N.A.S.A.

19/03/2010

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Por: Revista NOIZE

Fotos:

19/03/2010

Esta entrevista foi realizada no dia 24 de outubro de 2009, na primeira parada da turnê do N.A.S.A. no Brasil.  A matéria saiu na NOIZE  #30, a última do ano que passou, mas a conversa não havia sido publicada na íntegra. Aproveitamos esse post para publicar outras fotos que não saíram na edição impressa e um mini making-of da sessão. Enjoy it!

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Por Bruno Felin e Fernando Corrêa

O que Zé Gonzales, Squeak E. Clean, Amanda Blank, Barbie Hatch, Chali 2na, Chuck D, The Cool Kids, David Byrne, Del Tha Funkee Homosapien, DJ AM, DJ Babao, DJ Swamp, DJ Qbert, E-40, Fatlip, George Clinton, Ghostface Killah, Gift of Gab, John Frusciante, Kanye West, Karen O, Kool Keith, Kool Kojac, KRS-One, Lovefoxx, Lykke Li, Method Man, M.I.A., Nick Zinner, Nina Persson, Ol’ Dirty Bastard, Ras Congo, RZA, Santogold, Scarface, Seu Jorge, Sizzla, Slim The Kid, Spank Rock, Tom Waits e Z-Trip têm em comum? N.A.S.A. music.

Adentrar uma nave é sempre uma experiência interessante, no mínimo incomum, e o nome dessa, N.A.S.A. (sigla para North America-South America) entrega: é capaz de muita coisa diferente. Se para os mais céticos o som não é hip-hop, nem eletrônico para os mais exigentes, uma parte está explicada – a mistura é homogênea. O Spirit of Apollo, primeiro disco do N.A.S.A., se comunica com vários mundos porque é feito pelo que cada um deles tem de mais positivo, segundo define o próprio Sam “Squeak E. Clean” Spiegel, parceiro de Zé Gonzales (ex-Planet Hemp) nesse projeto.

Depois de se conhecerem numa festa lá em 2003 e começarem a fazer música no dia seguinte, os dois DJs chamaram alguns convidados para gravar participações no que viria a ser Spirit. Com a música falando por si, o conceito do álbum foi se formando, a ponto de reunir um número de colaborações incrível, que leva a nave a ultrapassar as possibilidades deste planeta. Afinal a maior estrela deste céu – a música – é universal.

Encontramos Zegon e Squeak no hall de um hotel em Porto Alegre, primeira parada da tour brasileira que fizeram em novembro. Com o som de um violão ao fundo, tocado por ninguém menos que o diretor Spike Jonze (irmão de Squeak), embarcamos na nave enquanto Zé mostrava orgulhoso o seu Nike Dunk, edição do De La Soul: “Os caras falam que eu fiquei mais contente quando chegou a remessa de tênis que tinha encomendado do que quando ganhamos o VMB”, conta. Após risadas generalizadas, fomos à entrevista.

O disco tem muitos convidados e vocês não podem contar com eles no palco. Qual o conceito do show?

Sam: Cada show é  diferente. Alguns shows a gente traz alguns artistas convidados, outros são só eu e o Zé, mas é sempre diferente e sempre uma grande festa, algo um pouco inesperado.

Zé: O álbum é diferente do show. Começou a ser feito em 2003 e até 2007 o nosso som ganhou mais peso e corpo pra show, então a gente toca basicamente os remixes do álbum feitos pela gente, remixes de músicas que a gente gosta dos outros, remixes de músicas que a gente fez pros outros e tudo com audiovisual, controlado por vinil. Tem varios formatos. O mais simples é o DJ set com audiovisual, ai pode ser com convidados que encontramos em cada cidade ou o Fatlip e o Ras Congo, que são os que viajam com a gente mundialmente. Mas onde a gente vai, tem sempre uma gangue com a gente, que viaja junto.

No começo vocês tinham um conceito do disco já? Como vocês reuniram todos esses artistas?

Sam: Primeiro era só  a gente curtindo, fazendo música. Não tinhamos um conceito para o álbum.

Zé: Começamos a trabalhar com uns Acapellas

Sam: E ai pensamos: Ah deveríamos chamar uns amigos para colaborar. Fizemos algumas com Ol’ Dirty BastardKaren O. e Fat Lip e foi quando nós realmente sacamos esse conceito tipo: wow esse disco deveria trazer pessoas de mundos totalmente diferentes, parcerias inesperadas e combinações doidas em cada som e com aquele conceito de derrubar barreiras entres as pessoas através da música. É algo maior que nós, é como espiritual, olhando o mundo sem divisões, somos todos seres humanos. Simplesmente vamos fazendo.

