The Cribs em entrevista exclusiva

15/06/2011

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

15/06/2011

| Por Fernando Corrêa |

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O The Cribs não é uma novidade. Com quatro discos na bagagem, os irmãos Gary, Ryan e Ross Jarman são parte da leva de bandas garageiras inglesas que deram vida nova ao (pós-)punk na primeira metade da década de 2000. Mais de cinco anos após invadirem as pistas brasileiras, os caras desembarcam em São Paulo pela primeira vez no próximo sábado, 18, para um único show no Beco. Sorte dos paulistanos, que poderão assistir à banda graças ao Garage Project, uma iniciativa da Citröen, realizada graças à VICE e a Media Content.

Os “realistas românticos” Gary, Ryan e Ross não são mais adolescentes, mas ainda levam adiante a postura indie e o espírito das décadas de 1970 e 80 que os revelaram pro mundo. Em 2008, realizaram um sonho infantil: o ex-Smiths Johnn Marr entrou na banda (ver foto acima) como segundo guitarrista e permaneceu no posto até o início deste ano. O Cribs-quarteto gravou um único disco, Ignore the Ignorant, que não emplacou hits do calibre de “Men’s Needs”, mas manteve a energia punk e a personalidade que fazem da banda uma das coisas mais divertidas que a cidadezinha britânica de Wakefield já deu ao mundo.

No entanto, não era no lar-doce-lar de Wakefield que Gary estava quando concedeu esta entrevista exclusiva pra Noize. De Portland, nos Estados Unidos, onde mora atualmente, o cara bateu um papo atencioso sobre os rumos, as convicções e as experiências que o The Cribs acumulou nestes mais de dez anos de história.

Informações sobre os ingressos para o show em São Paulo você encontra no site do Beco, www.beco203.com.br.

Além de ter alguns sucessos e de ter encabeçado grandes festivais, vocês parecem ter essa proximidade com o punk e o “faça você mesmo”. Que parte da experiência mais os agrada: o pé fincado no independente ou os flashes de sucesso massivo que vocês tiveram com suas músicas mais conhecidas?

Eu acho que realmente a coisa que mais gosto de estar em uma banda é que você pode fazer o que quiser. Nós nunca dependemos de publicidade ou algo do tipo, temos um bom selo, Wichita, e podemos fazer praticamente tudo o que queremos [com eles], e isso é a coisa mais legal de estar em uma banda. E o que você está dizendo sobre faça você mesmo, eu acho que foi importante para nós porque você não responde a ninguém, então é muito mais divertido. Nós construímos uma base forte de fãs apenas com shows, turnês e fazendo as coisas por conta própria. E essas pessoas realmente se importam conosco, essas pessoas são realmente apaixonadas desde antes de termos um par de singles de sucesso. Isso quando a rádio e a MTV, por exemplo, ainda nos ignoravam. É mais emocionante você sentir que chegou lá sem que nenhum deles precisassem falar de você, você existe sem eles, você não é dependente deles. Isso é muito mais excitante para nós.

O indie rock é um gênero associado aos jovens. Vocês não temem que a forma alternativa como conduzem a banda possam prejudicá-los no futuro, quando seus fãs envelhecerem?

Se você é a banda mais trendy em 2005, quem lembra de você agora? Você não quer existir como a parte de uma cena ou como parte de uma tendência. Acho que ficar fora do mainstream, ou pelo menos não depender dele, significa que você pode ter mais longevidade, você pode confiar mais em seus fãs, porque muitos deles estão com você muito antes de você chegar a esse ponto. Talvez você possa confiar em seus fãs muito mais porque você sabe que não gostam de você porque as outras crianças parecem gostar. Mas não nos preocupamos com essas coisas. Ficamos maiores a cada disco e eu acho que a razão é que as pessoas que gostam da banda falam a seus amigos sobre a gente melhor do que um veículo qualquer.

Deve ter sido louco ter Johnny Marr, um ex-Smiths, na sua banda por três anos, não?

Foi legal, foi algo que não esperava e algo que teria sido um pensamento bizarro quando a banda começou – nunca pensei que algo assim aconteceria. Foi algo de que realmente gostamos, ele era nosso fã e quis tocar conosco, foi lisonjeiro, algo muito legal. Johnny é um cara legal, nós nos demos muito bem e apreciamos realmente esses três anos. Agora que ele está fora, podemos olhar para trás e pensar “Oh yeah!”, você sabe? Isso foi apenas um período que nós passamos. Na época, as pessoas diziam nas entrevistas que nós devíamos nos sentir muito estranhos. Só agora é que olhamos para trás e pensamos, “Yeah, isso foi meio louco”.

Você acha que Ignore the Ignorant teria sido outro disco sem ele?

