Exclusivo | Ouça o “Volume 17” do núcleo Fazedores de SOM

03/07/2020

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos: Divulgação

03/07/2020

Hoje, a NOIZE apresenta a 17ª coletânea montada pelo projeto Fazedores de SOM. Em matéria organizada pelo LabXP, você confere um diálogo cruzado da curadoria com o grupo de 31 produtoras e produtores brasileiros.

Desde 2012, o projeto lança coletâneas do tipo e, neste volume, os Fazedores entregam um recorte da produção contemporânea realizada no país. Entre a velha e a nova escola de eletrônica brasileira, a seleção mescla nomes de grande contribuição para cenários regionais, assim como nerds da produção e expoentes do cenário musical brasileiro.

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Ouça:

Vários dos nomes são conhecidos da casa, como o gaúcho Marcelulose, que o LabXP nos apresentou aqui, no ano passado e colabora pela segunda vez com o grupo. Em plena expansão da carreira e em colheita artística, Marcelo lança em breve pela compilação da GOMA, em que também assina a masterização dos dois volumes de quarentena do selo de Porto Alegre. Ainda esse ano ele assina uma colaboração com a Saskia pelo núcleo de produção de conteúdo multidisciplinar. Pedro Zopelar, que tivemos a honra de antecipar seu último lançamento solo por aqui, este ano ainda antes da pandemia, segue na coletividade artística Odd, Teto Preto, L’Homme Statue, que só melhora, e mais recente com a produção do projeto O Sal, de Chay Suede. O artista também adiantou à matéria que prepara outro lançamento pela Apron Records para este segundo semestre. Já o produtor baseado em Curitiba Bruno Real também foi apresentado pelo LabXP por aqui e é outro que mantém residência e reafirma participação em todos volumes dos Fazedores entre seus muitos alias.

Isso só para citar alguns, mas são 31 (trin-ta-e-um) projetos autorais eletrônicos, que representam um recorte da diversidade da produção brasileira, sequenciados pelos djs Renato Lopes e Maurício Um. “Falando com Renato, a gente acabou acertando de cada um criar uma seleção e, então, cada um escutar a do outro e daí decidir qual seria a melhor”, conta Maurício: “Num primeiro momento, imaginei a compilação com a estrutura de um set numa noite. Tenho a impressão de que os jovens hoje em dia compram músicas e raramente compram um álbum. Então, imaginei fazer uma estrutura que começasse com climas mais leves e fosse até climas mais pesados. Escutando a seleção do Renato, eu tive a audição de um álbum, que, pra mim, me soou muito mais interessante pra esse projeto. Que é ter um mix maior de estilos musicais e climas e conforme a audição o ouvinte vai descobrindo novas sonoridades e tendo acessos a maior diversidade musical”.

“Para montar a sequência da compilação, Maurício e eu associamos duas ideias: como uma seleção para a pista de dança, com abertura, pico e final; e como um programa de rádio, considerando o contraste do clima de cada faixa e o final e introdução, respectivamente, uma vez que elas são apresentadas na íntegra e não mixadas entre si”, complementa Renato. Na seleção deles, estão nomes quentes no cenários de festas e selos brasileiros contemporâneos como Guillerrrmo e Entropia-Entalpia da Mamba Negra, Technovinho do Coletivo Plano e DJ Mtn9090 da ZONA entre o cientista das máquinas Arthur Joly e o virtuose das programações Matheus Leston sob a curadoria do organizador Marco Blasquez

Baseado em São Paulo, ele se dedica à coletividade do Fazedores desde a sua criação, em 2012. Com esse lançamento de hoje, são 309 músicas publicadas na plataforma mãe, o Bandcamp dos Fazedores. O grupo que, no princípio, dedicava-se a trocar referências e técnicas de produção em uma lista de e-mails, hoje mira o estabelecimento de um espaço que comporte a envergadura criada ao longo desses oito anos. “O intuito agora com a curadoria é que haja uma maior profundidade e essa profundidade venha através da especialidade, da pesquisa desses curadores. E assim eu vou poder respirar um pouco fora dessa caixa pra ir estruturando o projeto para que ele cresça numa direção de orientação também de conteúdo para esses produtores que buscam o Fazedores como um lugar onde eles tenham a oportunidade de divulgar a sua arte”, reflete o organizador ao falar sobre a grande quantidade de lançamentos do selo.

“A procura aumentou em grandes proporções e o foco é ter uma plataforma de divulgação dessas músicas pro mundo inteiro. Em setembro faremos oito anos e a ideia é expandir a interação entre as pessoas desse grupo, trazendo também curadores individuais para cada edição, como foi feito já no 17º volume. Até então, nós recebíamos faixas de produtores do Brasil todo e fazíamos uma análise técnica dessas músicas para então publicá-las”, conta Blasquez.

O organizador também adianta que terão EPs lançados nos intervalos dos VAs. “Os novos produtores que enviarem faixas para as compilações irão passar por um processo de avaliação, onde farei uma primeira seleção para depois encaminhá-las aos curadores que irão entender se a faixa se encaixa dentro desse corpo sonoro e da caraterística que eles querem dar para esses VAs. As pessoas que não forem selecionadas nessa primeira etapa por alguma questão técnica, receberão um conteúdos focados nesse déficit e, através dessa troca de ideias nós introduzimos as pessoas ao conceito principal do projeto, que é um feedback construtivo para evolução do produtor”, explica.

