Por dentro dos festivais: como foi a segunda edição do Sensacional! Celebra

04/09/2024

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Bruna Vilela

Por: Bruna Vilela

Fotos: Divulgação

04/09/2024

O Festival Sensacional! Celebra ocupou o Parque Municipal de Belo Horizonte em sua segunda edição, nas tardes dos dias 31 de agosto e 1º de setembro. Na esteira de uma edição elogiada do veterano Sensacional!, que ocorreu há poucos meses, o ‘Celebra!’ se apresenta como um desdobramento para saciar o público do projeto, que já carrega 14 anos e 11 edições na bagagem.

A versão compacta do Sensa levou nomes consagrados da música brasileira, artistas em ascensão e personas mais do que gratas de BH para um palco no hipercentro da cidade, local de fácil acesso e com vista privilegiada de ‘grandes árvores’, como bem sinalizou a cantora Letrux durante seu show.

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Preços de ingressos acessíveis, pontualidade nos horários do cronograma e boa organização do espaço foram pontos altos do evento. Apesar de reforçar artistas já carimbados na trajetória do festival, como Getúlio Abelha, FBC ou Letrux, o line-up apresentou shows que se mostraram delineados para a ocasião.

Os artistas verbalizaram o carinho pelo público mineiro, o festival gêneros musicais bem intercalados, participações especiais e repertórios bem traçados para que, entre cangas no gramado e aglomerações devotamente dançantes, ninguém perdesse o pique de celebrar a música em um final de semana tranquilo na capital mineira.

Completaram a escalação do Sensacional Celebra!: João Bosco, Mart’nália, Luedji Luna, Bnegão e a Ponta de Diamante, Tulipa Ruiz, Tizumba África 50, Augusta Barna, Adriana Araújo canta Alcione e Ayom convida Juliana Linhares.

Confira 5 shows que destacamos nesta segunda edição do festival:

Augusta Barna

A mineira Augusta Barna subiu ao palco quando o sol ainda iluminava boa parte do gramado inclinado que servia de pista ao Parque Municipal. Se uma parte do público ainda buscava se ambientar entre os espaços do evento, todos os olhares se voltaram à cor roxa que pautou o show da artista quando os instrumentos de sopro começaram a soar.

Tendo lançado seu segundo álbum, Na Miúda, no dia anterior ao evento, a artista de apenas 21 anos fez questão de compartilhar com o público a emoção e a ansiedade que estava enfrentando ao cantar as novas músicas pela primeira vez. O nervosismo, no entanto, só era perceptível nas pausas em que ela voluntariamente se vulnerabilizava.

Com uma banda de 8 instrumentistas e um cuidado admirável com a cenografia, Augusta passeou pelo repertório de seus dois discos, além de singles antigos, entre o soul, o samba-rock e a MPB, com técnica vocal e postura de palco impressionantes, deixando até quem não a conhecia surpreso com a maturidade da artista e emocionado com a sua nova fase.

Getúlio Abelha

“Não espero menos que insanidade de vocês”. Getúlio Abelha saudou o primeiro dia de Sensacional! Celebra deixando claro que ele e sua equipe haviam passado a noite em claro em função de um show feito em outra cidade, antes de desembarcarem em Belo Horizonte. Mas, ainda que com repetecos de um repertório já conhecido do público mineiro, o multiartista relembrou a quem estava presente a impossibilidade de passar incólume pelo seu show.

Acompanhado do balé elétrico e da bateria explosiva, o ‘sad clown of forró’ performou incansavelmente um show político, versátil, cômico, visualmente deslumbrante e cheio de refrões certeiros. O público dançou a hits consagrados como “Vogue Bike” e singles mais recentes como “Baião de Dois” e obedeceu ao pedido do multiartista pela soltura de qualquer amarra intimidante que pudesse se instaurar no corpo ainda no meio da tarde do festival.



