“A minha música é uma miragem pra você olhar conforme a sua verdade”, canta Luiza Lian em “A Minha Música É”, faixa de abertura do novo disco, 7 Estrelas | quem arrancou o céu?. Lançado nesta sexta-feira, 28/7, o quarto álbum da artista renova a parceria com Charles Tixier, produtor musical de Azul Moderno (2018) e Oyá Tempo (2017), e com o selo Risco – o trabalho foi lançado no exterior pela ZZK Records. Ao longo das dez faixas, a dupla constrói e desconstrói camadas e texturas, ousa nos timbres e arranjos, e brinca com as possibilidades sonoras criadas por meio de expermentações digitais.
O início do projeto aconteceu em 2019, na sequência dos shows do Azul Moderno, e as músicas foram trabalhadas desde então. “O processo de composição foi colado na produção musical. Criar uma letra com o Charles é diferente do meu processo com a Leda (Cartum, parceira no Azul Moderno), que é da literatura. Dessa vez, eu apresentava uma coisa, ele desconstruía e propunha outra direção para o refrão, por exemplo. Ou experimentava poesias em cima das bases ou deixava uma letra surgir a partir disso”, divide a compositora em entrevista à NOIZE.
A princípio, a ideia era lançar a “A Minha Música É” como single para apresentar alguns dos temas recorrentes no registro, porém Luiza decidiu segurar a canção. No início de julho, lançou “Eu Estou Aqui”, que une experimentalismo ao spoken word a partir de uma visão crítica da contemporaneidade, e “Desabriga”, uma leitura pop romântica, ainda que mantenha a veia mística.
“Achava que ‘A Minha Música É ‘representava melhor o disco, mas as coisas são como são. Ela traz essa dubiedade porque começa em uma leveza até que, de repente, você caiu em um pesadelo. Ao mesmo tempo, pensava que ela era muito experimental, então foi mais honesto começar com ‘Eu Estou Aqui’, que manifesta o que o disco veio fazer. E ‘Desabriga’ para mostrar que existe esse outro lado”, conta a cantora.
Ao longo dos últimos anos, Luiza e Charles mexiam nas músicas e arquivavam o projeto por alguns meses. Quando se encontravam, a improvisação levava a lugares inesperados: “A segunda parte de ‘A Minha Música É’ surgiu depois que pedi uma mudança radical na estrutura para colar duas poesias. O Charles mexeu na minha voz até ficar daquele jeito. Eu queria trocar um detalhe na letra, mas a gente nunca conseguiu reproduzir aquele efeito, então ficamos com a demo”.
A única participação do trabalho é da Céu, na faixa “Tecnicolor”. As cantoras se conheceram há alguns anos, inclusive dividiram o palco na terceira edição do Women’s Music Event, em 2019. “A Céu é muito importante para abrir os caminhos desse tipo de som que eu faço, ela abriu muitas estradas. A gente se deu bem, vimos que as vozes se amarravam, então fiquei feliz quando ela aceitou o convite”, lembra Luiza.
A artista cogitou batizar o registro com o nome “Tecnicolor”, mas o plano foi adaptado: o título carrega um trecho da canção, “quem arrancou o céu?”, junto do nome de outra música, “7 Estrelas”. A combinação destaca a dualidade que permeia o trabalho:”Fiquei na dúvida, porque não era um e nem outro, eram os dois juntos. ‘7 Estrelas’ carrega a espiritualidade, enquanto ‘quem arrancou o céu?’ remete aos questionamentos, angústias e ao mundo em desencanto”.
Nos outros discos, essa relação é cantada por meio das simbologias em homenagens a entidades. Já no novo trabalho, Luiza elabora a questão por outro ponto de vida: “O disco fala sobre a dificuldade de acessar a espiritualidade em um mundo tão desconectado, ele traz a jornada de retorno do espírito para si mesmo. A gente nunca esteve tão conectado com a nossa realidade, mas nunca tão desconectado com a gente. Acho que é um álbum menos religioso, no sentido de carregar símbolos, mas ao mesmo tempo, propõe um mergulho no sentido de: quantas ilusões eu preciso tirar da frente para conseguir me encontrar? E a partir desse momento, me achar e transcender.”
O misticismo presente nas letras se desdobra na estética do álbum. Do tarô, ela imaginou uma carta da estrela em um mundo sem esperança. A capa traz um fragmento de uma das fotos: o reflexo distorcido da cantora em uma composição com cores sóbrias. “Em alguns baralhos, a carta da estrela se chama esperança, então imaginei o arcano no mundo desencantado, no apocalipse. Outra imagem que eu tinha vontade de construir era o Narciso, então Lari Zaidan, a fotógrafa, propôs os espelhos distorcidos para construir uma paisagem que confudisse o olhar”, conta a artista.
Por influência familiar, a espiritualidade ecumênica abraça diferentes preces, especialmente da tarologia, estuda o baralho de Marselha e o tarô egípcio. “É uma coisa presente na minha busca por autoconhecimento. Os tarôs me interessam porque essas simbologias se desdobram em histórias onde cada cultura representa de uma forma diferente”, explica Luiza.
Próximos passos
Os shows de lançamento acontecerão entre os dias 12 e 13 de agosto, no Sesc Pompeia. Para as apresentações, ela prepara a estreia de uma nova era visual: “Tenho a vontade de criar uma visualidade para o disco como se ele fosse uma ópera, ainda que tenha laser, luz e projeção, o show continuará dentro dessa estrutura minimalista, comigo e o Charles no palco”.
Nos planos dos próximos meses, pretende lançar videoclipe da música “Viajante” e da união de “Forca” e “Cobras na sua Mesa”. “Quero que seja um disco escutado. Vamos ouvir primeiro para depois entender o que ele tem para dizer visualmente. De certa forma, ele é um álbum visual porque o disco remete a imagens durante a audição, são narrativas transmidiáticas”, finaliza.
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