Ainda na conversa, uma evidência levanta o questionamento: seria o público brasileiro o mercado consumidor desses artistas? Conforme dados da plataforma de publicação das seletas, as primeiras 50 cidades que mais consomem os Fazedores não estão no Brasil. “Eu vejo isso de duas formas. Primeiro que o trabalho que está sendo feito há anos de fato começou a dar resultados, como visto nesses relatórios, e eu fico bem feliz com isso. O ponto dois retrata bem aquele lance de que ‘a grama do vizinho é mais bonita’, mas que aos poucos está sendo revertido com a ação de muitos núcleos, que têm como premissa o desenvolvimento focado no Brasil e acredito muito nesse potencial. É o que me faz seguir firme em direção a essa expansão”, acredita o produtor.

“Eu realmente espero que esse 17º volume seja a chave pra abrir a porta para esse novo rumo, para que as pessoas possam de fato entender a importância dessa união. Vivemos um momento muito tenso onde temos que nos unir em defesa de diversas questões e frentes mas, que isso não gere nenhum tipo de distância ou disputa entre nós. Essa união, iria possibilitar que o único parâmetro para a evolução artística fique definido apenas pela arte produzida, descartando um universo de outras questões que não pautam a qualidade do trabalho feito”, deseja o curador.

Um incentivo a mais à colaboração: pela primeira vez desde a sua criação os Fazedores colocam suas músicas a venda. Também hoje (3/7) o Bandcamp está repassando 100% da arrecadação para xs artistas. Para ampliar a percepção das obras selecionadas em sua totalidade e no fragmento de cada uma, a Noize apresenta em seguida um faixa a faixa do 17º volume dos Fazedores de SOM trazendo depoimentos de todos produtores selecionados.

Leia abaixo.

Capa “17º Volume” – Fazedores de SOM. Arte: Andreia Regeni/Reprodução

Fazedores de SOM
17º
Volume (2020)

1. RAIANY SINARA – QUANDO EU VOLTAR
@raianysinara
Soundcloud

“Quando eu voltar” vem da projeção do meu corpo sonoro, a vibração que se movimenta e sai. Nesse momento de isolamento, a reflexão do que é tocar, criar, produzir, para além do óbvio. Nesse caso, o meu corpo está saindo em forma de música.

Foi montando um live set de beats para a SILVER/tape que, em forma de loops, acabou saindo o esqueleto inicial da música, onde usei sintetizador, samples e instrumentos virtuais na construção. Depois, fui dando uma ajeitadinha aqui, outra ali e a track saiu.

Participo pela segunda vez da Fazedores de SOM, muito feliz em participar desse projeto que há tempos vem circulando o nosso trabalho com muito cuidado.

2. UHZ – CITY VOICES
@uhzmusic
Soundcloud

A faixa “City Voices” foi criada a partir de um patch no meu sintetizador modular, usando ritmos euclidianos para fazer a bateria. Depois adicionei o pad principal e fiz uma gravação na DAW que eu uso, o Ableton. Tendo a música gravada no meu computador, comecei a adicionar canais de efeito, e fui mixando e transformando os sons até sentir que ela estava completa. Esse vai ser meu segundo lançamento no Fazedores de SOM. Estive presente no último volume com a faixa “Dog Life”, e fico feliz de estar participando de novo porque desde o 16º volume conheci muitos produtores do Brasil que eu não imaginava estar fazendo tanta música boa, e fiz vários amigos que tem a mesma paixão em produzir sons e criar músicas que eu tenho.

3. ZELADA – LOCKDOWN
@zelada_giuliano
Soundcloud

Quando comecei a pensar na faixa “Lockdown”, eu estava me perguntando como fazer uma fusão do Memphis trap com as minhas referências na música eletrônica. Minha intenção era reconfigurar a energia das batidas do Memphis, adicionando ambientações etéreas e timbres espaciais. Além dessa proposta sonora, quis trazer um pouco da minha visão e interpretação sobre o lockdown consequente da pandemia. Aquilo que parecia ser mais do mesmo, mais um ano, subitamente se transforma no inimaginável, assumindo proporções jamais pensadas. É o que acontece com a “Lockdown”, uma transformação abrupta no andamento da faixa foi a maneira que encontrei para expressar essa característica do momento no qual estamos vivendo.  Além dos timbres sintetizados na drum machine Analog Rytm e no sintetizador XoxBox, clone da TB-303, utilizei samples de faixas de artistas que admiro muito, como Bjarki e Chic.

Quanto a minha relação com os Fazedores de SOM: meu primeiro contato com o projeto foi por meio de um  grande amigo, Gabriel Werneck, que participou de uma das edições e me contou sobre a proposta. Agora, em 2020, participarei pela primeira vez do VA dos Fazedores. Antes disso tudo acontecer, já admirava a proposta e, hoje, tenho certeza de que o alinhamento dos artistas, das músicas e da iniciativa proposta pelo Fazedores sejam o caminho certo para a consolidação de uma cena plural, articulada e conectada.

4. FABIO APE – STY S – C NOTE 19
@fabioape
Soundcloud

Para essa música usei a groovebox Roland mc-303 para fazer o ritmo e baixo, e a Roland 707 pra fazer algumas baterias com flanger/phaser e as harmonias com sampler. Ela veio de um novo processo de criação onde estou usando as máquinas de forma mais livre, criando em conjunto, entre elas e gravando direto para o tape deck para pegar essa textura/sonoridade dos ruídos e brilho dos tapes.

Eu vejo o Fazedores de SOM como uma plataforma muito boa para conhecer novos nomes do cenário ou até mesmo nomes que não estão no destaque que merecem por todo esse marketing do “artista famoso”, acho importantíssimo um selo assim no qual o foco está na música e não no externo que tem por trás disso.

Vejo como essencial essa troca entre produtores e criadores para criar conteúdo relevante e trazer novos horizontes.

