Liniker e os Caramelows invadiram a pista como um furacão. Seguidos pelo vento da mudança e a espontaneidade que somente uma força da natureza possui.
A voz poderosa swingada pelo soul, groove e muita black music tomou conta das timelines e foi ouvida por milhões de internautas. “Zero”, “Caeu” e “Louise du Brésil” abriram alas para o EP Cru (2015). Bastaram algumas músicas para que ficássemos viciados e aparentemente não era possível falar de outra coisa.
A partir daí, o grupo não parou. Acumularam participações em programas de televisão, shows em festivais e vídeos no Youtube. O carinho do público ficava cada vez maior, mais shows foram acontecendo… E agora vem Remonta, o primeiro disco gravado em estúdio, que tem previsão de ser lançado em setembro deste ano.
O álbum, que fez transbordar a meta do financiamento coletivo no Catarse, vem para coroar e reafirmar o bom trabalho. Porém, a colaboração não é algo exatamente novo para eles. Com uma banda composta por seis pessoas – sem contar todas as envolvidas direta ou indiretamente – o poder do grande grupo parece ser uma constante na vida deles.
Conversamos com Rafael Barone, baixista e produtor de Liniker e os Caramelows. Em um papo sobre processo criativo, talentos do interior, participações especiais, privilégios e naturalidade, Barone nos contou um pouco do que vem por aí.
Remonta vindo aí: Parabéns! Deve ser muito emocionante. Já está tudo andando, vocês estão em estúdio…Como está a expectativa neste momento?
A gente está muito ansioso. Na verdade, estamos no processo dessas músicas desde setembro do ano passado, que foi quando a gente montou a banda e começou os arranjos para shows e tudo mais. Viemos dessa primeira turnê, do primeiro semestre, tocando essas músicas. Agora, sentamos para rever elas, remontá-las com o nosso produtor Marcio Arantes.
Vocês já estão apresentando algumas das novas canções nos shows. Como está sendo a receptividade do público?
Tem algumas que a gente já fez em performances ao vivo, como “Tua” – que a gravamos no Cultura Livre no começo do ano. Chegou um momento dos shows, que a galera já estava cantando, mesmo sem ela ter sido gravada por nós.
A gente trouxe em roupagens um pouco diferentes – agora no Remonta receberam uma nova interpretação. Por causa disso tudo, tem sido muito bacana ver as reações e comentários específicos sobre as músicas…tem sido bem interessante.
O prazo inicial para o lançamento desse novo álbum é setembro, né? Como está processo? Pensando que este prazo está cada vez mais perto…
Isso. Exatamente! A gente está com uma equipe muito legal, começamos essa conversa sobre a gravação – efetivamente – e produção executiva em janeiro. Fechamos com Red Bull Studios São Paulo, começamos a decidir quem seria o produtor/ processo / formato de lançamento e tudo mais. Então, como você pode ver, a gente está correndo muito contra o tempo. Mas, vai dar tudo certo! Já temos os primeiros shows marcados…
Shows marcados para divulgação do Remonta?
Sim. Já temos setembro e uma parte de outubro fechadas. Vamos para várias capitais, alguns lugares que já foram divulgados como: o nosso primeiro show que será no Festival Contato, em São Carlos , dia 17 de setembro. Final de semana seguinte, teremos o Festival Mada em Natal e assim vai…
Sobre os shows agendados e eu vi que alguns países, como Portugal e Espanha já demonstraram interesse em performances ao vivo. Vocês estão pensando em incluir alguns desses locais na próxima tour?
Estamos interessados, sim. Existem algumas conversar iniciadas, mas nada fechado. Tem propostas para a Europa, Estados Unidos, aqui na América do Sul…e a gente está muito a fim! Estamos vendo viabilidade, até porque a turma é muito grande. É uma turnê que não é tão fácil de se produzir – em questão de logística – mas vai rolar! No ano que vem, com certeza. Esse ano ainda existe a possibilidade da fazermos o primeiro show internacional.
Ter uma banda grande tem algumas particularidades, né! Pensando, principalmente, que existem diferentes influências, backgrounds e referências. Como funciona o processo criativo de Liniker e os Caramelows?
É muito legal, porque dentro dos Caramelows, a gente concorda com muita coisa, bate muitas ideias, podemos conversar sobre qualquer assunto…menos sobre música [risos]. Brincadeira! Mas, realmente, cada um tem uma influência mais forte, o que é incrível porque bebemos de várias fontes. Toda essa mistura acaba gerando um som interessante, com um pedacinho de cada um ali dentro.
Quando a gente montou o show, construímos os arranjos juntos e cada contribuía dentro do seu instrumento, interferia no instrumento do outro… Enfim, a gente sempre fez um processo bem colaborativo e aberto. Dai, quando sentamos para pensar o Remonta fizemos um exercício de desprendimento mesmo, de colocar na mão do Marcio e falar: “Ó, até então a gente fazia assim. Para onde vamos?”
