Julia Mestre, 26, deu mais um passo em sua carreira solo, nesta última quarta-feira (12), lançando seu segundo disco ARREPIADA (2023), distribuído pela Altafonte e com produção assinada por Lux Ferreira, do duo LUX&TRÓIA. A musicista carioca, integrante da banda Bala Desejo ganhadora do Grammy Latino do ano passado, revela nas 11 canções uma faceta mais íntima e madura: “É meu grito de liberdade”, afirma Mestre em nota divulgada para a imprensa. O público que já teve contato com seu disco de estreia, GEMINIS (2019), irá reconhecer algumas particularidades da artista em suas composições, como a liberdade nas canções “Meu Paraíso” e “Arrepiada”, e a sensibilidade de suas conexões afetivas, que no presente aparecem nas faixas “Chuva de Caju” e “Menino Bonito”.
Caminhando por um lado mais pop, Mestre segue possuindo como referências as musicistas Marina Lima e Rita Lee, – esta última sendo exemplo para o EP Julia Mestre Canta Rita Lee (2020), onde Mestre propõe duas novas roupagens para as músicas “Agora Só Falta Você” e “Papai Me Empresta o Carro” – porém, sem se afastar do contemporâneo que a carioca encontrou na cantora norte-americana Billie Eilish, que se apresentou recentemente no Lollapalooza Brasil.
“Depois que assisti ao documentário dela produzindo dentro do quarto junto com seu irmão, percebi que eu também queria fazer aquilo. Nunca gostei de gravar voz em estúdio, sempre achei o ambiente frio. Quis cantar num ambiente mais acolhedor, dentro de um quarto, relaxada. E foi assim que gravamos e produzimos todas as músicas do disco, dentro do quarto do Lux durante a pandemia. Sempre admirei as escolhas estéticas do Lux, e busquei alguém que pudesse abraçar minhas canções com a modernidade que o contemporâneo pede, mas sem esquecer que minhas referências vêm de longe. Desde que fiz um projeto/show cantando as músicas de Rita Lee, pesquiso a estética oitentista e comecei a compor pensando em trazer dança e sintetizadores para o álbum”, destaca.
Em ARREPIADA (2023), Mestre apresenta dez canções inéditas e uma releitura de “Clama Floresta“, canção escrita dez anos atrás e gravada por sua banda no disco SIM SIM SIM (2022), em gêneros musicais variados, como o xote na música “Chuva de Caju”, o forró na canção “Forró da Solidão”, que conta com a sanfona de Marcelo Janeci, o disco da música título e o reggae de “Clama Floresta”.
+ Dora, Julia, Lucas, Zé: conheça cada integrante do Bala Desejo
A carioca assina as faixas com outros compositores de sua geração, sendo eles Ana Caetano (duo Anavitória), João Gil (Gilsons), Dora Morelenbaum, Zé Ibarra e Lucas Nunes (seus companheiros de Bala Desejo) e a dupla de produtores musicais Lux & Tróia (Duda Beat). O único feat do disco é na música “Sonhos & Ilusões”, um encontro transatlântico com a cantautora e instrumentista MARO, de Portugal, que se apresenta no dia 28 deste mês no Teatro Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. “Acho oportuno duas mulheres de língua portuguesa, com vivencias diferentes, estarem juntas reverenciando a deusa música”, reflete.
Para o atual projeto, Mestre já divulgou dois clipes das músicas “Meu Paraíso”, lançada como single em janeiro de 2022, e “Deusa Inebriante” em março passado, e agora anuncia o lançamento do vídeo da faixa título para a próxima segunda-feira (17), às 11 horas. Abaixo, confira o faixa a faixa onde a artista compartilha sobre os processos, referências e comentários de cada uma das músicas que envolvem o disco.
INTRO + ARREPIADA
É a canção que nomeia o álbum. ARREPIADA é palavra feminina, imagética e sonoramente impactante. É meu grito de liberdade: exprime a sensação que eu gostaria que as pessoas tivessem ao ouvir o meu trabalho. Quis que essa canção abrisse o disco porque ela personifica os sentimentos que mais me conectam neste momento ou talvez porque ela represente uma espécie de persona que eu desejo alcançar para interagir com meus ouvintes. É uma faixa cujas referências explícitas transitam nas canções de Rita Lee e Marina Lima, bem anos 80. Tem letra empoderada e também brinca com um estilo pop-rock – “TCHU-TCHU-CA”.