Divulgação

5. LEMES – HANG TIGHT
@lemes.art
Soundcloud

Essa música reflete bastante as influências que tenho hoje, de elementos que sempre busco independente das vertentes dentro da música eletrônica (Minimal, House, Techno), um deles é o groove, que foi minha escolha inicial ali no comecinho dos anos 2000. O groove que deixava as músicas bem dançantes, bem pista, com meu amadurecimento musical fui me apaixonando por melodias deep e atmosféricas que podem ser notadas nessa nova faixa pro Fazedores de SOM. Nela coloquei um pouco dessa influência do groove, um pouco mais moderado que ali nos anos 2000 e uma melodia hipnótica com saborzinho de dub, que é o que me encanta hoje em dia.

Eu sempre começo a compor minhas música pelo arranjo de bateria, eu tenho no meu estúdio algumas máquinas que me ajudam bastante nesse processo, sou apaixonado por hardware, então pego minha Drum Machine e gosto de desenhar beats até que me agradem o suficiente para se tornarem música. Unindo essa minha paixão por máquinas, com o tempo aprendi a desenhar timbres em sintetizadores, principalmente timbres de Dub Techno onde fico super à vontade, faço isso tanto no computador como em máquinas por aqui, daí pra frente é só juntar as duas coisas e temos música!

O Fazedores está fazendo um trabalho incrível de incentivo e divulgação do nosso material, além dos curadores, que têm se empenhado muito nessa entrega, a uma coisa que acho super bacana, que sempre encontramos artistas amigos juntos, pessoas que passamos tempo em trocas de ideias, filosofias e artes o tempo todo.

6. THE CHURCH OF SYNTH – COSMIC JOURNEY
@pbpaulobeto

Faço música desde 1988, por aí, comecei mais na onda do industrial e experimental e hoje em dia posso dizer que já flertei com quase todos os estilos. Sou apaixonado por sintetizador desde criança e tive a sorte de conseguir alguns synths clássicos e, quando tenho a oportunidade de ficar viajando com eles, produzo de uma forma mais livre, buscando referências mais íntimas. Eu tenho o THE CHURCH OF SYNTH, que eu assino essa faixa “Cosmic Journey”. Eu usei um sintetizador, bateria eletrônica. Um sintetizador híbrido, construído pelo Arthur Joly chamado Pogona. O Arthur Joly é também um grande amigo, entusiasta de sintetizadores. A gente tem uma amizade muito regada a essa ligação com os synths e, com esse synth, eu sou capaz de criar e controlar outros synths acoplados. Ele tem um sintetizador básico dentro dele, uma bateria eletrônica, que eu usei via midi controlando um voyager. Então é basicamente isso passando por um pedal memory man de delay e com esse aparato eu construí a minha viagem cósmica.

É um projeto no qual eu tenho muita liberdade porque eu invisto muito em produzir e colocar nas redes sociais. Eu não tenho nenhuma pretensão de lançar discos e etc. Mas uma vez, quando fui tocar no Festival de Cannes, me hospedei na cidade de Nice e, lá, conheci uma loja que também era uma gravadora e o cara era aficionado por música eletrônica analógica de sintetizadores e tal e eu, comprando discos lá, vi que ele tinha uns synths e puxei assunto e a gente ficou muito amigo. Ele tem um selo que se chama Evrlst.inc e eu tinha um trabalho todo produzido por minimoog. E ele quis lançar isso e está disponível para audição no Soundcloud da gravadora. Mas foi feito o produto também, em vinil e saiu em 10” transparente lindinho e você pode comprar se tiver sorte, porque as coisas dele esgotam bem rápido. 

Eu não sei exatamente se eu comecei logo no início [do Fazedores]. Eu sei que o Marco é uma pessoa que descobriu meu trabalho, não sei exatamente como, mas ele sempre faz questão que eu participe e eu acho muito legal. Acredito que é uma iniciativa muito interessante de divulgação de artistas e é um trabalho que tá cada vez ganhando mais força e sendo reconhecido. Eu fico muito feliz e muito honrado em ver que aquele projeto de juntar e lançar uns discos no Soundcloud e Bandcamp, se tornou um projeto reconhecido e que mais do que tudo, dedicado a divulgar os artistas brasileiros eu acho um projeto genial e digo sempre que pode contar comigo.

7. DJ LHC – LIKE A TATTOO
@dj_lhc
Soundcloud

A track “LIKE A TATTOO” é resultado da junção de influências de no mínimo três gêneros musicais diferentes. Tem a base no sample do som da cantora Sade que eu admiro muito e foi de onde surgiu a ideia inicial. Em um belo dia, estava escutando esse som da cantora e na minha cabeça eu já imaginei ele em 170 BPM, bem do jeitinho que ele se transformou após eu passar a ideia do som que estava na minha cabeça pro computador. 

Percebi que isso ficaria interessante com o pitch high e se transformaria em uma espécie de “jungle”, então corri pra abrir o FL Studio e produzir a track enquanto a ideia estava ali martelando minha mente. Isso fez com que eu desenvolvesse o som de maneira muito rápida, porém no processo de criação decidi abandonar um pouco a ideia inicial de ser algo totalmente jungle e alterei alguns aspectos. Experimentei deixar ele mais puxado pro lado do “Liquid Drum and Bass” marcando os snares e kicks característicos, a vibe do sample original era de algo bem emocional e lento, porém após eu fazer essa track percebi que consegui mudar essa atmosfera pra algo mais alegre e pulsante de forma com que isso poderia ser tocado em sets tranquilamente em meio a festas.