Então, tem muito dele agora. O que é muito legal, porque viemos resolvendo alguns conflitos de arranjo e outras coisas que mudaram completamente o rumo. O que no final das contas, ainda, segue sendo um processo extremamente colaborativo baseado no respeito de entender que cada um somou alguma parte naquilo.
No EP Cru, as canções transitavam entre black music, groove e outros estilos que resultaram no som de vocês. A gente pode esperar algo nessa linha para o Remonta ou vai ser algo totalmente novo?
A gente bebe muito da black music, soul, da música preta brasileira e isso manteve. O que tem de novo é que elas trazem uma roupagem…é difícil definir [risos]… olha lá, é fácil errar nessa pergunta [risos]. As canções estão um pouco mais refinadas, digamos assim. Viemos com um pente-fino, uma lupa maior, sabe?
Focamos muito em detalhes, trabalhamos mais nas pequenas coisas. Essa é a grande diferença. E soa mais plástica, logicamente, porque estamos trabalhando dentro do estúdio. Em contrapartida com a primeira gravação, que foi ao vivo, com aquela visceralidade toda. Quando a gente transpõe para o estúdio, ela ganha no sentido de conseguirmos trabalhar os detalhes. O que pode ser considerada uma estética um pouco mais plástica.
Esse novo disco teve financiamento coletivo no Catarse. Como foi, para vocês, quando descobriram que não somente atingiram a meta como ultrapassaram a marca em quase 50%?
[Risos] Para gente foi muito incrível. Nós viemos trabalhando desde o começo com uma perspectiva de fazer um projeto muito bem feito dentro do meio independente. Essa foi a proposta inicial, antes mesmo de tudo isso acontecer. Quando sentamos a primeira vez, Caramelows com Liniker, esse era um norte: ser uma banda, que faz um trabalho muito bem feito dentro do independente.
Então, quando a gente consegue – sem intervenções – produzir um álbum com R$ 100 mil…(na verdade, fomos atrás de outras formas de financiamento também)… Se a gente tem esse respaldo do público é realmente incrível. É uma força e uma confirmação de que a gente está apontando para um sentido bacana, o qual as pessoas se identificam e que tem muita chance de continuar dando certo.
O poder do coletivo e a força das redes sociais, pelo menos nos últimos tempo, tem sido muito importante na história da banda. Como vocês lidam com esse carinho?
É importante contextualizar, que a gente não vem somente desse movimento da internet, mas também somos filhos de tudo isso. Antes mesmo de estar tocando nesse projeto, já ouvíamos muita gente desse meio que tocamos hoje. Vários convidados que irão participar do disco, conhecíamos de antes. Então, temos esse sentimento de pertencimento mesmo, estamos juntos nessa cena e que o público identifica isso… Enfim, acabei divagando um pouquinho [Risos].
[Risos] Claro que esse contexto é super importante. Já que o primeiro EP teve um sucesso tão grande, principalmente em meio aos fãs, vocês sentem algum tipo de pressão na hora de fazer o Remonta? Ou é só amor, mesmo?
[Risos] Acho que a gente sente menos pressão. Como tivemos esse feedback muito positivo e o EP foi um material pensado de forma a produzir algo que a gente curte muito… Então, temos essa confiança de que conseguimos seguir fazendo. Porque tem que passar pelo nosso crivo – de todos os integrantes, que são muito diferentes. Passando por esse crivo, nós temos certeza que o público vai curtir muito.
E somos muito chatos com a parte musical [risos] Então, acredito que é esse lance de sintonia mesmo, das pessoas se identificarem com o que gostamos e o que expressamos. Isso vai s manter!
Pelo material de divulgação apresentado até agora, podemos esperar grandes participações. Como foi a escolha desses artistas?
A gente tinha muita vontade, primeiro, de ter alguns outros instrumentos. Nós sentimos necessidade de ter mais metais em algumas músicas. Por isso, chamamos para fazer – quatro canções – o naipe do Bixiga 70. O Cuca [Ferreira], [Daniel] Gralha e o Daniel [Nogueira].
Teve uma outra que o Márcio [Bortoloti], nosso trompetista, fez junto com o Gil Duarte do Aláfia – outra banda de parceiraços. Falando em Aláfia, a Xênia [França] também vai cantar em uma música. Ainda sobre os sopros, que a gente é fã absoluto, o Thiago França.
A percussão era outra coisa que a gente queria muito ter. Convidamos o Danilo Moura, da As Bahias e a Cozinha Mineira. A gente fez recentemente uma turnê juntos e ficamos apaixonados pelo trabalho dele. Ele participou de cinco canções. O Maurício Badé, também – um cara que a gente admira muito. Percursionista! E muitas outras participações incríveis.
O [Marcelo] Jeneci fez umas teclas, também.
Um dos motivos pelo que vocês optaram por fazer o financiamento coletivo era de manter uma certa autonomia nas decisões. Como está sendo essa jornada independente?
Dividimos assim: a direção artística é feita pelo grupo mesmo. Sentamos juntos para definir o norte e como vai soar de uma forma geral. Na parte dos arranjos, decupar cada música e fazer o ajuste fino dos arranjos ficou na mão do Marcio mesmo.