CHUVA DE CAJU
Minha parceira com a Ana Caetano fala sobre um pôr do sol que vimos juntas em Búzios (RJ), no dia que nos conhecemos. No dia, estávamos dando um passeio de carro e entre um papo e outro, ela me perguntou sobre minha cor preferida e eu respondi que ela era doce como chuva de caju. A canção reúne fragmentos dos diálogos que tivemos nesta tarde especial.
MENINO BONITO
É uma canção que fiz para um grande amor. Quis trazer para a faixa a sensação de um bloco de Carnaval, por isso chamei os percussionistas baianos Kainan do Jêjê, Tiago Nunes e Lucas Maciel para embalar esse bloco. É uma parceria minha e de Dora Morelenbaum que também participa do disco fazendo coro na faixa. Ah, uma última curiosidade sobre esta música: “esse violão mal tocado é meu”.
FORRÓ DA SOLIDÃO
Música de pandemia. “faz tempo que eu não saio de casa, faz tempo que eu não vejo meus amigos”. Compus dentro de casa no auge do isolamento social, sem perspectiva de quando retomaríamos a vida que conhecíamos. O tempo passou, a vida foi se redesenhando e a canção ficou. Convidei Marcelo Jeneci para gravar sanfona nessa faixa e ele abraçou lindamente nosso forró moderno.
O FOGO DO AMOR
Vinheta que introduz o primeiro single lançado do álbum, “MEU PARAÍSO”. Inspirada na música “Really Love” do D’Angelo, quis criar um ambiente de mistério com sussurros sobre um amor viciado e acabado.
MEU PARAÍSO
Fever Night! É a disco do disco! É a faixa mais dançante e com mais referência as pistas dos anos 80. É uma produção bem característica do estilo que consagrou a dupla LUX&TRÓIA. É música de pista, com letra provocativa que fala sobre beijo na boca, tesão, liberdade e todos os elementos de uma jovem vida adulta. Foi o primeiro single lançado do disco, no auge do verão [de 2022], e agora se junta ao disco completo.
DEUSA INEBRIANTE
Meu avô morreu centenário, ele foi embora dormindo. A morte do meu avô me deixou muito triste e também intrigada. Como se dá essa passagem? Quem o levou durante o sono? Foi a partir dessa indagação que surgiu a letra de Deusa Inebriante. Uma deusa que aparece nos sonhos mais profundos, que seduz, encanta e nos convida a conhecer o outro mundo. É o beijo da dona morte.
CLAMA FLORESTA
Essa música nasceu há 10 anos, mas foi finalizada há pouco tempo. O refrão da canção “I’m Alive” foi escrita por mim e por Zé Ibarra para uma campanha da Rain Forest. Acabamos deixando essa música na gaveta por anos até que houve as tragédias de Brumadinho e Mariana e isso desestruturou todo o ecossistema ambiental daquela região e também a nós mesmos. Estes acontecimentos foram tão fortes que me motivaram a retomar essa canção. Quando pronta, gravamos no disco SIM SIM SIM do Bala Desejo e hoje trago para o meu disco solo uma nova roupagem.
DE TODA MÃE
Essa música nasceu quando soube que minha amiga, a cantora Mariá Pinkusfeld, estava grávida de duas meninas. Lembrei dos versos de Caetano Veloso – “o tempo parou para eu olhar pra aquela barriga” – e fui sendo inspirada pela vida. É emocionante ver uma grande amiga tendo em seu ventre outros dois corações. É uma música que fala sobre a potência feminina.
DO DO U
Tracking gravada no iphone, dentro do meu quarto. É um esboço que compartilho com meu público, é parte do meu processo criativo.
SONHOS & ILUSÕES feat. MARO
O único feat do disco é lusófono. Nasceu além-mar e traz a cantora, compositora e instrumentista MARO. Chamei ela para cantar comigo porque apesar da letra apontar o caos do mundo, achei bonito ter duas vozes femininas encerrando o disco, acho oportuno duas mulheres de língua portuguesa, com vivencias diferentes, estarem juntas reverenciando a deusa música. Sempre me identifiquei com o timbre de voz de MARO, grave e ‘soproso’ como o meu. Brinco dizendo que é o dueto das cantoras roucas.
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