Ao mesmo tempo que as drums flertam entre o Jungle e o Drum and Bass temos no meio do som algo que se mistura com minhas influências do rap de Memphis dos anos 90, com os vocais chopped in screwed, e isso é algo que eu chamaria de marca característica do DJ LHC, não pode faltar esses vocais chopped em nenhuma produção desse projeto.

8. PERONI – HONEY RAY
@aanaperoni
Soundcloud

O processo de criação das minhas tracks normalmente começa a partir de alguma faísca de sentimento ou mood, que me preenche nesse espaço de tempo, desde músicas, poesias, notícias e coisas que me atravessam. Com base nisso começo desenvolver o projeto quase que 100% na Korg Electribe EMX-1 e depois de sentir que o som já tem vida passo pro Ableton pra incrementar. Mas é basicamente me sinto mais livre e gosto de desenvolver grande parte na Korg. 

Com a track “Honey Ray” não foi diferente, estava num momento de euforia dentre altos e baixos que a pandemia tem nos deixado a mercê, consumindo bastante referências de guettotech, juke e funk e resolvi mesclar isso com alguns vocais e criar algo bem up. 

Já a minha relação com Fazedores de SOM vem desde antes de começar a produzir som de fato, já conhecia o projeto e acompanhava os lançamentos e produtores. Sempre achei muito importante a abertura que eles proporcionam aos artistas, a variedade de estilos e nomes que são lançados pelo selo. 

Recebi o convite bem no início do meu processo de produção quando ainda não estava completamente segura do que vinha fazendo até que cheguei num momento de começar a botar pra fora as coisas que vinha trabalhando há algum tempo. Foi aí que me senti pronta pra fazer parte e somar junto do V.A. e fiquei muito contente de fazer parte junto de vários artistas que admiro.

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9. LESTON – GONGOM
@matheusleston
Soundcloud

Essa faixa é, em primeiro lugar, um estudo do seu próprio processo de composição. Depois de anos experimentando com setups e lógicas de criação diferentes, sinto que finalmente cheguei em um lugar que me sinto confortável e que tenho muito interesse: utilizo um sintetizador modular controlado por programação para gerar os sons de maneira aleatória. E essa é a primeira track composta do começo ao fim nesta nova lógica.

Eu utilizo a programação para gerar sequências de maneira aleatória que criam resultados surpreendentes. Eu não tenho controle de todas as decisões, pelo contrário, eu apenas controlo a estrutura, parâmetros gerais, e as especificidades de cada som são decisões do algoritmo. E ao usar essa aleatoriedade controlada em um sistema modular, mais um aspecto importante surge: a maneira que os módulos irão se comportar também é levemente imprevisível.

Com tudo isso, o processo de composição é mais uma curadoria de sons do que um virtuosismo do extremo controle.

10. MARCELULOSE – 0800
@marcelulose808

Soundcloud

Essa música vai fazer quase um ano e ela surgiu em uma época muito boa porque foi logo quando lancei o meu EP TUE pela Goma Records. Foi então na fase que eu tinha recebido muitos retornos e críticas positivas. E toda uma inspiração e confiança com a minha música pra mostrar pras pessoas. O bruto dela eu devo ter feito em uma madrugada. Eu lembro que foi uma daquelas que tu começa e esquece de tudo e só vai, muitas horas e tu ainda está preso naquilo e não demonstra cansaço, só foco. Aprimorei ela mais alguns dias depois em detalhes, depois, ao fazer mix mais um pouco.

Eu não tinha nenhum plano pra lançá-la, mas senti que era uma track valiosa pra mim e que eu deveria guardar pois o momento dela poderia chegar. Então foi muito bom quando recebi o convite logo no início do ano, mandei umas quatro músicas e essa tava junto. Daí eu recebi ali na proposta e fiquei muito feliz, de que eu poderia reservar essas tracks que sairiam no decorrer dos lançamentos dos volumes seguintes da coletânea. Então isso fez muito sentido na relação que eu tinha com essa música porque se confirmou a intenção que eu tinha dela, que era de valor tanto sentimental quanto de tempo de vida doado. Um dos insights que eu tive pra composição da música, no início da faixa, foi de inspiração que eu tive com uma música da DJ Fritzzo, a primeira produção que ela lançou, que é a track intitulada “Greta” e eu tinha amado essa música e ainda amo. E eu tava com ela muito na cabeça e usei ela de ponto inicial. Também usei um recurso que pode ficar evidente pra algumas pessoas que é pôr um pouco mais de batidas dentro dela, conforme ela vai andando em um curto espaço de tempo o kick age bastante.

Outra coisa interessante é que conforme eu fui fazendo, ela mesma foi se dizendo o que ela queria. Porque eu ia adicionando algumas coisas, e a ideia tava aqui, mas junto no meio disso, no meio da jam, enquanto eu tô fazendo o looping mãe, vendo o que fica legal ou não fica, eu entrei numa vibe que tá muito presente nela que são os sintetizadores de fundo que fazem uma cama bem estéreo e uma coisa com uma paisagem sonora e um corpo maior na casa dos médios. Daí a partir disso eu vi que ela poderia ser uma track com um fator mais mental e uma coisa mais lisérgica até. Revisitando alguns timbres mais antigos com sintetizadores da época dos anos 90, por aí. Daí, isso foi uma base muito forte pra canção, só que também eu me lembro que no final dela eu fui editando tanto o som ali, alguns timbres que eu gostava e eu cheguei num outro timbre que, pra mim, era um contraste da ideia que eu tava tendo da música. A música pra mim tinha essa planície mais mental e introspectiva e esse outro timbre que acontece mais pro final, que é um timbre bem rasgado e que vem com estéreo forte, passando de um lado pro outro, com bastante distorção e ele dava um contraste muito grande em uma coisa mais raivosa pra música, digamos assim, um peso mesmo. E daí esse contraste fechou muito pra mim e fiquei muito contente na época de conseguir encaixar essas ideias numa coisa só sem parecer over productions, como se tivesse jogado muita coisa. As coisas tiveram uma intensidade e se casaram muito bem. 

