jaloo, em sua primeira performance ao vivo com a banda que contou com a presença de Naná Rizinni e Irina Neblina. A sensação que passou foi de um certo estranhamento de ambas as partes, tanto artista quanto plateia ainda estavam no primeiro contato que ficou um tanto superficial naquele momento.
Em compensação, Francisco El Hombre fez um show apaixonante que denotou ótimo entrosamento entre os integrantes da banda que tem um ar um tanto gipsy e envolvente e convocaram todo mundo para dançar na sua Pachanga.
Em seguida, Wannabe Jalva subiu ao palco com seu indie-rock e alternou a apresentação com músicas do último EP Collecture (2014) com as mais dançantes do primeiro álbum. Depois foi a vez dos californianos do Allah-las com seu surf music subirem ao palco para mais uma apresentação da tour brasileira.
Como já era de se esperar, o melhor show da noite foi feito pelos queridinhos da casa, Boogarins, que têm tido destaque no Brasil e no mundo espalhando amor e lisergia por onde passam. Diferente dos shows da banda que já foram vistos antes, os guris se permitiram, exploraram muito mais seu lado instrumental, transformando o show numa verdadeira jam.
Por fim, a sexta-feira acabou ao som de Pato Fu, que tem um público cativo e que apostou em grandes hits para interagir com o público.
16 de maio
Já no sábado, as atividades começaram com Camarones Orquestra Guitarrística e um show muito empolgado para a pouca plateia que ia se formando no penúltimo dia. Foi seguido de umas das bandas goianas mais interessantes e talvez uma das mais promissoras que o festival apresentou: Carne Doce, que representa uma das novas faces da música brasileira e fez uma das apresentações mais entusiasmadas e empolgantes da noite (Karol Conka não conta, ok?).
Correndo de um palco pro outro, fomos ver Lê Almeida, que fez um show bem descontraído com aquela pegada meio indie meio lo-fi que lhe é peculiar e deixou os presentes bem satisfeitos com o que viram.
Outro show bom que merece destaque foi o dos guris da Apanhador Só, que fizeram uma bela apresentação, com tudo bem redondinho, o público pedindo música e explorando as diferentes sonoridades que a banda se propõe. Ressaltando que é uma das bandas mais inventivas e importantes do cenário brasileiro underground atual.
O sábado finalizou com uma grande balada comandada pelas três últimas atrações: Karol Conka, Bonde do Rolê e Tropkillaz.
17 de maio
Já no domingo, os destaques ficaram por conta da banda Caddywhompus, que ganhou o prêmio de “surpresinha boa da noite”. A dupla é de New Orleans e apresentou um dream-indie-pop com baterista e guitarrista dispostos frente-a-frente no palco. Sem falar do Criolo, que conduziu aquele mundaréu de gente que invadiu o espaço pra curtir aquele que aqui chamamos de Messias. Novamente, constatamos o bizarro fenômeno da ampliação do público do rapper, que tem sido composto justamente por aqueles que ele alfineta em suas letras. De qualquer forma, foi um showzaço que finalizou o festival com chave de ouro.
E a pergunta inicial em relação ao que Goiânia se alimenta? Pode se dizer que lá o pessoal se alimenta da esperança, movida pela realidade que a música independente vive atualmente, pautada na articulação com diferentes atores culturais em prol de um bem maior que ocupa um espaço pequeníssimo se comparado às prioridades culturais mainstream ou, simplesmente, à massa.
PS: Rolaram outras atrações durante o festival como J. Mascis, Hellebenders, Marrero, Magaly Fields, Garage Fuzz, Gasper, Vivendo do Ócio, entre outros. Como nem todos puderam ser vistos tão de perto, achamos melhor não replicar apenas o que ouvimos dos outros.