E toda a parte que não é musical, como a abordagem na divulgação, licenciamento de música… Enfim, tudo isso que queremos ter muito próximo e fazemos questão de nós mesmos executarmos. Assim, saberemos com certeza como chegará o produto. Sem lobby, sem trabalhar com jabá. A gente é completamente contra tudo isso.
Acredito que é principalmente nesse sentido que falamos em “independente”. Possuir autonomia no nosso modelo. Temos essa questão que é um tanto política mesmo, de fazer questão de ser da forma como a gente acredita.
Liniker e Caramelows são muito bem sucedidos no meio independente. Algo, que infelizmente, não é uma constante na realidade do Brasil. Ao chamar pessoas dessa cena para participar do novo álbum de vocês, existe essa ideia de “dar visibilidade” a esses artistas?
A gente quer “trazer junto”, sim. Somar com as pessoas. Porém, muito antes da nossa banda existir a gente já era muito fã dessa galera. Portanto, é também pela questão de querer estar junto. De somar mesmo.
Inclusive, tem um single que pensamos nesse sentido mesmo, é uma inédita. Inicialmente, Liniker estava falando com Tássia Reis. Nessa época, acho que a Tássia nem conhecia a gente. Ela tinha acabado de lançar o material e Liniker já era muito fã dela. Então, mandou uma mensagem para ela, começaram a conversar pelo chat do Facebook e escreveram uma letra compartilhada. Ele escreveu um trecho e mandou pra ela, ela fazia a mesma coisa. A música ficou pronta antes deles se conhecerem.
Ela foi visitar a gente em Araraquara, sentamos todos – Liniker, Tássia e os Caramelows – e montamos um arranjão. Ficou maravilhoso! Gravamos ali no nosso estúdio, mandamos para Aeromoças e Tenistas Russas. Uma banda de parceiros nossos de São Carlos. Então, eles refizeram o arranjo com algumas particularidades deles, com uma narrativa do interior de São Paulo. Dai mandamos para o Marcio Arantes, ele deu uma refinada e só então, a gente gravou.
Nossa! O colaborativismo na sua forma mais pura.
Total! Por isso, fizemos questão que essa fosse o nosso primeiro single. Nós viemos do interior de Araraquara e vivemos essa cena lá. Assim, como nós, na cidade tem muitos artistas extremamente interessantes que inclusive já trabalhamos juntos. Achamos muito importante dar essa voz, trazer essa narrativa que “os interiores são foda”. Os interiores do Brasil, não só de São Paulo.
Liniker representa muito mais do que umx cantorx – pelo figurino, a forma de se portar, a questão “ele” ou “ela”- enfim uma série de fatores. Quero dizer, de uma forma muito natural – talvez até sem querer – a banda acabou levantando uma bandeira e servem de referência para muita gente. Minha pergunta é como vocês enxergam tudo isso?
Falo por mim, né. Eu vejo como um grande privilégio. Me sinto privilegiado por ter conhecido Liniker e ter iniciado esse projeto junto. A gente fica abismado sempre. É como você falou é muito mais do que um cantor, é compositor incrível também. Ele tem uma sensibilidade sensacional com a música. Por exemplo, ele nunca estudou teoria musical, mas no momento que começa a tocar uma harmonia complexa ou fora do padrão… Ele ouve a primeira vez e na segunda já está junto, instintivamente.
Fora todas as questões pessoais, ele é muito resolvido. Isso é algo que sempre falamos, porque no começo do projeto, havia muita repercussão à figura do Liniker. E isso para ela, sempre estava – de fato – muito bem resolvido. Nunca foi uma questão de autoafirmação, muito pelo contrário, estava tudo certo na cabeça dele que simplesmente é tratado de uma forma muito natural.
O nome do novo disco já está escolhido há algum tempo. Por que Remonta?
É um nome bem forte, né! Adoro esse nome. Na verdade, vou falar com menos propriedade, porque quem criou o nome foi Liniker. Já chegou com o nome pronto. Quando começou a escrever as primeiras cartas, que depois vieram a ser as letras, ele tinha 16 anos. E vem muito dessa questão de remontar. O ato de desconstruir e reconstruir, não apenas as relações, mas a si próprio também.
O disco tem muito dessa narrativa. Algumas músicas mais pops – que falam de relacionamentos frustrados, uma busca de um relacionamento mais construtiva. A letra da faixa que abre o álbum diz bem isso “Remonta o amor/ remonta a dor”.
E nesse álbum vocês vão continuar falando de amor?
Siiiiim! Quase todas.
Para finalizar, o que mais você pode nos adiantar sobre “Remonta”?
O disco tem 12 músicas, dessas 4 são inéditas. São 12 músicas, mas no CD haverão algumas brincadeiras.
A ideia é realmente montar uma obra, então terão algumas amarrações no CD físico. O que vai garantir que tenha algumas faixas a mais. É o que posso dizer, sem estragar a surpresa [risos].
Tá ficando lindo demais! Isso eu posso dizer com certeza.