11. ZOPELAR – BALANCE
@zopelar
Soundcloud

Primeiramente quero agradecer a oportunidade de fazer parte dessa coletânea que eu acompanho, lembro desde os primeiros lançamentos e sempre tive vontade de participar. Já tive alguns convites até, através do Marco, que, por alguma correria ou por estar focado em outras coisas, eu acabei não entregando a música. Mas desde então sempre quis participar dessa coletânea porque sempre uniu muitos artistas diferentes que eu respeito muito de diferentes núcleos e de diferentes backgrounds musicais e tá sendo muito legal pra mim fazer parte dessa edição. Eu escolhi uma música que é bem importante pra mim. Deve ter mais ou menos dois anos que eu compus ela, e estava esperando um momento legal pra poder lança-la. É de uma leva junto do meu disco do My Girlfriend pra Apron e foi uma retomada pra mim de um som menos agressivo. Uma coisa que conectava com a minha veia mais musical da carreira, como eu comecei como músico antes de ser dj e produtor. E foi bem importante essa reconexão. Acho as harmonias dessa bem interessantes, que tem uns solos. Bem rica, eu acredito, musicalmente, e tem uma vibe meio height, nas alturas. Eu curto muito ouvir as minhas músicas no avião, quando eu tô indo pra alguma gig e essa música me lembra muito esses momentos de altura. Então, eu espero que vocês curtam, pois é uma música bem importante pra mim de um momento crucial pra minha carreira.

12. ARTHUR JOLY – 808&JOLYMOD
@arthurjoly
Soundcloud

Meu nome é Arthur Joly, sou produtor musical e faz quase dez anos que eu construo meus equipamentos, recosynths. “808&Jolymod”, a faixa, tem um dos meus maiores o Jolymod. É uma música que eu nunca tinha lançado, mas que eu tenho um grande apreço. Eu toco ela às vezes ao vivo, mas nunca tinha divulgado em lugar nenhum. Então, quando surgiu esse convite, eu vi uma oportunidade legal de colocar essa música no ar. Ela une a minha maior paixão dentre as baterias eletrônicas, é a TR808 da Roland, a bateria que historicamente deu origem ao funk carioca com aquele groove do Voltmix, do Dj Battery Brain. E eu também usei um vocoder pra cantar e falar justamente essas duas coisas: Jolymod, a 808. Essa faixa deve ser de 2014 ou 2015. 

O Blasquez já tinha me chamado pra falar desse selo[Fazedores de SOM] e dessa junção de artistas há um bom tempo. E eu acompanho todos os envolvidos paralelamente. Apesar de eu não ser um cara que faça muito som ao vivo eu conheço quase todos à distância. Estar no meio deles pra mim é uma satisfação inenarrável porque ultimamente eu tenho ficado muito mais soldando e construindo equipamento, trabalhando com vinil, master. Então pra mim significa um momento que tá sendo bem legal, porque eu voltei a participar da cena musical não só como um técnico de construção de equipamentos ou de master. 

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13. URSA MENOR – ACABAR
@uuursamenor // @pincelatttomico
Soundcloud

acabar” é uma track produzida para dançar chorando. Ela nasceu no piano num momento de ansiedade, antecedente à pandemia. Trabalhei sua melodia adicionando algumas camadas de um sintetizador que gosto muito, o Juno 106. Kicks e linhas de baixo marcadas, somadas a uma bateria clássica com claps, hats, rides e outros poucos efeitos.

Minha relação com o Fazedores de Som é recente. Anteriormente participei da 15ª edição da coletânea com minha track “TEMPLO”, lançada no meu EP SOL (2019). Fui convidada a participar da nova edição com uma música e com a criação da capa que a ilustra. A arte da capa, “fonte”, foi feita através de colagem e tinta acrílica, meios que costumo usar para criar meus trabalhos visuais. Pensando no coletivo de artistas que estão neste volume, escolhi esta estátua da ninfa do mar, que integra a Fonte de Netuno, localizada na Florença, Itália, feita pelo escultor Bartolomeo Ammannati em 1565. Eu gosto muito de fontes, destas que podemos ver nos espaços públicos; são obras de arte acessíveis, livres de paredes, de teto. Vejo uma fonte nesta coletânea.

14. BLASQUEZ – PRELÚDIO
@djblasquez
Soundcloud

“Prelúdio” é uma fusão de alguns elementos que escolhi espontaneamente numa ideia de ilustrar um recorte de um dia qualquer. Eu fui compondo, pensando exatamente nessa paisagem sonora e como é a minha relação com o som ao redor. Nela, agreguei elementos que diariamente me ajudam a equilibrar as emoções nessa relação com o mundo exterior. 

15. VERMELHO – HEADSPIN
@mvermelho
Soundcloud

O processo da minha faixa foi bem simples, usei apenas uma TB-03, Elektron Digitakt e D-50. Já tinha uma ideia em andamento quando surgiu o convite para a coletânea, a princípio pensei em algo mais experimental, mas acabei produzindo uma música mais dançante.

Sempre vi o Fazedores de SOM como um espaço bem eclético musicalmente, tenho um grande respeito pela curadoria e o panorama que sempre oferece de novos sons, envolvendo produtores de todas as gerações.