Como vocês se sentem em ter a última música do Ol’ Dirty Bastard? (Ol’ Dirty Bastard morreu algumas semanas após a gravação, em 2004)

Zé: Quando aconteceu a gente não sabia explicar.

Sam: Foi muito inesperado!

Zé: Tivemos o ODB como ums dos primeiros convidados, sabiamos que ele era muito difícil de convencer, quase impossível, todos diziam: “boa sorte” e nós conseguimos.

Sam: Nós não o conhecíamos antes da gravação.

No trailer do documentário (acima) que vocês vão fazer sobre as gravações parece que todos estão felizes, se divertindo. Foi assim mesmo? Tiveram alguma briga?

Zé: só entre nós. Haha

Sam: Os convidavos se divertiam e nós discutíamos para fazer algo realmente muito bom.

Zé: Mas nos divertimos muito, tivemos muitos momentos bons, fazendo as músicas, até hoje, refazendo algo, remixando.

Nenhum prolema com nenhum convidado?

Sam: O único cara que era realmente muito louco e que acabou não entrando no disco foi o Bushwick Bill, o anão do Geto Boys. Ele foi o único cara difícil de trabalhar e acabou não participando.

Zé: Foi aquela vez que ele tava transando com a namorada?

Sam: Não aquilo foi outra noite, ele é uma boa pessoa mas é meio doido. Tava sempre com uma namorada diferente. Mas foi um momento bom do disco. As pessoas que escolhemos eram positivas e foi uma experiência positiva.

Vocês têm muitas influências diferentes, mas tem falado muito sobre funk brasileiro. Sam, você conheceu através do Zé?

Sam: Sim, muito. Eu estava recém conhecendo quando encontrei o Zegon. Ele me educou.

Zé: Primeiro ele foi conhecer o samba-rock, e ai fazendo o disco a gente entrou no rock dos anos 50, 60, depois jazz, jazz brasileiro e o tempero do disco reflete essas influências. Antes do disco eu estava tocando em LA e tocava muitos brakes brasileiros, assim como os gringos fazem com o funk para o hip hop, eu fazia do meu jeito. Mas depois a gente começou a ouvir muitas trilhas de filmes antigos, dos anos 70, de novela. Coisas obscuras.

Sam: sampleamos muitas coisa, Tony Tornado, Tim Maia, muita coisa.

Zé: Tony Tornado é  classico.

Muita gente está  fazendo remixes de músicas de vocês, o que vocês vão fazer com todo esse material?

Sam: Estamos fazendo um álbum de remixes, e fizemos uma competição que o melhor remix vai entrar no disco. Está pronto, só falta essa música. 50% são remixes nossos e ai de outras pessoas. É bem louco, é  mais como o que estamos tocando hoje, mais uptempo.

Zé: o formato que junta estilos hoje em dia é o sample. Pode chamar de rap, de eletrônica, une rótulos todos num lugar através de um tipo de batida. É um formato que os DJ’s da nossa geração estão aplicando para expandir seu público.

É um formato abrangente, o cara que curte funk…..

Zé: Reggae. Tem pra todos tipos de gosto dentro do formato. Vai do electro, freestyle, baile, mash up, então é mais ou menos o que a gente sempre fez.

Com toda a facilidade que os programas de computador trouxeram, o que vocês acham de todas essas pessoas fazendo batidas e etc?

Sam: Eu acho ótimo. Claro que tem muita coisa que é ruim por aí, mas dá a chance para qualquer pessoa fazer música boa. É um mundo muito mais democrático, um moleque pode fazer algo em casa, sem estúdio, colocar num blog e estourar. Não precisa de toneladas de dinheiro para fazer algo bom.

E a indústria fonográfica hoje em dia?

Sam: O modelo da indústria como é hoje já era. Tem várias novas formas de ganhar dinheiro com música com marcas, corporações, comerciais, filmes, trailers, patrocínios.

Como vocês se encaixam nisso?

Zé: De muitas maneiras. Fazemos muitas coisas, com marcas, video-games, filmes.

O Spirit of Apollo reflete isso? Talvez alguns anos atrás teria sido mais difícil reunir tantos artistas..

Sam: Com certeza.

Ficamos sabendo que George Clinton ofereceu sua nave para vocês usarem nos shows, é verdade?

Zé: É verdade, mas quebramos em São Franciso. Agora estamos contruindo uma nova. “Ele disse, vocês querem usar esse lixo aqui?” Mas ai estragamos a turbina e fica mais barato construir uma nova.

Sam: Já temos duas, agora será a terceira.

Você  pode nos explicar um pouco sobre o Serato?

Zé: O Serato é  uma ferramenta que veio para mudar completamente o jogo do DJ, mudou o estilo de tocar de todo mundo. Veio para acrescentar. Antigamente o máximo que podíamos carregar pra uma festa, eu o Sam e mais quatro amigos por exemplo, era 300 discos. Hoje em dia a gente leva todos os nossos discos.

