O penúltimo dia de Festival Bananada começou explodindo de expectativa. Até agora, a noite de sábado foi a com maior concentração de shows de peso num curto espaço de tempo. O kitsch da Consuelo, o indie de JP Cardoso e o reverb acolhedor da Terno Rei começaram abrindo o caminho para os paulistas da Aeromoças e Tenistas Russas chegarem no palco Chilli Beans com uma verdadeira chuva de sintetizadores no seu instrumental contagiante.
Luiza Lian subiu ao palco Spotify com um figurino que ao mesmo tempo era cenário, acompanhada de Charles Tixier (Charlie e os Marretas) nos beats. Essa dose cavalar de psicodelia vem junto da carga conceitual do álbum visual Oyá Tempo, lançado em março deste ano. A cantora paulistana mostrou sua complexidade, sua voz afinadíssima e a presença hipnotizante.
No palco Skol, os goianos da Carne Doce estavam em casa. O orgulho da banda em se apresentar no Bananada depois de tudo que conquistou no último ano era escancarado – e essa energia intensa apareceu na apresentação. “Princesa” abriu o show com a bateria certeira de Ricardo Machado acompanhada da percussão de Gabriel Cruz, e a performance animalesca e visceral da vocalista Salma Jô deixou toda a plateia vidrada, cantando junto até com a guitarra em “Cêtapensano”.
Os timbres impecáveis continuaram em “Sertão Urbano”, que ganhou um clipe homenageando Goiânia na semana passada. “Artemísia”, “Passivo” e “Falo”, como é de costume, fizeram todas as mulheres ali presentes explodirem. Mas nem só de agressividade vive a Carne Doce, e o gingado fortíssimo de “Açaí” veio pra equilibrar o set.
Gingado, aliás, foi o que mais teve com Liniker e os Caramelows. A apoteótica “Remonta” começou embalando uma apresentação intensa, e das mais lotadas que vi em todos os dias do festival. Em “Zero”, a banda teve o acompanhamento de um coro de milhares. Não existe amar pela metade no som deles, mas os Caramelows também sabem fritar sem perder a sincronia, como deu pra ver em “Ralador de Pia”.
Antes de terminar o setlist, a cantora de Araraquara parou e perguntou: “Vocês aguentam mais uma?” – e a multidão que se reunia no palco Chilli Beans não só pediu mais como gritou para que ela tirasse a roupa em “Tua”. E quando todo mundo já não parava mais de suar, o groove incontestável de “Caeu” veio pra fechar com toda a força que o momento pedia.
Na sequência, veio o que talvez seja o momento mais histórico dessa edição do Bananada. O show dos Mutantes começou da maneira mais inusitada possível, com Sérgio Dias abraçando o coordenador do festival, Fabricio Nobre, e constatando: “A genialidade existe”. Ali, o músico estava entre amigos, dispensando a entrada triunfal que tantos outros artistas tentaram fazer. A nova formação chegou em Goiânia com todo o gás, mas ao mesmo tempo tinha uma intimidade com o público como se estivesse na própria sala de jantar. Literalmente todo mundo dançou.
Nem os seguranças, os técnicos no backstage, os jornalistas e muito menos os fotógrafos conseguiram resistir ao tropicalismo e ao rock psicodélico do grupo que tocou nos primeiros festivais realizados no Brasil. Sérgio, inclusive, tocava com uma guitarra de 1974. O setlist uniu os sucessos consagrados “Ando Meio Desligado”, “Baby”, “Não Vá Se Perder Por Aí” com algumas faixas mais recentes do disco Fool Metal Jack (2013), como “Time and Space”.
Em “A Minha Menina”, tenho quase certeza de que vi até as grades da pista cantando – e “Bat Macumba” com certeza fez as janelas dos prédios ao fundo balançarem. Essa festa gigantesca terminou com “Panis Et Circenses”, mas o público demorou um pouco pra começar a se movimentar. Talvez, assim como eu, ainda estivessem tentando acreditar que aquilo tinha realmente acontecido.