16. MALKA – ESPÍRITO ANIMAL
@malkajulieta.b

Soundcloud

Eu passei um período um pouco conflituoso nos últimos meses e essa música foi uma coisa como se tivesse falando comigo mesma. Falando com meu espírito animal. Falando com a mulher dentro de mim que precisava acordar pra muitas coisas. Precisava ir pra outros caminhos e ao mesmo tempo, esse mantra final de proteção ao corpo, ao tempo, onde você vive, a pele que você habita. Então, é um chamado, de convocação de forças mesmo, pra conseguir enfrentar tudo isso que vem de fora e tudo o que a gente tá passando. 

Acho que é uma música que traz essa questão da proteção e fechar o corpo pra esses vírus, pra essas coisas que tentam balançar a gente. É quase um ritual mesmo. Tenho feito muita música nesse sentido ritual. Do poder da palavra. De poder mudar meu redor com a poesia e a palavra. Um feitiço mágico pra alcançar paz, proteção e conseguir o abrigo dentro do meu próprio corpo pra poder fazer tudo isso acontecer e continuar batalhando pelas coisas e produzindo, acreditando na arte do país. Na nossa arte dentro do nosso contexto social nesse momento. Eu acho que todo nós precisamos de proteção de alguma forma. Então, isso é um chamado ao espírito animal de todo mundo pra que se deixe vir desse lugar que vem de dentro e que se possa ecoar essas palavras pra proteger as casas e os lugares que chega essa música. 

17. DRAMATCLOWN – NO PARKING
@augusto_merli
Soundcloud

Boa parte das minhas músicas como esta são tentativas de um não-músico de expressar sentimentos através de sons.

Para chegar no resultado final é sempre um grande jogo de paciência, experimentação e muita tentativa e erro.

O melhor de tudo é que até dos erros surge algo bom, assim como na vida.

Colaboro com os Fazedores desde 2015 com músicas e também em alguns volumes fui responsável pela sequência das faixas.

18. BRUNO REAL – THE FALLING DOWN
@brnoreal
Soundcloud

Para a faixa presente nesta coletânea, revisito esteticamente um pouco das minhas memórias afetivas em relação ao que alguns denominaram “neo trance” na década passada. “The Failing Dawn” também é um lembrete da relação que tenho e entendo com um som “mais pista”, me ocupando com a progressão e repetição dos elementos em uma estética abafada, que caracteriza algumas de minhas produções. É também uma faixa onde coloco um pouco mais a mão nos equipamentos, atuando nos knobs e teclas sem muita pressão para finalização – tem o erro e o acerto, como tudo o que acontece aqui fora na vida real.

Participo do Fazedores desde a primeira edição com diferentes projetos/alias além de Bruno Real, como Castaños & Luiz Gastale, Azip, Toledo, Mondo Creme e Aqamental.

19. CAIO HAAR – HEINPAI
@caiohaar
Soundcloud

A track foi um processo rápido. Ouvi uns dois ou três sets do DJ Rush, que tenho como referência pra guiar uma pista, e então fui tentando perceber a estrutura e a timbragem das músicas com mais drive e parti pro Ableton.

Senti que precisava de algum vocal curto e que desse uma chamada em alguns momentos, e acabei usando um a capella em inglês de rap que fui cortando até chegar em algo que em português soasse meio engraçado, como a mania da molecada de hoje em dia de chamar todo mundo de pai, acabei acolhendo o resultado. A track saiu em três dias e depois de deixar uns dois dias parada sem ouvir voltei pra dar uns toques finais e mandei pra masterizar.

20. ENҬRŎℙIA ENŤALℙIA – FAZ
@entropialive707
Soundcloud

Minha história com o Fazedores de SOM e com o Marco vem dessa relação constante de intercâmbio de experiências e troca entre os seres que compõem este emaranhado cultural que chamamos carinhosamente de “cena”. O Fazedores me serviu bastante como um motivador para cada vez mais buscar trocar com todos estes artistas que hoje em dia em sua maioria são amigues e que colaboram com esta rede de apoio mesmo. Vai além de tocar a faixa do coleguinha ou algo assim. É compartilhar o que sabe em todos os sentidos, compartilhar pesquisas, dar lugar, trazer para perto e juntos servir como uma rede de apoio principalmente para os novos artistas. Acho que a intenção do projeto é também furar essa tal “bolha” que estamos inseridos e alcançar e potencializar o trabalho de quem ainda não é consagrado na cena. 

Para esta edição da coletânea preparei uma faixa um pouco diferente das últimas que ando soltando. Uma faixa mais agressiva, e menos linear, ao mesmo tempo muito dançante, mesmo com seu groove ácido e quebrado. Usei um pedal de distorção feito a mão por um luthier de São Paulo para saturar a TR8 que comanda as linhas de bateria e também a TB303 que assume a segunda linha de baixo. Esta música me serve um pouco como válvula de escape para liberar um pouco a energia e conter a ansiedade neste período de isolamento que estamos vivendo. Espero que a faixa também possa servir para que outras pessoas transbordem um pouco de sinestesia, assim como eu enquanto estava fazendo e ouvindo esse corte 🙂

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21. LUCAS KID – UM MOMENTO
@lucas_kid
Soundcloud

“um momento” foi feita em outubro de 2019, em uma sessão de gravação direta de sampler e sintetizadores (digitakt, analog four e TB-03) em um único take, depois recortada e exportada pelo computador. Estou há pouco tempo produzindo dessa forma e essa música foi uma das primeiras sessões de minhas gravações. Em grande parte tem sido legal pra mim esse processo mais imediato e expressivo de criação e também de finalizar grande parte da música aproveitando o momento em que o som foi pensado.

