Irmão do Festival de Cinema de Vitória, que chegou a sua 31ª edição em julho, o TendaLab começou como uma tenda de karaokê, mas logo ganhou vida própria. Pelo segundo ano consecutivo, o festival ocupou o campus da Universidade Federal do Espírito Santo, sendo posicionado entre os prédios dos cursos de design e cinema. No último final de semana, entre sexta-feira e sábado, 26 e 27 de julho, cerca de 27 mil pessoas prestigiaram as doze atrações do evento.
De acordo com Lucia Caus, diretora e curadora, “a nona edição celebra em seu line-up artistas que estão em momentos distintos de suas trajetórias e que se conectam por sua originalidade musical”, ela aponta no texto de apresentação do festival.
A programação cria pontes entre a cena capixaba com o restante do país. Neste ano, Roberta de Razão e André Prando, representantes da nova geração, lançaram discos no palco do TendaLab. Além deles, a Macucos celebrou 25 anos de estrada como representantes do reggae nacional, e o coletivo Aurora Gordon, encabeçado por Murilo Abreu, mergulhou no repertório da banda Os Mamíferos, grupo emblemático da década de 1970.
Para completar a escalação, nomes aguardados pelo público. O samba se fez presente na voz de Alcione, Martn’ália e Fundo de Quintal. Já Odair José, que não tocava em Vitória há mais de 20 anos, mesclou sucessos com canções de seu último álbum, Seres Humanos (e a Inteligência Artificial), lançado no final de junho. “O preconceito não pode existir, principalmente no amor”, declarou antes de emendar “Vou Tirar Você Desse Lugar” e “Paixão”.
A cantora Filipe Catto arrancou lágrimas e suspiros com o show Belezas são coisas acessa por dentro (2023), onde interpreta canções do repertório de Gal Costa. Em formato power trio, ela canta acompanhada de Michelle Abu na bateria, Gabriel Mayall no baixo e Fabio Pinczowski na guitarra. No setlist, destaque para a versão acapella de “Lágrimas Negras”, que abre a apresentação, e a dobradinha de “Vaca Profana” e “Chuva de Prata”.
Agitação musical
Entre os sets e após os shows, o TendaLab trouxe os DJs Karolla e Zappie para animarem o público heterogêneo, formado por estudantes da faculdade, famílias e pessoas de todas as idades. A festa paulistana Sintonia, de KL Jay, DJ Will e DJ Ajamu, foi a responsável pelo encerramento.
Muitos grupos de pessoas foram munidos de cadeiras de praia, pois a plateia se programou para chegar cedo e ir embora apenas no final da programação, que foi até altas horas da madrugada. Em ambos os dias, fãs vestiam camisetas com os nomes e rostos dos artistas, de Alcione a Filipe Catto, havia algo para diferentes paladares. A curadoria esperta propôs shows que mesclam o autoral com sucessos do cancioneiro nacional.
O estado vive um momento de efervescência cultural, resultante de leis de incentivo e políticas públicas de apoio à cultura. Em texto publicado na revista do TendaLab, Fabrício Noronha, Secretário de Estado da Cultura, explica como o cenário capixaba se destaca do restante do país:
“Vários fatores contribuem para isso: um mercado mais maduro, profissionais atuantes, parcerias e espírito coletivo entre os agentes. Não podemos esquecer das leis de fomento à cultura que, na contramão do que viveu o Brasil com o fim das políticas federais do governo anterior, por aqui tiveram o seu momento de maior investimento O Espírito Santo vive um momento especial, em que nunca se investiu tanto em políticas públicas para a música e todos os fazedores de cultura.”
Não à toa, o festival se insere dentro de um ecossistema de eventos, há o Movimento Cidades, Samba Que Eu Quero Ver, Festival Marien Calixte Jazz e o Festival de Inverno de Sanfona e Viola de São Pedro do Itabapoana. Inclusive, a décima edição do TendaLab foi confirmada para 2025, o line-up e as datas serão anunciadas nos próximos meses.
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