O DJ Mateus Miranda Ribeiro, o Tabu, nos deixou no último sábado (16/9). Em sua memória, revisitamos a seção Bandas Que Você Não Conhece da edição #105, que acompanha o vinil de “Sla Radical Dance Club”, da Fernanda Abreu.
No registro em cartório é Mateus Miranda Ribeiro, mas Tabu é seu nome de registro nas madrugadas underground por entre locações abandonadas, praças públicas, casas de show e quaisquer outros lugares que possam abrigar as manifestações artísticas da cena eletrônica. DJ e produtor gaúcho baseado em Porto Alegre, onde começou a tocar ainda em 2012. Desde então, faz parte do coletivo Arruaça, dedicado organizar eventos de música eletrônica (até a pandemia botar isso em suspenso, né), além do selo ZONAExp e do coletivo Turmalina, crew que enfatiza DJs pretas/pretes/pretos que lançam a braba na pista.
Mood? Eu nunca imaginei que teria que revisitar esse conceito pós-conclusão do Ensino Médio, mas vamos lá: de acordo com a Física, o peso é, por definição, uma força que surge através da atração gravitacional entre dois corpos constituídos de massa. A densidade, por sua vez, é uma propriedade de matéria, obtida a partir do resultado da quantidade de massa dividida pelo volume que essa quantidade ocupa. Levou tempo para eu entender que o som que o Tabu cria, seja em faixas autorais, seja em colaboração com o projeto de outros artistas, não é pesado, mas sim, denso. É denso porque não é algo só do âmbito da força ou de pesos de massas, mas sim algo genuinamente fluído. O que não é sinônimo de leve. É denso e não ocupa espaço, mas sim o preenche.
Como soa? Tabu é um tensiona limites, é engenheiro de camadas, ilusionista de velocidades. As batidas tem um padrão de comportamento definido pelo inusitado, a criação em curso. Um ponto de partida que se desenrola sem um ponto de chegada pré-definido, e que faz o ouvinte revisar em vários momentos se tá realmente ouvindo a mesma faixa que deu play. Soa uma gambiarra que equilibra deboche e genialidade. Um exemplo? Tabu foi coprodutor do álbum PQ (2019) de Saskia; só revistando seu trabalho para esse texto que vi que duas das minhas tracks favoritas do disco tão na conta de Tabu: “Apagão” e “Graça”. E é “Graça” que, apesar de ser uma produção de Tabu sobre obra de outra artista, mais consegue demonstrar essa qualidade que permeia o trabalho do produtor.
Ouvindo o disco no YouTube, eu sempre perdia o ponto em que essa track começava e só agora entendi porque: o deboche é tanto que a faixa abre com Saskia cantando “quem tem bota” já emendando com uma base de supetão, tudo isso em 2 segundos de música. Até a noção de começo de uma canção é desconstruída pelo toque de Tabu. E essa canção é um deboche por si só. Em seu singles autorais e setlists, há uma deglutição – sem mastigação, muitas vezes – de tudo que se pode imaginar. Techno, house, gueto tech, funk 150 BPM, broken beat, graves em lentidão, acelerações em frenesi. Batidas eletrônicas que criam curvas sinuosas, transmutam rótulos, aproximam opostos, distanciam semelhantes e investiga entrelinhas.
Qual a vibe? Para quem é do rolê da cena eletrônica, para quem gosta de saber para que direção os rumos do vanguardismo apontam e, caso você não seja do rolê eletrônico, que você seja uma pessoa aberta a experimentações. É som que confunde, desorganiza e desmonta. Tipo de som para as noites que não tem fim.
Por onde começo? Ouça os singles lançados durante a quarentena: “Quarentine single #1”, “Quarentine Single #2 (PQP!)”. Depois, ouça a ótima track “Foda-se”, em parceira com FELIX, e aí é só desbravar o soundcloud do menino & ouvir PQ de Saskia.
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