Minha relação com a Fazedores de Som é recente. Eu já tinha acompanhado algumas coletâneas que amigos e muitos outros artistas que admiro soltaram seus sons por lá, e me identifico ainda mais com a diversidade sonora e abrangência de diferentes artistas que o selo traz. Foi muito legal receber o convite para essa próxima coletânea e saber que antes já conheciam meu som de alguma forma.

22. MAX UNDERSON – GALAX
@max.underson
Soundcloud

Em “Galax” tentei criar uma linha de electro futurista mais “agressiva”. É uma música com punch, com elementos crescentes e timbres sintetizados numa catástrofe espacial. Fiz a música em dois dias a partir do elemento principal do acorde do synth que entra em destaque até o final, a bateria tem uma construção quebrada, evolui juntamente com o hi hat sujo e crescente.

Meu processo de criação geralmente começa pela pesquisa musical das coisas mais atuais que tenho escutado, as festas independentes também são grandes fontes de inspiração, e consequentemente, quando começo criar algo tento me reconectar com as minhas lembranças nesses lugares e toda experiência sensorial que o ambiente de festa proporciona.

23. ZANI – EVIL AVAR
@zanizsni
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“Evil Evar” foi fruto de um processo de produção extenso de quase três semanas de um live set produzido durante a pandemia, para ser transmitido exclusivamente pelo Festival Radiação, organizado pela Sangra Muta. A convite da Silver/Tape, festa qual tenho o prazer de escalar o grupo de artistas residentes, elaborei uma narrativa sonora com uma hora de duração, englobando não apenas faixas novíssimas, mas também um apanhado de outras mais antigas que eu tanto gosto. Dentre elas, como eu pontuei, estava esta jornada astral múltipla, com um foco específico na elaboração espacial estereofônica diferenciada, que eu resolvi escolher para lapidar e construir para integrar a compilação.

Para construir a faixa, utilizei três elementos pontuais que são parte comum das minhas produções: uma linha melódica principal, uma camada de sub-bass para preencher os graves e texturizar, bem como para complementar a melodia, e a camada rítmica. Utilizei para as duas primeiras camadas o mesmo sintetizador analógico, Bass Station 2, que tanto gosto. Para criar uma dimensão maior, passei o som dele pelo pedal de delay DD-7. A rítmica veio da drum machine Electribe ESX-1, que venho utilizando desde meados do ano passado nas minhas composições. Enfim, a faixa busca uma amplitude maior do que a que estamos vivendo durante os tempos de pandemia. “Presos” em casa, reduzimos espacialmente nosso ambiente acústico de escuta diária de música. Procurei transpassar essas limitações e propor sonoramente a partir do trabalho stereo uma projeção irreal de lugares atualmente inacessíveis, mimetizando o alívio sensorial que o ouvinte pode ter ao se entregar e imergir durante a escuta.

24. SILENZO – YOU SHOULDN’T HAVE 
@silenzo_urro
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A criação de ‘You Shouldn’t Have’ revisita caminhos da minha carreira de DJ e Produtor, a partir de um outro ponto de vista, num formato ‘slowly exploding’. A track foi produzida desconstruindo referências sonoras, com timbres, samples e ritmos que fizeram parte da minha educação musical.

Fico extremamente feliz de ter sido chamado para lançar, junto com tantos outros artistas que admiro, esta faixa que tem tanto significado pra mim na coletânea do Fazedores de SOM, núcleo que, desde 2012, inclui tantos artistas importantes e estilos variados.

25. SUBISMO – KATANA
@subismoritmo
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Agradeço ao Marco pelo convite, eu conheci o projeto a algum tempo atrás pelo amigo Bad_Mix que já tinha participado com tracks no selo, admiro muito o Fazedores de SOM pela proposta de reunir artistas de diversos gêneros e backgrounds, é muito legal ver essa mistura reunida nas compilações, isso só confirma que os muitos talentos já consolidados e também os escondidos por ai, além do mais, tudo isso ajuda a manter a música underground ferozmente viva! 

Agora acho difícil falar sobre processos criativos, mas acho que a ideia inicial era tentar chegar em um som com algumas características que me influenciam do techno feito nos anos 90, timbres que aparentam ter uma certa sujeira, e em especial o kick mais seco, assim… dando espaço para o bassline saturado e a bateria ditar o ritmo, gosto muito do groove minimalista daquela época, o pioneirismo desse estilo sempre foi uma grande fonte de referência. Tendo tudo isso em mente, fiz a soma e tentei chegar em algo que tivesse a minha assinatura, eu espero que gostem.

26. ROD – 100CAIS
@rodnao
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Minhas produções passam muito por experimentações de levadas quebradas, de ritmo e de poesia. Explorando bastante o caótico e o errado. Para essa coletânea, contribui com a track “100CAIS” – que não foge dessas características. 

Esta é minha segunda participação com o Fazedores. Pensando numa trilogia resolvi tentar um diálogo entre as tracks, mantendo o techno como norte.

Na edição 14 vol.[a], a música “_100fim” refletia um sentimento de revolta, envolto de mais ação, num vai-e-vem ativo. Já para esta segunda coletânea, nasceu “100CAIS”. Composição de tonalidade mais densa e sombria, produzida nesse momento em que tantos de nós, nos vemos diante do mar das incertezas e melancolias. Havendo ainda uma ampliação da revolta, por todo processo de destruição que vivemos politicamente.

Enxergo a força que um projeto como esse é capaz de ter, reunindo trabalhos de artistas tão talentosos e de tantas visões musicais diferentes. A cena eletrônica atual passa por tempos de enorme fertilidade nas produções nacionais. Onde carecemos ainda muito de espaços – tanto físicos como virtuais – capazes de divulgar nossos trampos, que nascem normalmente, de processos de bastante maturação, pesquisas e tentativas, acertos e desacertos.

