_por Tatá Aeroplano
“Meu nome é Raulzito Seixas … eu vim da Bahia pra modificar isso aqui…toco samba e rock morena…toco samba e rock morena…balada e baioque”. Já anunciava o mestre Sérgio Sampaio no seu disco de estreia, prevendo que o Raul ia dominar as paradas de sucesso – o que aconteceu no ano seguinte, em 73.
Assisti pela terceira vez o documentário Raul, o Inicio, o Fim e o Meio, dirigido pelo Walter Carvalho. Não é fácil documentar o Raulzito, o endiabrado angelical genial metamorfose ambulante. Mas o filme conseguiu retratar bem muitas das facetas do Mister Seixas. Tem muita coisa boa lá, depoimentos incríveis e emocionantes sobre a vida e a obra de um do maiores compositores brasileiros. E diga-se de passagem, um dos grandes roqueiros universais intergalácticos.
Uma das primeiras lembranças da minha infância era que eu pirava no compacto do Raul que tinha “Há Dez Mil Anos Atrás”. Meu pai é fã de Raul e comprava todos os discos. Eu dizia pro meu velho: – “Pai, coloca o disco do Nasci”. Durante muito tempo eu chamava o Raul Seixas de Nasci.
Logo depois meu pai apareceu com o álbum No Dia em Que a Terra Parou. Ai o bicho pegou geral. Eu viciei no disco. Esperava meu pai chegar do trabalho pra poder escutar as músicas junto com ele. Eu tinha 4 ou 5 anos. E toda noite meu pai pegava um copinho de conhaque e colocava pra rolar principalmente o lado A do vinil. Depois de muito tempo, se é que uma criança consegue ter uma noção legal de tempo, meu pai começou a escutar mais o lado B.
A música “Maluco Beleza” me passava sempre uma sensação de tristeza, aquela guitarrinha chorona no começo, o jeito que o Raul canta, eu ficava encantando com aquilo. Quando rolava “No Dia que a Terra Parou”, eu ficava imaginando a cidade de Atibaia sem ninguém, sem gente nenhuma, uma criança pensando no fim do mundo. As letras de raulzito me levavam pra muito longe, eu só tenho que agradecer. Tão pequeno e já recebendo canções malucas. Me ajudou a ser maluco desde então.
Por causa da capa do disco Há Dez Mil Anos Atrás, eu achava que o Raul era tipo um santo e tals, meio místico mesmo. Meu pai trabalhava com um amigo chamado Pedro, que também era barbudo, e quando eu escutava, “Meu Amigo Pedro”, eu achava que o “Nasci” tinha feito a música pra esse amigo do meu pai. Então toda vez que eu encontrava o Pedro, eu torcia pro Raul aparecer também, o que nunca aconteceu.
Raul foi tropicalista nas Alturas. Era Rock. Direto. Sem rodeios. Dizia na lata. Acertava na mosca. Misturava numa boa o bom e velho baião do Gonzaga com o rock visceral do Elvis Presley.
Pretendo ver o documentário pela quarta vez. Disse isso hoje pro meu amigo, o compositor Juliano Gauche, que também já viu o doc mais de uma vez e como eu, também é um “Raulseixista”.
Fico muito feliz por vários amigos queridos irem ao cine pra ver o filme. Raul é Foda!!!
Fico por aqui ao som de Sessão das Dez na versão do disco Sociedade da Grã Ordem Kavernista.
@Tata_Aeroplano é andarilho, músico, compositor, pescador sem histórias, contador de causos, às vezes canta, às vezes cala, muitas vezes causa.
NR: ficou com vontade de mais Raul? Corre na NOIZE #52!