Pluma detalha a produção de “Não Leve a Mal”, seu primeiro álbum

30/07/2024

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Erick Bonder

Por: Erick Bonder

Fotos: Maria Cau Levy/ Divulgação

30/07/2024

A banda paulistana Pluma acaba de lançar seu álbum de estreia, Não Leve a Mal, disponível desde o dia 19/7 nos tocadores de áudio. Formado por Marina Reis, nos vocais, Diego Vargas, nos teclados e synths, Guilherme Cunha, no baixo, e Lucas Teixeira, na bateria, o grupo passeia com habilidade por diferentes gêneros e técnicas de produção.

Trazendo canções com apelo pop e pegada indie, o quarteto lança mão de elementos de gêneros como o jazz, o neo soul, o R&B, o house e o drum and bass para criar grooves dançantes e timbres psicodélicos. Todos os integrantes são excelentes musicistas, com domínio técnico preciso de seus respectivos instrumentos, e ainda dividem a produção das músicas com Hugo Silva.


Mesclando as gravações orgânicas com samples e demais interferências digitais, o álbum conta com a participação da dupla de DJs Deekapz, na faixa “Sem Você”, e colaborações da guitarra de Felipe Martins e do trompete de Lucas Gomes

Na última sexta-feira, 26/7, a banda lançou o clipe da faixa “Quando Eu Tô Perto”, dirigido por Gabriel Rolim e Pablo Aguiar. O grupo se apresentará no Festival 5 Bandas, promovido pelo Minuto Indie, no dia 31 de agosto, na Casa Rockambole, em São Paulo. Mais datas serão anunciadas em breve.

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Conversamos com Marina, Diego, Guilherme e Lucas sobre a Pluma e seu primeiro álbum, Não Leve a Mal. Confira:


Vocês têm dois EPs, vêm numa sequência de lançamentos e agora chega o álbum de estreia já tendo alguma abertura com um certo público definido. Como foi trabalhar o disco já tendo essa experiência?

Marina: Acho que tem um lado bom de já ter experimentado algumas coisas, se conhecer, ter sintonia, ter tocado bastante junto. A expectativa externa, não sei exatamente qual era, mas acho que, como a gente já construiu um certo público e já começou a traçar nosso caminho, tem uma expectativa nossa, desde o começo, de fazer um ótimo primeiro álbum e não decepcionar a nós mesmos e nem a ninguém. Estou falando por mim, senti bastante pressão na hora de começar a compor e produzir um disco, porque a gente não está se lançando ao mundo pela primeira vez. A gente já existia e isso criou uma certa pressão interna, eu diria. Mas, no geral, foi positivo, porque é um álbum do qual temos muito orgulho e conseguimos fazer ele no momento em que já tínhamos noção de como trabalhar juntos. Ao mesmo tempo, a gente descobriu muita coisa no processo.

Guilherme: A expectativa era superar as expectativas.


Noto que vocês conseguem unir canções com apelo popular ao que a gente poderia chamar de “virtuosismo técnico”. Como é que vocês trabalham essas duas esferas?

Guilherme: Quando a gente estava fazendo o disco, e ele estava tomando forma, eu lembro que isso foi uma das coisas que mais nos preocupava. Com os nossos primeiros EPs, começamos a ouvir a nossa própria música por outra perspectiva. Então, veio essa vontade de manter a identidade, de apresentar essas referências, mas de também tentar inovar em alguns aspectos e fazer um som que, no final das contas, a gente gosta. Tem essa questão muito forte da banda também, do virtuosismo que você mencionou, mas sempre respeitando e mantendo a canção.

Diego: Essa foi uma parada que a gente focou: se divertir tocando. A maioria das passagens mais complexas, musicalmente, surgiram porque a gente estava se divertindo. É tipo: “Pô, olha que legal, vamos tentar fazer um negocinho nessa parte para dar um brilho a mais”.

Lucas: Tem um lance também de se colocar no limite. A Pluma é onde eu testo o meu limite técnico. O que o Diego falou também é real, tem muitas coisas que a gente faz nas músicas porque estamos  brincando e isso acaba gerando uma liberdade criativa. As nossas músicas têm estruturas únicas, a gente é um pouco desapegado com fórmulas como verso-refrão-intro. Isso gera identidade, mas ao mesmo tempo, eu e a Marina sempre fomos o lado mais pop da banda. Sempre gostamos de canções com melodias fáceis e bonitas.

Marina: Esses dois lances acabam complementando a identidade da banda. Do meu ponto de vista, entrando no álbum, senti um pouco essa função de ser uma âncora na música, uma base. Muitas vezes começamos com a parte instrumental, com ritmos quebrados, harmonias doidas, e eu sentia vontade de trazer algo que segurasse a música, que as pessoas tivessem mais facilidade de acompanhar. Fiz isso racionalmente, mas também de forma irracional, porque tenho minhas próprias referências, até de MPB, de canções bonitas, gostosas de cantar. Tentei trazer um pouco disso e talvez tenha gerado esse contraste. A banda vai para muitos lugares e, às vezes, a canção dá uma segurada.