Talvez. Não sei dizer, porque eu acho que foi na linha do que estávamos compondo no momento, e algumas das canções foram escritas antes de Johnny se juntar a nós. Eu acho que o resultado teria sido praticamente o mesmo, mas, tendo dito isso, algumas das partes que Johnny tocou levaram as canções em direções ligeiramente diferentes. É muito difícil dizer, mesmo. Eu acho que a maior parte era a sequência do que estávamos fazendo. Provavelmente teria sido tão bom quanto, mas é definitivamente bom ter alguém de fora. Porque quando você está entre irmãos, se você estiver em uma banda com seus irmãos, todos estão na mesma onda. É ótimo ter alguém de fora dessa dinâmica para dar alguma perspectiva, então eu acho que Johnny ajudou, com certeza.

Mas ao mesmo tempo, estar entre amigos mantém vocês fiéis à ideia que tinham quando criaram a banda…

Há dois lados. Um dos lados é meio como você disse, pessoas muito ligadas e muito honestas umas com as outras. Mas o outro lado disso é que você realmente escuta o que cada pessoa quer fazer, porque confia e entende o outro. Também pode significar que você sai pela tangente muito mais e você definitivamente pode ser compreensivo demais, às vezes. Mas se um de nós diz que tem uma idéia que quer levar adiante, sempre tentamos nosso melhor para ajudarmos uns aos outros. Você não vai dizer que “não é uma boa idéia”, vai insistir nela porque você confiar na visão do outro.

Agora vocês estão em irmãos, apenas. É bom voltar ao velho formato?

Sim, eu não quero soar como se eu desmerecesse Johnny, porque ele é um cara legal e é um bom parceiro. Mas é muito bom, muito divertido apenas fazer o que você quiser, não ter de levar em contra outras opiniões. Eu vivo na América agora, Ryan vive em Londres e Ross ainda vive em Wakefield, então vamos todos pra casa de Ross e ficamos juntos por 3 ou 4 semanas de cada vez, e nós simplesmente tocamos e relaxamos todos os dias. E isso é exatamente o que eu gosto de fazer, sair e tocar, sem pressão, apenas brincando. É muito mais libertador.

Quais são seus planos para um novo disco? Ouvi dizer que pretendem entrar em estúdio após os festivais de verão (no hemisfério norte, nosso inverno)?

Bem, possivelmente sim. Nós escrevemos um monte de músicas recentemente. Nós temos uma ideia de talvez gravar algumas das músicas nós mesmos, e basicamente gravar o máximo de sons com pessoas diferentes. Nós não queremos fazer tudo apenas com um produtor novamente, queremos tentar um monte de gente diferente, e ver o que funciona de verdade. E mesmo se a gente resolver gravar nós mesmos, queremos tentar sair daquela situação padrão de entrar em estúdio por 6 semanas com um cara, isso não me soa interessante. Tentar outras pessoas, e nós mesmos decidirmos o que funciona melhor e usar. Não quero gastar um monte de dinheiro, entrar em um estúdio fancy e me comprometer com uma pessoa X.

Além de “Housewife”, vão rolar outras músicas novas no Brasil?

Sim, nós viemos tocando uma outra, é a última música que escrevemos com Johnny, uma música punk chamada “Leather Jacket Love Song”, é bem simples e straightforward (pra frente). Não sabemos se ela estará no disco. Os outros sons não estão prontos o bastante para ser tocados ao vivo, e nós ainda nem sabemos muito bem como faríamos pra tocá-los.

E a pergunta clichê: o que vocês conhecem do Brasil?

A América do Sul é um lugar que sempre quisemos visitar. Tudo que ouvimos das bandas que vão para aí são que os shows são incríveis. A namorada do meu irmão, Kate Nash, disse que o show dela no Brasil foi possivelmente o melhor que ela já fez, então estamos muito empolgados. Ouvimos que as pessoas são bem entusiasmadas e isso nos deixa ansiosos.

O Brasil vive um efervescente momento político. Nós tivemos recentemente o casamento entre homossexuais aprovada, as pessoas na marcha da maconha foram violentamente agredidas pela polícia … Como é que você olha para esse tipo de coisa?

É meio louco, o que mais me pega de jeito, particularmente por estar vivendo nos EUA agora, é quando eu vejo o noticiário aqui mal posso acreditar no quão radicalmente diferente entre si são as reportagens dos canais republicanos e democráticos. Em relação ao casamento gay, na Inglaterra não é uma questão política, e nos EUA é uma questão chave no debate. Eu mal posso acreditar! No futuro vai ser como o Apartheid, as pessoas não vão acreditar que isso aconteceu, esse segregação. Vai ser uma grande vergonha, embaraçoso. Ainda existem pessoas que sustentam posições antiquadas ridículas, os republicanos fazem um escarcéu em cima, um dia será uma vergonha para todos.

Você sente falta da Inglaterra?

Bem, eu amo os EUA, amo pelo menos o lugar onde eu moro na América. Gosto muito de Portland, é um lugar bastante liberal, embora essas coisas políticas me incomodem e intriguem. Eu não quero que o jornalista fique falando sua opinião, eu quero os fatos para formar minha própria percepção das coisas.

E por que o Cribs existe?

Eu acho que… oh, Deus. Nós estamos só tentando… Nós… Eu acho que… Pelo menos na Inglaterra é uma coisa boa haver uma banda como nós no mainstream, para levarmos um pouco do… Eu não sei, quem se importa? Não sei porque existimos.

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