Luedji Luna

Em um dos seus últimos shows de divulgação da versão Deluxe do álbum Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água (2020), Luedji Luna se apresentou a uma plateia que já tinha suas expectativas bem assentadas em relação à atmosfera classuda, ao encantamento, à espiritualidade sônica e aos arranjos milimetricamente desenhados do jazz baiano da cantora.

Compondo o momento de maior calmaria e intimidade do sábado no festival, Luedji transitou entre virtuosismos do neo-soul e da música afrobrasileira, com arranjos catárticos junto às vocalistas que a acompanham, sempre reforçando seu trunfo como cancionista. Narrou a feitura de suas composições, arrancou aplausos e choro do público com uma versão que engrandeceu a canônica “Pétala”, de Djavan, e não deixou de entregar o aguardado axé de ‘tudo que for bom’, em uma versão mais soul e preenchida de “Banho de Folhas”. ‘Impecável’ foi uma palavra facilmente ouvida entre os fãs após o show.

FBC

Evocado como ‘prefeito de BH’ por público e artistas nos dois dias de festival, o ‘padrim’ FBC subiu ao palco com a missão de celebrar 20 anos de Hip Hop. O início do show, dedicado ao seu último álbum O Amor, O Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar Para Outro Planeta (2023), transformou a noite do sábado em uma pista disco, revelando instrumentais grandiosos e o talento melódico do cantor, mas deixou o público se perguntando se haveria espaço para os hits do rapper.

No entanto, a partir do momento em que três adjetivos já bem conhecidos ecoaram na faixa “Se Tá Solteira”, as texturas entre rock, rap, soul, disco e MPB se mesclaram e se intensificaram em múltiplas direções. Com uma sonoridade sombria, pesada e densa em camadas, o artista cantou clássicos do álbum “Baile”, como “De Kenner” e “Polícia Covarde” em uma roupagem mais rock. Juntou-se à família no palco e distribuiu sandálias Kenner e garrafas de água à plateia.

Sem perder o ritmo do setlist, brincou e groovou com a própria banda, fez citações a Tim Maia e a Jonathan Costa (o Jonathan da ‘nova geração’), reverenciou o álbum Padrim (2019) e finalizou o show ecoando o coro coletivo na balada “Se Eu Não Te Cantar”. Com diversas assinaturas e fases, Fabrício mostrou mais uma vez porque coleciona tantos apelidos, codinomes e vulgos que o enaltecem, para além do álbum ou gênero musical.

Bnegão e a Ponta de Diamante cantam “A Tábua de Esmeralda”


Homenagear um álbum cinquentenário, de aura quase mitológica, invariavelmente considerado um dos melhores da história da música brasileira, pode ser uma proposta recebida com muitos ‘pés atrás’. No entanto, foram olhos marejados e mãos ao alto em clima de oração que marcaram o show de Bnegão junto à banda belo-horizontina “Ponta de Diamante” – a qual reúne nomes de peso como Zé Mauro, Raquel Coutinho, Bruno Egler e Débora Costa. A aventura do artista com a herança de Jorge Ben Jor nos palcos se iniciou em 2024, mas o músico brinca que ouve o disco desde seu primeiro ano de idade (o artista completou 50 anos em 2023). “Ainda vamo rodar muito com esse show”, ele promete.

Passeando pelo repertório do álbum na íntegra, Bnegão conseguiu ser respeitosamente fiel e, ao mesmo tempo, autoral na abordagem daquilo que pode parecer intocável. Enaltecendo Jorge a todo tempo entre uma música e outra (“maior nome da música brasileira, mundial e interplanetária”) e abrindo espaço de holofote para o talento dos instrumentistas, o músico ainda convidou FBC ao palco para uma celebração emotiva em “Zumbi” e reverenciou a tradicional cena black soul da capital mineira (“Salve, Baile da Saudade!”). Ao final, uma apoteose rock n’ roll com “Brother”. Público plenamente rendido, ainda deu tempo e clamor por um bis com o hit da carreira solo “Funk (Até o Caroço)”.

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04/09/2024

Bruna Vilela

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