As cidades e as canções Vol.3 : Nico e Nürenberg

30/07/2012

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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30/07/2012

_por: Ismael Caneppele

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Era como se tivesse voltado, sem nunca haver estado. Era como se estivesse de volta para um lugar aonde estava pela primeira vez. Do outro lado do oceano, na parte escura do mundo, as paisagens adquiriam um significado ausente de si. Ele também não estava lá. Nunca mais estaria. Agora ele era todos os lugares aonde não podia estar. No andar de baixo, talvez ainda morasse o cara chamado Silêncio. Não, sequer nos falamos desde que cheguei. Sequer nos falaremos. Permaneceremos solitários, como sempre estivemos. Cada um habitará o vazio do outro, sem nunca encontrar-se em si. Sobre nós, não espere boas notícias. Sobre nós, não espere notícias.

No café, aguardando que o sábado passasse o mais rápido possível, constatamos estarmos, ambos, perdendo alguma coisa. Talvez fosse a mesma coisa que perdíamos. Não. Não era. Nunca mais seria. FOMO – Fear Of Missing Out, seria a nossa síndrome, se ousássemos nos aprisionar em um nome.

Nos lugares onde não estávamos, seríamos Nico em noite de lua cheia. Nenhum dos dois ousou olhar para o céu. Não havia mais calor. Nos lugares aonde não estávamos, todos os encontros se dariam. Não se davam mais. Os grilos nunca estiveram tão quietos. Ainda não descongelaram. Talvez tenhamos permanecido na parte errada do mundo por tempo demais. Talvez não existisse tempo. Talvez não existisse errado. Talvez não existisse demais. É tudo sobre acumular gorduras. Sobre esperar blindagens. À minha volta nem todos gritariam se eu não estivesse mais aqui.
Voltando para casa descubro-me autoerótica quando, no final de um dia de vento frio, um copo aquece meus dedos congelados. Nunca terei pedalado tanto em toda a minha vida, como agora. Nas manhãs em que estive sozinha, “These Days”.

Depois um telefone tocará. Chegará o email de alguém. Mas o Silêncio, do lado debaixo dos meus pés, indicará que nada, além de aqui. É certo que ainda passaremos muito tempo em nós. É certo que congelaremos. Congelamos. Nas temporadas de baixa pressão, é sempre aconselhável transgredir o meio para manter-se em si.

Muito longe do onde agora você está, é finalmente chegada a temporada de geadas, engordas e abates. Quantos velhos terminarão antes do agosto começar? Nas pequenas cidades gaúchas, naquelas onde quase não se existe mais, os velhos reverenciam o mais gelado dos meses como a promessa concreta de não mais estar. Nem todos comemorarão a chegada do setembro. Sobreviveram ao que não queriam. Saber dizer adeus, e ir embora, é só um jeito elegante de morrer na hora certa.

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30/07/2012

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