O Franz Ferdinand é habitué em São Paulo – faz três anos consecutivos que a banda toca por aqui e já contemplou a capital paulista muitas outras vezes num total de sete turnês no Brasil. Tomara que o ritmo continue assim. Falo por mim e por todos aqueles que foram até o Espaço das Américas na última noite para curtir o som de Alex Kapranos (vocal, guitarra), Nick McCarthy (guitarra, teclado e vocal de apoio), Bob Hardy (baixo) e Paul Thomson (bateria, percussão, vocal de apoio). Se mesmo sem repertório novo os quatro costumam garantir shows de primeira, dessa vez vieram apresentar o último álbum, Right Thoughts, Right Words, Right Action, lançado em agosto do ano passado pela Domino após um hiato de quatro anos. E foi fino.
A música de trabalho, “Right Action”, deu a largada na noite, numa batida que parece sintetizar o estilo do grupo desde sua origem, no começo dos anos 2000 – soa como Franz Ferdinand. Os escoceses tiveram reforço: “But how can we leave you/ To a Saturday night or a Sunday morning/ Good morning” o público, já familiarizado com o repertório, ajudou a cantar, enquanto começava a esquentar o corpo – porque FF é música para dançar. “No you Girls” e “Tell Her Tonight”, hits sempre bem recebidos, assentaram o terreno para “Evil Eye”, meio filme de terror, meio funky, talvez o som que mais mostre o dedo dos produtores Alexis Taylor e Joe Goddard, do Hot Chip, e Todd Terje em Right Words. Na sequência, “The Dark of the Matinée” fez lembrar por que o primeiro álbum da banda (homônimo) é indispensável, e “Do You Want To” botou a galera para pular. “You’re feeling good tonight?”, perguntou Alex, enquanto Nick deslizava de um extremo do palco ao outro. Yes! We are so lucky.
Alex Kapranos tira um efeito meio megafone de algum pedal, The Fallen puxa o coro “La la la la la la la la…” e a festa continua. Veio “Lucid Dreams”, com sonhos geométricos animados no fundo do palco e cenas do show em p&b nos sedutores telões laterais. Teve lado b: Alex foi para a programação, Nick assumiu o vocal (em alemão) e Erdbeer Mund marcou um momento synth. Na sequência rolou Michael, e então veio Walk Away, que para os nostálgicos provavelmente evocou alguma fase muito boa na vida dos; no caso daqueles com 20 e muitos anos, de repente a melhor. “Stand on The Horizon”, quarta faixa do último disco, foi a seguinte, deixando claro que a vida é boa agora – e que Björn Yttling (do Peter Bjorn And John fame) também assina a nova produção.
Pedindo mãos para cima, Alex cantou “Can’t Stop Feeling” e chamou a fase final do show, com direito a inundação vermelha no palco e excitação em “Auf Achse”. “You see her, you can’t touch her/ You hear her, you can’t hold her/ You want her, you can’t have her/ You want to, but she won’t let you… Look what you’ve done.” É bom que o Franz Ferdinand esteja na estrada. “Brief Encounters”, na falta de definição melhor, um som gentil, pra se balançar e se deixar levar, foi a escolha certa pra suceder as explosões de “Take Me Out”, e depois rolaram “Ulysses”, “Love Illumination” – amostra animada do rock dançante by FF – “Outsiders” e o já clássico encerramento com os quatro músicos reunidos no centro do palco batendo nos pratos da bateria de Paul. “Jacqueline”, os últimos desejos de “Goodbye Lovers & Friends” e “This Fire”, dedicada à banda de abertura, a goiana Boogarins, completaram o bis.
No balanço da noite, o Franz Ferdinand confirmou a força de Right Thoughts, Right Words, Right Action, um ótimo disco que aproxima a banda de suas origens, e fez aquele passeio infalível e conhecido por sua carreira de sucesso, consolidada com talento, competência e personalidade. Mesmo depois de dez anos juntos, eles trocam os vocais, experimentam, sobem em cima dos amplis, dançam, agradecem num português cada vez mais natural e parecem se divertir. Talvez seja por isso que o Franz Ferdinand tenha um público fiel no Brasil, que justifica tantas vindas da banda ao país. Mesmo sem grandes novidade, os shows são sempre energéticos, e quem assiste também sempre se diverte, pula, sua, canta. Do jeito que um show de rock deve ser, do jeito que a gente gosta. Ótimo show, baita banda. FF, se tudo correr bem, nos vemos no ano que vem.