Por Rafa Carvalho
Chame como quiser. Indie, indie rock, off pop, indie electro, enfim. O Brasil está num começo de ano que muitos podem considerar extraordinário no que diz respeito a showa de bandas “menores”. Dá a impressão que, ao menos uma vez na semana, gente que é freak em pesquisar música na rede se reúne para ver o novo show da nova banda favorita dos últimos quinze minutos ou como diriam os Titãs, a melhor banda dos últimos tempos da última semana.
Mas o que leva essas bandas alternativas a escolherem o Brasil, já que oficialmente ainda estamos fora das rotas convencionais de turnê das bandas grandes, que incluem somente Europa e América do Norte em seu roteiro e, quando muito, o Japão? Só nesses últimos quatro meses, tivemos bandas importantes no cenário mundial, que tocam em todos os festivais mais legais espalhados pelo mundo, como The National, LCD Soundsystem (foto), Miami Horror, The Drums, Vampire Weekend e o já mais do que consagrado Ozzy Osbourne. Pra citar alguns. Mas como é que essas bandas chegam ao Brasil? Quem é que traz? Elas vêm por livre e espontânea vontade? Às vezes, sim, já que o Brasil é o lugar do momento. Pode parecer coincidência, mas mesmo shows de bandas grandes já passam por aqui com mais frequência. Isso, porém, é tema de outro post.
Quando falamos em bandas ditas aqui como “indies”, falamos na maioria das vezes em um movimento inverso, a vontade tem que partir de empresas e empresários locais pra que essas bandas venham pra cá. O exemplo fresco que vem na minha cabeça – por ter passado o dia com os caras – é o The Drums. A banda, recém-estourada mundialmente, considera que todo público é válido, seja tocando num club no Brasil pra 2 mil pessoas, seja em um festival na Europa pra outras 20 mil. A banda é nova é está descobrindo o mundo. Mas e quando os promoters perdem esse time, e a banda ficou famosa demais? E como conseguir patrocínio (afinal não deve sair barato hospedagem e passagens de avião pra pelo menos 6 pessoas).
Vamos tentar entender um pouco desse cenário, onde nem só de nerds pesquisadores de música se vive. Existem aqui agências e produtoras especializadas em pesquisar e trazer essas bandas. Ainda sim, as dificuldades são grades, como afirma a promoter paulista Lalai. “Nem sempre vale a pena financeiramente. Sem patrocínio ou qualquer apoio, é sempre um risco grande. É necessária uma boa estratégia de divulgação, data e um preço de bilheteria acessível”, explica. “Eu tive uma noite que foi um fracasso total há alguns anos. O line up era incrível: Radioclit, Bonde do Rolê, Amanda Blank, Sinden e Mixhell. Era uma quarta-feira, caiu uma chuva de alagar a cidade, e a noite consistiu em mim, o line up e alguns poucos amigos. O jeito foi beber, mas depois a conta não fechou.” Lalai ressalta ainda que sua maneira de trabalhar com algumas poucas casas traz mais confiança no negócio, já que é quase uma bolsa de valores. “Sempre há algum risco, mesmo que seja uma atração que todos considerem unânime. Os acordos variam bastante dependendo da casa e do promoter. No meu caso, tem um facilitador, pois acabo sempre fazendo festas e shows nos mesmos clubes. Então, se der erro numa noite, corro atrás pra compensar em outra, até equilibrar a conta. Felizmente, nunca tomei um prejuízo diretamente, mas já causei e acredito que repus.”
Casas noturnas que apostam nesse tipo de formato estão sempre conectadas com esses promoters, que além de um bom faro musical, sempre têm a internet como aliada. E estar em sintonia com o gosto musical de uma plateia não é das coisas mais fáceis, já que quem usa muito a internet bem sabe, muitas vezes vemos algumas bandas estourando por aqui anos depois de ouvir pela primeira vez na internet. “Fazer uma boa pesquisa na web pra ver o quanto se fala dela é um ponto de partida. Depois, fazer pesquisa entre amigos, amigos dos amigos e por aí vai. Dá sempre pra ter um termômetro. Às vezes, a banda está super-rolando lá fora, mas aqui é tão pouco conhecida, que é melhor esperar um pouco, mas não deixar passar demais, pois pode tornar-se inviável. É uma conta diícil”, completa Lalai. Além de tudo, é necessário ter uma boa rede social, no melhor sentido da palavra, e entender que se está trabalhando com profissionais. “Atualmente, é mais fácil. Hoje, tenho contato com várias agências internacionais e alguns managers e acabo indo diretamente neles ou na própria banda, se ela for tão pequena que nem manager tem. Se a banda for maior, eu prefiro contratar uma agência brasileira pra cuidar de todo trâmite, porque o trabalho é grande”, finaliza.
Pode se dizer, enfim, que para que tais bandas venham tocar no nosso clube preferido, existe um aparato sem fim de gente que negocia essa viajem ao Brasil. E cada vez mais empresas estão de olho neste tipo de público, onde sua marca pode falar diretamente com o cliente final, sem tantos intermediários. Já é uma grande oportunidade de estreitar relações com o público e é uma modalidade de show que as grandes metrópoles cada vez mais investem, já que não se precisa da estrutura de um U2, sem contar na oportunidade que se proporciona às pessoas de verem música nova, ainda cheirando a leite.