Como é o processo criativo de vocês? De composição até na produção.

Diego: Geralmente, quando estamos ensaiando, entre uma música e outra, alguém faz alguma brincadeirinha que acaba se desenvolvendo numa ideia harmônica, em um groove, uma base para música. Mas também aconteceu no álbum, da Marina ou eu chegarmos com uma música 80% pronta. A partir disso, a gente vai misturando, experimentando. Tentamos fazer umas coisas começando pelo computador, gravando ideias, beats, loops. Algumas coisas viraram e a gente trouxe para a banda, outras não deram certo. Era o primeiro álbum, experimentamos de tudo.

Lucas: Tem esse lance de que todo mundo é formado em produção musical, então todos mexemos no computador, no próprio Pro Tools, no Logic. Esse álbum passou por várias DAWs: Logic, Pro Tools e outros. Até o Fruit Loops, com o Deekapz. Então tem um timbre de cada DAW.

Guilherme: A gente ainda fez a pré-produção com o Hugo. Ele ajustou BPM, alguns detalhes, gravou tudo, trouxe de volta para o computador. Acho que a gente testou muito no nosso segundo EP, que foi totalmente pandêmico, e conseguimos explorar melhor o uso de samples, por exemplo. Isso ajuda a aplicar estéticas que curtimos muito. Mas foi loucura, um vai e volta maluco. Foi meio sofrido para não nos perdermos nas sessões.

Marina: O computador acaba sendo uma parte muito importante do nosso processo, tanto antes de gravar, quanto depois. A gente fez uma viagem de composição, de demos, rolou coisas incríveis no computador. Ele faz uma parte muito grande do nosso processo criativo e na pós-produção também. Depois de gravar, muita coisa acontece. A gente foi vendo as músicas renascerem também. 


Vocês passeiam por vários gêneros sem se ater a nenhum deles, porém tenho a impressão de que trabalham esses elementos com um acabamento de canção indie. Poderiam falar um pouco dessa questão? 

Lucas: A gente sempre quer chegar no limite. Isso também tem a ver com gêneros. Em vários momentos, a gente ouve música junto e vai em shows. Por exemplo, quando tocamos em Barcelona, no Primavera Sound, vimos shows que foram muito importantes para nós, como Tame Impala, Little Simz, Remi Wolf e Tyler, The Creator. Em vários momentos, chegávamos e falávamos: “Galera, temos que fazer um som assim, um drum and bass bem foda, um jazz, um disco, um house”. Esse lance do gênero tem um pouco a ver com isso. Achamos tudo legal, ouvimos muitos artistas. Às vezes, vem de uma curiosidade: “Como seria a Pluma fazendo esse gênero? Como pegamos um pouco dessa estética e transformamos em algo nosso?”. Pelo fato de termos vindo de uma faculdade de música, lá, por exemplo, eu era baterista de rock, mas em vários momentos tive que estudar a história da música eletrônica e fazer um beat técnico porque o professor pedia. Nisso, você descobre que a música vai muito além do gênero.

Diego: Tentamos fazer todos esses gêneros, mostrar todas essas coisas, mas são sempre nossas interpretações. E estamos limitados pelas nossas capacidades técnicas, isso acaba fazendo virar outra coisa. Você não imagina exatamente o que vai sair quando começa, mas acaba descobrindo no final.

Marina: Sim, parte da nossa sonoridade é criada dessa forma porque nunca nos atemos a um gênero específico. Nunca tivemos uma sonoridade em que os quatro olhassem e dissessem “isso é o nosso som”. Ainda estamos descobrindo o que a Pluma pode ser. Acho que o próximo álbum pode ser completamente diferente, não sabemos. Dentro dessa descoberta, encontramos elementos que são nossas características, alguns vícios, hábitos e escolhas nossas, mas isso não se limita a um gênero. 

Guilherme: O que fazemos vem de um lugar natural, do que estamos ouvindo. Lembro que, no momento de composição e produção, trocamos muita música. Eu me forçava a ouvir umas coisas que o Lucas mandava. Como o Lucas disse, a Marina e ele são o lado mais pop, eu e o Diego nem tanto. Então, eu me forçava a ouvir algumas coisas que eles mandavam e tentava entender o que gostavam naquela música. Na hora de sentar e tocar, é juntar várias dessas referências e compartilhar ideias. 


Na faixa com o Deekapz, o som dialoga com uma sonoridade explorada no hip hop. Queria que vocês falassem um pouco dessa interlocução.

Lucas: O hip hop influenciou tanto a música moderna que hoje em dia é difícil apontar o que é hip hop e o que não é. O próprio fato de estarmos no computador fazendo música já é uma influência do hip hop. É doido, porque, por um lado, vejo mais neo soul, do que hip hop. Vejo mais D’Angelo e Hiatus Kaiyote, do que necessariamente hip hop. 

