_por Tatá Aeroplano
@tata_aeroplano
Recomeçar. Recomeçar. Recomeçar de novo. Sempre recomeçar. Sou viciado em cinema, e quando vou ao cine digo que levo minha alma/mente pra passear. Minha “almamente” é um bichinho de estimação terrível e não tenho como deixá-la em casa. Com o passar do tempo percebi que ela fica mais tranquila quando pego um filme. É como seu levasse ela pr’uma sessão de terapia que custa em média R$ 10,00. Ufa!
Loucura à parte. Falar de cinema é quase não falar do filme e sim das sensações que este provoca. Isso é o que importa, o devaneio de uma sala pode provocar sérios danos aos desavisados.
Fui rever o sensacional A Pele que Habito do mestre Almodóvar no Espaço Unibanco Augusta acompanhado da minha prima e minha irmã. Eu SEMPRE sento na primeira fila pra não ter problemas com pessoas que se comportam de maneira inadequada durante a sessão.
Você e a tela é o que há…você estabelece uma relação de cumplicidade energética com a coisa, é um jeito elegante de enfiar a cabeça no subwoffer e chacoalhar a cabeleira. Quem já frequentou Festas Rave sabe do que estou falando.
Nessa famigerada tarde fui assistir ao Almodóvar pela segunda vez. Atendi o pedido da minha querida irmã e sentamos quase no fim da sala, fiz uma concessão familiar da qual todos se arrependeram depois.
Um casal sentou na nossa frente já com o filme iniciado. O cara, tipo boy clássico, a mina tipo piriguete na moda, os dois nem sentaram direito e pareciam que estavam num bar, conversando alto e provocando a ira dos que estavam do lado.
PSIUUUUUU! Psiu! PPPPPPPSiu! SSSSSSIU! SSSSSS ! Psius tímidos, Psius violentos, Psius jeitosos, Psiu estilo Almodóvar eram emitidos de todas as direções. O casal parava por um ou dois minutos e do nada os dois voltavam a conversar. Memória de peixe? Creio que nem isso.
Minha prima não aguentou, e depois de uns trinta minutos de filme, METEU um chute na cadeira do Boy. O figura olhou pra trás e viu duas damas e esse ser que escreve. Claro que pensou que era eu o CHUTADOR. Eu encarei o cara com a cara de poucos amigos, ele voltou-se pra tela, e por incrível que pareça, parece que a memória de peixe deles por uns vintes minutos foi embora.
Tututueeeeeer eeeeuueeee. Zzzzz ttttt…eeeeeeeeee. No meio de uma cena silenciosa, um som estilo videogame anos oitenta ecoou. Era o telefone do maldito cara que estava na nossa frente.
Ele simplesmente levantou e foi atender a chamada na entrada do cinema – dava pra escutar o sem noção conversando. Na real isso não chegou a atrapalhar, mas a raiva contra aquele ser já era tão grande que a simples presença daquele casal era motivo de apreensão geral por parte da plateia.
Eu, transcendental que sou, sempre vejo um lado positivo numa situação bad total. Minha raiva se transformou em estudo antropológico, deixei de lado a tela, e me concentrei no casal.
O cara voltou da conversa telefônica depois de uns 15 minutos. A mina diz pra ele:
-Você demorou e agora não estou entendendo mais o filme!
O telefone dele toca de novo. Ele levanta como se estivesse em casa, atende ainda dentro da sala:
– Alô! Alô!!
Liguei o foda-se total, eu queria pelo menos entender o que aquele casal estava fazendo ali.
O boy clássico voltou. A piriguete na moda reclamou de novo porque não estava entendendo o filme.
Detalhe importante do estudo antropológico: O cara ria nos momentos mais sérios e envolventes do filme, ele estava vendo ovnis. Finalmente descobri o porquê da conversa durante a sessão inteira. É que a menina não acompanhava a história e o cara “tentava” explicar…e pra piorar, a garota rebatia os comentários: “CINEMA NACIONALLLLL!!!!!”
Fim do filme. Luzes acessas, fiquei até esperando o boy tirar satisfação pelo chute que minha prima deu na poltrona dele, mas o telefone dele tocou e ele saiu correndo da sala.
Olhei pra minha irmã e disse:
– Dá próxima vez é na primeira fileira!
CINEMA NACIONAL!!!!!!!
Recomendo muito A Pele que Habito mais um golaço púrpuro do mestre Almodóvar. E não dá pra deixar de achar que Pedrito é pop! E pop dos bons!