27. RAMPAZZO – HEAVY MACHINE
@depassagen
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O processo de composição dessa música foi gradual. Eu iniciei um projeto aleatório na Roland MC307 e deixei salvo. Esse é, inclusive, o processo que costumo fazer nos meus trabalhos de arte visual ou de design quando tenho maior liberdade de criação: iniciar algo aleatoriamente e sentir o caminho para onde ele me leva. Dias depois acessei aquele pattern salvo e pude olhar a música de outra forma. Coloquei ela pra tocar e toquei um pad em cima da melodia do synth, o que deixou a música um pouco mais orgânica. Como de costume, gravei tudo em um canal stereo e depois adicionei alguns elementos rítmicos em partes específicas da música. O que gosto bastante nessa música é a parte onde tem um drop para um momento mais enérgico com o prato de condução. O nome da música foi inspirado no funk “Get up (Like a sex machine)” do James Brown porque, de alguma forma, eu senti alguma semelhança com ela. Acho que essa é a parte legal desse processo: chegar em lugares inesperados que soam com coisas que me agradam.

É incrível poder participar dessa coletânea abrangente em todos os sentidos: estilos sonoros, pessoas envolvidas e alcance geográfico que atinge. Enxergo no Fazedores de SOM a possibilidade e a aproximação entre diferentes vertentes sonoras e de produtores da música brasileiro. Precisamos cada vez mais de projetos e iniciativas desse porte para que a gente possa entender e mapear melhor a complexidade que é a nossa cultura e música.

28. GUILLERRRMO – ZONA DE CONFORTO
@guillerrrrrmo

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Eu demorei um pouco mais de um mês pra fazer “Zona de Comforto”. Às vezes fico semanas só com um loop até começar o arranjo de fato. Comecei transformando alguns samples em instrumentos e fui fazendo uns loops aleatórios até encontrar um padrão interessante, depois encontrei um loop de bateria e usei isso como a base da música. No fim ficou bem interessante o resultado, tem vários momentos com alguns synths e uma bateria simples, dançante.

Divulgação

29. DJ Mtn9090 – BALUARTE
@djmtn9090
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Então, “Baluarte”, é como se fosse uma fortaleza bélica, digamos assim. Esse nome surgiu despretensiosamente porque eu estava em um bate boca no Facebook com uma pessoa que era completamente reacionária e ela falou que dois Deejays que eu já conhecia, por atitudes duvidosas, eram dois baluartes da música eletrônica. E eu achei isso extremamente engraçado e absurdo. Então eu peguei essa palavra e coloquei como nome da música, como um deboche. Eu acho essa música bem simples e é por isso que eu gosto dela, na verdade. Ela tem uma mensagem de fácil transmissão. De forma natural acabei criando um groove simples e isso é muito mágico pra mim. Ela tem um sample de piano com uma vibe alegre e uma bateria intensa, que é a característica do que eu tenho curtido produzir atualmente. Curiosidade: Eu já toquei ela numa festa uma vez, não tinha master nesse momento. Era só um arquivo que eu tinha feito um dia à tarde em casa e era um evento da Zona Exp em Porto Alegre. Foi um evento com um line com Marcus Felix e eu tocando juntos, Erãm, Perelli e Pianki. Essa festa foi muito legal e eu toquei essa música no finalzinho, no último B2B da noite. E eu lembro que toquei ela muito mais acelerada do que ele é, porque o Marcus tava tocando 160bpm. A gente tava fazendo um set 150 pra cima. E essa música é 130bpm. E eu distorci muito ela e olhei pra pista pra ver se a galera tava curtindo e eu vi o Marcelulose fazendo careta. “Ele tá curtindo, então tá massa.” Foi essa pira que eu entrei. Então já testei essa música aprovada por Marcelulose e agora tá no Fazedores de Som.

30. TECHNOVINHO – VISITA ÍNTIMA
@technovinho
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A track “Visita Íntima” é o produto da viagem intra-musical que tenho feito durante a quarentena, revisitando espaços e referências dentro de mim e resgatando algumas inspirações do início da minha jornada na música, lá em meados de 2008, onde começava a aprender violão. Gostava muito de Funk Melody e, mesmo sem saber, consequentemente de Miami Bass. Consegui colocar isso de maneira bem objetiva nessa track, preservando poucos elementos de beat grooveados em base de electro e sintetizadores marcados, dobrados em loops. O arranjo do synth é um cruzamento de vocais de relíquias do Funk Carioca e melodias do Miami Bass.

31. BAD_MIX – SPECTRUM DROP
@badmix_mixbad
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Minha relação com o selo começou ano passado quando contribui com uma faixa para o 14º volume. Esse ano a relação foi mais intensa, pois fui responsável pela masterização de 16 tracks do disco, além de contribuir com a faixa “Spectrum Drop”. A faixa caminha pelo jungle, um estilo que me inspira muito e foi interessante arriscar algo por esse caminho.

Composta por drum breaks saturados, pads atmosféricos e uma linha de baixo, acredito que consegui passar o estado de espírito que estava durante o tempo que gastei para produzir. A track foi performada e gravada ao vivo em um take. Com um leve toque de edição e mixagem.

Agora falando sobre o processo de master: fiquei muito feliz pela confiança que os artistas depositaram em mim para realizar as masters. O disco está lindo, muito diverso, recheado de talentos da cena e composto por artistas que admiro muito e acreditam na música.

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03/07/2020

Revista NOIZE

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