Diego: E se essas pessoas não beberam do hip hop, quem é que bebeu?

Guilherme: Às vezes, não é nem que a gente toque jazz ou hip hop, mas somos muito influenciados por coisas que vêm desse lado. O próprio BadBadNotGood, uma grande referência para a parte instrumental, é uma mistura muito foda, pautada em jazz e hip hop. Muita coisa que gostamos no alternativo, quando vai mais para o jazz ou para um lado mais viajante, tem essa base de groove e timbres.

Lucas: Antigamente, as bandas se reuniam e faziam as músicas no ensaio. Depois, isso foi mudando. Hoje em dia, algumas bandas unem esses dois mundos. Acho que a Pluma tem um pouco disso. Temos um momento no estúdio, mas também temos um momento no computador. 

Guilherme: São formas de pensar música completamente diferentes. No hip hop ou no funk, muitas vezes, a música acontece ali naquele momento e ponto. A pessoa faz a música em um dia e vai para as plataformas. Quando juntamos com o Deekapz, ficamos super amigos dos meninos, são artistas incríveis. Já tínhamos composto as músicas da parte mais dançante do disco e na hora de produzir o house com banda, pensamos: “Putz, ou chamamos alguém saiba fazer isso bem ou deixamos para lá”. Foi outro choque trabalhar com eles, importar todas as faixas para o Fruity Loops. Da mesma forma que toco baixo, o Matheus toca o Fruity Loops. Todo mundo vai achar que foi o Diego que fez esse solo, mas foi o Matheus do Deekapz, galera. Foi uma junção foda. Além de juntar referências e pessoas diferentes, juntamos as linguagens e os meios de produção. 

Diego: É bizarro. Ele fez o solo da música no teclado do computador. Eu estava atrás dele babando. Mandou dois takes e falou: “Acho que ficou legal”. Eu estava assistindo, cara, perplexo.


O nome da banda e do álbum, as letras das músicas, isso tudo está ligado à sonoridade. Acho que essa coisa da leveza, de algo que flutua, acaba se tornando um guia conceitual. Está certo dizer isso?

Marina: Esse ponto é legal. É bom ouvir que se vê coerência, porque as coisas foram acontecendo e muitas vezes tínhamos medo de não ser coerentes. O nome da banda veio um pouco aleatoriamente. Éramos uma banda de faculdade, chamávamos Rosa Flamingo e decidimos mudar antes de nos lançar, porque havia muitas coisas parecidas com isso. O nome Pluma veio durante uma chamada de vídeo na quarentena, meio que aleatoriamente. Todos conversamos e gostamos da palavra, da sonoridade, bateu para todo mundo na hora. 

Diego: Escolhemos porque soava bem, mas acho que acabou influenciando na sonoridade.

Marina: Sinto que não foi algo pensado, mas inconsciente. Nós já ouvimos isso. O álbum joga muito com contrastes. Se você for ver as ondas nas tracks, uma hora elas estão pequeninhas, outra hora já estão enormes. Tem uma dinâmica grande, que sempre gostamos. Nas letras, tanto eu quanto o Diego, que fizemos praticamente todas, temos uma personalidade um pouco mais introvertida. Isso reflete nas letras, que são muito sobre o que está acontecendo dentro de nós, tornando elas um pouco mais etéreas. Hoje, olho para o projeto e vejo coerência, mas no meio do processo, muitas vezes ficávamos pensando se estava tudo conversando.


É um novo momento para a banda, imagino que vocês devem estar com várias expectativas. Shows, festivais, videoclipes, o que vem pela frente?

Diego: Estamos no processo de montar os próximos shows, esperando algumas novidades. Tem a sensação de querer rodar muito com o disco, de chegar em cidades que nunca fomos. Montar esse show é um desafio. Baseado em tudo que falamos sobre nossa forma de criar música, agora temos o desafio de como tocar isso ao vivo, de como deixar isso massa não só musicalmente, mas também visualmente. Queremos que seja um espetáculo visual, que prenda a pessoa mais do que simplesmente chegar lá e performar as músicas perfeitamente. Tem que ser algo cativante.

Guilherme: A expectativa é que a gente consiga chegar nas pessoas, que aquilo que estava na nossa cabeça faça sentido. Queremos muito tocar esse álbum. Lançamos agora um clipe com o Pablo Aguiar e o Gabriel Rolim, que dirigiram e fizeram um milagre acontecer. 

Marina: Passamos muito tempo espremendo dois EPs. Era muito difícil fazer um show com um repertório tão pequeno. Estávamos botando tudo que tínhamos, desde quando éramos uma banda de faculdade, fazendo covers. Enfim, é muito bom agora ter um projeto, algo que acreditamos e amamos, para poder realmente colocar isso no mundo da melhor forma possível e montar um show completo.

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30/07/2024

Erick Bonder

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