Chico Chico é a personificação de que o amadurecimento não deve estar ligado a pressa. Despertando suas particularidades enérgicas, entre divertidas gargalhadas, o carioca desbrava sua vocação musical em seu próprio ritmo. “Eu ainda estou nesse processo de me compreender como músico, não tenho nenhuma dúvida sobre o que eu quero, mas é um processo. Você sabe o que é, mas você ainda está tentando encontrar. Eu tenho banda desde os 15 anos, [então] já são quase 15 anos dessa ‘pequena’ batalha”, diz o artista, que recém completou 29 anos, em papo com a NOIZE.
Seu disco de estreia Pomares (2021), inteiramente autoral, foi lançado em outubro passado, sendo um resultado da produção de Ivan Cavazza, junto da coprodução de Pedro Fonseca. O feito das 12 canções frutificou e hoje o álbum concorre na categoria “Melhor Álbum de Música Popular Brasileira”, da 23ª edição do Grammy Latino, ao lado de obras de Caetano Veloso, Marisa Monte, Ney Matogrosso, Liniker e Jards Macalé com João Donato. Essa também não é a primeira vez que o nome do carioca aparece entre os indicados do Grammy Latino, tendo em vista que, em edição passada da premiação, a faixa “A cidade”, do seu disco em parceria com João Mantuano, foi indicada na categoria “Melhor Canção em Língua Portuguesa”.
“Chega até a ser engraçado. Na verdade, eu não sei, porque é realmente muito doido. Eu estava conversando sobre isso com o Sal [Pessoa], sobre os nossos caminhos, porque esses caras estão a tanto tempo na música e existe esse lapso de tempo onde nossas vidas se encontram. Fiquei meio que comparando com jogadores de futebol que se tornam [jogadores] profissionais, sendo que dois anos atrás só sonhavam em falar com os caras e, hoje, eles estão com os caras. Mais do que qualquer outra coisa, o lance mesmo é o trabalho”, afirma com um sorriso largo no rosto.
Herdando o timbre vocal de sua mãe, Cássia Eller (1962-2001), Chico Chico foi introduzido ao mundo da música desde muito cedo, e se reconheceu primeiro como compositor, aos 13 anos, antes de tatear os vocais. Subindo aos palcos ainda na infância, acompanhando a mãe em apresentações, o carioca já realizava um papel na percussão da banda: “A parte da percussão era uma mentira [risos], mas teve um papel muito importante, porque abriu algumas portas. Eu pude conhecer mais o palco, subir, mesmo que muito envergonhado, porém primeiro eu fui compositor. Eu comecei a tocar violão em função disso. Eu tinha meu caderninho e escrevia, isso foi ficando mais sério aos 15 [anos], onde eu fui cantando as minhas músicas, foi muito importante”.
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Assumindo participação em diferentes trabalhos musicais, em grande parte ligado aos amigos, Chico realizou uma passagem, ao lado de Jorge Du Peixe, no álbum Cássia Reggae (Vol. 1) (2022). O projeto, concebido para celebrar Cássia, que completaria 60 anos em dezembro, foi produzido por Sergio Fouad e Fernando Nunes, para a Universal Music. A segunda parte do trabalho está prevista para ser lançada ainda neste semestre.
“Foi gostoso pra caramba. É interessante porque é uma galera que ama muito a minha mãe, são amigos mesmo, a galera da banda. O projeto está maravilhoso, só com gente foda, e tem uma ideia de não colocar os cantores para interpretar suas composições, o Nando [Reis], por exemplo, canta ‘Lanterna dos Afogados’. É legal, achei uma sacada bem interessante.”
Chico trilha um rumo de composições sem preocupação com o marketing digital, ou na produção de hits, mas mesmo assim foi surpreendido, em julho passado, com a viralização da música “Ninguém”, primeira parceria com Fran Gil, para o disco Onde? (2020), do selo Blacktape. A obra conta no repertório composições de grandes mestres da música brasileira, dentre eles Edson Gomes, Gilberto Gil, Itamar Assumpção (1949 – 2003), Luiz Melodia (1951 – 2017) e Sérgio Sampaio (1947 – 1994), e deixa claro que uma canção, mesmo não tendo os recursos de um hit viral, pode crescer já que o universo da música está em constante adaptação com o mercado. A canção simples, que conta apenas com vocais e violão, tomou grandes proporções e atinge, hoje, quase 9 milhões de reprodução somente no Spotify.
“Isso foi muito diferente, achei até engraçado até saturar, brincadeira. Quando tem gente escutando o que você faz, o seu trabalho, é difícil ficar bolado. Isso faz parte do mundo que a gente está, é difícil comentar sobre isso, porque tem várias questões, ao mesmo tempo que é legal, porque sua música chega em mais lugares. Isso não foi premeditado e acho que isso nem deve ser. Porque na minha visão, sobre minha carreira, não é algo que eu quero alcançar, sabe? Mas claro, que se isso estiver no caminho, não vou negar”, declara sobre a faixa que virou hit.
Se definindo como uma pessoa eclética, que escuta um pouco de tudo, Chico comenta sobre o que está mais fresco em seus ouvidos: “Voltei a escutar muito Nick Drake, que é um cara que eu gosto muito, mas agora também estou ouvindo muito Kings Of Leon, que é uma banda que me dá muita nostalgia, lembro da minha adolescência [risos]”.
Nesta sexta (07), Chico se apresenta no Circo Voador, palco que conhece desde os 22 anos, para o show do disco solo, às 22 horas. Na banda, o músico conta com Pedro Fonseca (teclado e direção musical), Caio Barreto (guitarra), Cesinha (bateria), Thiago da Serrinha (percussão) e Miguel Dias (baixo), a apresentação também terá participações de Ana Frango Elétrico e do rapper Sombra. Na semana seguinte, o artista irá realizar dois shows, entre os dias 13 e 14 de outubro, às 20h, no Itaú Cultural. Os ingressos estão à venda aqui e aqui.
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