“Eu envelheci e, consequentemente, a minha música também”. Ouvir isso de Mallu Magalhães pode parecer estranho, ainda mais porque a cantora recém completou 20 anos de idade. Mas a verdade é que já faz algum tempo que ela cresceu. Aquela menina que deu as caras publicamente há seis anos, hoje, é uma artista que coleciona três discos de estúdio, prêmios e participações em festivais, tanto aqui como lá fora.
E o ciclo do elogiado “Pitanga”, o seu mais recente trabalho, está perto do final. Depois de dois anos de shows quase sempre frequentes, Mallu – que preferiu deixar o sobrenome Magalhães de lado e assumir uma identidade mais simples – é uma das principais revelações da música brasileira nos últimos anos. Nós fomos conversar com ela para passar a limpo sua carreira. E para adiantar, se depender dela, vem logo aí num novo disco.
Você está finalizando a turnê do seu terceiro disco, “Pitanga”, que expressa muito da sua transformação pessoal.
Bom, eu tenho mesmo uma relação bem integrada como pessoa e como artista, mas eu sinto que estou caminhando para uma fase menos inquieta em algumas questões, mas também interessada em outras. Ao mesmo tempo em que as temáticas mudam um pouco, eu continuo sendo uma pessoa curiosa e ligada no mundo, apaixonada por tantas coisas. Então, é difícil traçar uma linha, dizer qual vai ser a minha próxima estética, mas eu acho que eu consegui ficar mais habituada e mais íntima da minha linguagem. Por eu ter descoberto este método de gravação, através da produção do Marcelo Camelo e da minha habilidade de entrega total ao trabalho, eu tenho impressão de que agora eu realmente consigo dar vazão a esta minha energia que talvez anteriormente eu não sabia canalizar para um assunto de cada vez.
Aos poucos, você foi deixando o inglês e as influências do folk norte-americano de lado para mergulhar cada vez no clima do “sambinha bom” e da música brasileira. Como você descreve o seu relacionamento com as suas atuais composições?
Acho que, ao fazer o “Pitanga”, num momento complicado da minha vida e carreira, existia “um certo vai ou fica, ou segura a cuíca”. No sentido de ir, sem saber aonde ia dar, mas de não ter nada a perder. O resultado me surpreendeu demais. E aprendi com isso. Ganhei confiança em mim mesma com a recepção do “Pitanga” e passei a escrever cada vez mais em português, cada vez mais misturado, inclassificável.
Você começou com 15 anos e conseguiu um espaço através da internet para mostrar o seu trabalho. Mas, de lá pra cá, surgiram redes sociais e plataformas de divulgação musical. Você tem alguma dica para bandas que estão começando?
A banda deve aproveitar este diferencial de ser iniciante, esse fator aventureiro e pouco receoso; o privilégio da inexperiência, dessa pureza estética, porque quando a gente faz da música um ofício, de algum jeito, nem que seja muito sutil, quer comunicar, quer conseguir fazer um público, quer que aquele negócio vingue. No começo, a minha música era só para mim. Hoje em dia, é muito para mim, mas também muito para o próximo. A banda iniciante deve aproveitar muito esse fator que vem anterior à internet e se concentrar na composição e nos arranjos, porque a única coisa que só você pode construir é a sua parada, o resto, qualquer um pode fazer. Não tem que se preocupar com a concorrência e, sim, com a sua música.
Você lançou seu clipe “Velha e Louca” no cinema. Que filmes chamam mais a sua atenção pela trilha sonora?
Eu normalmente escolho os filmes pela trilha. Dos que eu gosto muito, tem “Orfeu Negro”, “Bonequinha de Luxo” e “O Artista”. Admiro muito o Henri Mancini como compositor no cinema.
Você escuta bandas novas, pesquisa?
Escuto, sim! Das que eu tenho ouvido ultimamente, tem o Wado e a Trupe Chá de Boldo, mas também gosto de música clássica, como Villa-Lobos, e de um Bob Marley.
Além de compor, cantar e tocar, você também estuda japonês, piano e violão. Como é para você conciliar todas essas coisas?
Sou autodidata. O que me limita e, certas vezes, me aborrece, me compromete. Mas, acostumada a não ter rotina desde os 15 anos, vivendo na instabilidade da carreira, das viagens, da falta de raízes, acabei desenvolvendo métodos próprios, porque acho que não vale a pena deixar de fazer alguma coisa que você gosta só porque não consegue um êxito ou uma performance perfeita.
Já tem ideia para o próximo álbum?
Eu faço vários planos, mas é quase imprevisível. A ideia é finalizar ainda este ano. Pretendo lançar o quarto disco ainda em 2013, mas pode acontecer que tenha algum atraso. Meu processo de composição não é muito demorado, porque quando uma música está custando muito para ser finalizada, eu pego um pedaço de outra, para realmente terminar.
(Fotos: Felipe Diniz/Divulgação)