Sam: Eu nunca usei tantos…(risos)

Zé: Hoje em dia as possibilidades são muito maiores, a velocidade que você toca, já dá pra pensar sempre na próxima música e os loops perfeitos. Mixamos quatro músicas ao mesmo tempo, fazendo o loop, coisas impossível de fazer em vinil. Quem tá tocando em vinil ainda? Clássico, estilo, bonito. Quem tá tocando em Serato e já tocava bem, tá a 300 por hora e o resto tá tentando subir a serra.

:::: Nesse momento, Sam sai para ir ao banheiro::::

Mas aí tem o outro lado, como você já criticou no Twitter com o #vocênãoédj.

Zé: O ponto é: quem começou aí já, pegou a técnica e os vícios. É uma geração – não todos claro – mas estragada de DJ’s. Gente que não sabe mixar de verdade, não mixa com o ouvido, mixa com o olho. Não tem pesquisa, baixa tudo, mas nunca sujou a mão num sebo. Uma geração que tem tudo mastigado, sem raiz e sem base. Várias cópias uns dos outros, pois pegam dos mesmos sites. Então só é original quem produz sua própria música ou aquele cara que tem um toque a mais. Que busca, digitaliza, monta, edita, que tem mais o feeling de tocar, então de cada 100 DJ’s, tem 3 hoje em dia.

Há  muitas diferenças entre DJ’s, beat makers e etc.

Zé: Há muita diferença entre os beat makers, produtores e de um DJ’s de alma e um DJ de laptop. Pra mim só é DJ, claro que não é uma regra, mas pra mim só é DJ quem mixa e faz a mixagem achando a batida de uma música e da próxima. Quem não faz pode ser um seletor, nada de mais com isso, tem grandes seletores que destroem numa festa sem ser DJ. E se tivesse um teste, um exame pra ser DJ, vários não iam passar. Também queria dar uma agulhada e surgiu o lance do Jesus Luz uma semana antes, então foi muito comentado.

Então não  é uma coisa só do Brasil?

Zé: É mundial, com certeza. Não fui eu que inventei não, só fiz em português. Tem o #youcantdj e é muito doido. Um melhor que o outro. To me divertindo no Twitter.

Não rolou alguma oportunidade de trabalhar com alguém daqui que você já tinha trabalhado na época do Planet Hemp?

Zé: O Seu Jorge tá  no disco, mas eu não pensei em ninguém como MC, cantando em português por que o alvo era os EUA e não ia encaixar. O Seu Jorge é mais universal e é família, um irmão meu. Eu tenho relacionamento com todo mundo do Planet Hemp ainda, nunca fechei nenhuma porta. Mas até por que ia rolar uma cobrança depois, tipo dos que não entrassem. E mesmo os que cobram por não ter artistas do Brasil, eu digo que eu represento o Brasil. Toda a fonte inspiradora é o Brasil. Seria um trabalho legal fazer com os artistas daqui, eu tenho vontade de fazer.

::::: Sam volta do banheiro :::::

Voces conhecem o Sellaband? O Public Enemy recém se juntou e é como os fãs financiando o álbum, ganhando diversas vantagens (eu explico e Zé interrompe)

Zé: Enquanto você  falava o Sam foi abrindo o sorriso (risos)

Sam: Cara, eu acho uma ótima idéia. Muito bom. Parece um modelo muito legal a aproximação com os fãs diretamente.

Zé: É a nova indústria. Tem que fazer o esquema com a galera.

Sam: Gostei muito cara, muito direto com os fãs, sem merda de selos e gravadoras.

Especialmente com bandas como Public Enemy que tem fãs endinheirados que gostariam de ter um contato maior com a banda.

Zé: Eu daria uma grana pro Public enemy.

Sam: É, eu também, com certeza.

Zé: Chuck D era um cara que a gente queria muito trabalhar. Precisávamos dele no disco.

E tem algum que vocês não conseguiram?

Zé: Muitos

Sam: O principal foi James Brown. Tentamos o tempo todo, de muitas maneiras, ele é  meu músico favorito de todos os tempos.

Zé: O meu também, com certeza. Tentamos também o Andre 3000, o David Bowie que respondeu e foi legal. Lou Reed também.

Como vocês faziam?

Sam: Escrevíamos uma carta, com quem estava no disco, sobre o que era, o que queríamos com eles e foi isso.

Sobre a seção

Era uma vez é a seção que resgata matérias publicadas em edições passadas da NOIZE, as atualiza, na medida do possível, e publica o resultado no site para quem ainda não leu e para que quer reler.

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