As inscrições para o Natura Musical da Bahia, Rio Grande do Sul e Pará estão abertas até o dia 24 de junho de 2016. Com onze anos de história, o programa é reconhecido por patrocinar artistas e projetos de diferentes gerações, na busca pela renovação e preservação do repertório da música brasileira. Ao valorizar a identidade e autenticidade da nossa produção cultural, o Natura Musical amplia a conexão e a visibilidade da nossa música no mundo.
Trocamos uma ideia com a Fernanda Paiva, gerente de marketing institucional da Natura, para entender quais são os principais critérios de escolha dos ganhadores dos editais:
Na sua perspectiva, qual é o fio condutor de todos os contemplados pelo Natura Musical?
Tem algumas características da música brasileira que a gente define no Natura Musical como “música brasileira raiz antena”. Quando a gente se refere à raiz, pensa na tradição, na fundação da nossa identidade, no sotaque regional brasileiro, nos ritmos e instrumentos daqui. Mas, ao mesmo tempo, é antena porque se renova com o tempo, se mistura com outras influências musicais do próprio país e também do mundo. É o que faz essa música ser tão vibrante, tão pulsante, tão viva. Então quando a gente olha para este recorte de “música brasileira raiz antena” ele é realmente um fio condutor de todos os projetos do Natura Musical. Tanto nos artistas consagrados, como Elza Soares com A Mulher do Fim do Mundo, quanto o Ney Matogrosso com Atento aos Sinais, olhamos para esse momento da carreira deles nos quais o Natura Musical participou e percebemos esse conceito de “raiz antena”. Ainda que tenham uma trajetória extremamente reconhecida, lançaram trabalhos ultra inovadores e provocativos. Ao mesmo tempo, temos esta nova geração da música brasileira, com Felipe Catto, Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz e Felipe Cordeiro que tem esta característica de se inspirar na mistura de musicalidades. Há também outros projetos voltados à preservação da memória da identidade brasileira, como filmes, documentários, publicações e acervos. Eles têm como objetivo trazer um registro da história da nossa formação musical para uma linguagem contemporânea, para dar acesso a um novo público. Um ótimo exemplo disso é um documentário que nós patrocinamos chamado A música segundo Tom Jobim, com o Nelson Pereira dos Santos, que é uma grande colagem de artistas do mundo inteiro interpretando a obra de Tom com uma linguagem extremamente atualizada.
Que dicas você daria para quem pretende se inscrever?
Ter cuidado com a estrutura do projeto. Ler o regulamento com muita atenção, principalmente no que se refere aos critérios de avaliação. Conseguir destacar os principais atributos e características que serão avaliados pelos especialistas, denotando relevância cultural e excelência artística. Outro fator importante é saber traduzir a legitimidade e reconhecimento dos envolvidos, seus produtores e instrumentistas. Também avaliamos o potencial de visibilidade e mobilização de público que aquela proposta é capaz de gerar, ou seja, deve ter uma boa estratégia de divulgação e distribuição do produto cultural, da ação que será feita. Precisamos ter certeza de que aquele recurso que o Natura Musical está investindo realmente terá um amplo interesse público e uma difusão posterior à sua produção. Sobretudo, quando a gente pensa na viabilidade operacional e na parte de custo-benefício, é importante vermos um bom plano de trabalho, consistente em seu orçamento, cronograma e equipe envolvida, garantindo que a proposta terá um custo competitivo e viável de ser colocado em pé. Então, a primeira dica que eu é sempre olhar muito bem esses critérios dos editais e tentar realçar essas qualidades no seu projeto. E a segunda dica, que é realmente importante também, é pensar o seu projeto dentro de uma cena que é muito abrangente e lembrar que ele vai estar entre milhares de outras propostas. Em 2015, os editais Natura Musical nacional e regionais, nos Estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Pará, receberam 1742 inscrições. Vale pensar que este projeto será lido e avaliado por uma comissão de especialistas que é terceirizada, isenta e feita por produtores e curadores musicais que muitas vezes não tiveram contato com aqueles artistas. Então eles precisam ter condições de bater o olho no projeto e mesmo não conhecendo aquele artista, entender que aquela proposta é representativa. São eles que têm total autonomia para essa tomada de decisões. Outro ponto importante é que muitas vezes, um mesmo projeto se inscreve para um ano e não é priorizado (porque tem outros que acabam sendo priorizados naquela edição) mas acaba sendo escolhido no ano seguinte ou até dois anos depois, porque mudaram os competidores e mudou a leitura dos avaliadores também. Muitas vezes o próprio artista está diferente e passa a ter mais reconhecimento ao longo do tempo.
Abaixo você também encontra entrevistas feitas pela assessoria da Natura com a comissão de especialistas que foram jurados do programa no ano passado, cheias de dicas para quem quer se inscrever no edital, leia abaixo:
Zé Pedro (DJ e pesquisador)
O que vc procurava nos projetos?
Diferença. Projetos ou artistas que se parecessem com outros eu não considerava.
Que detalhes dos projetos chamam mais sua atenção?
Acima de tudo personalidade, algo que me atraísse como único.
Mídias e formatos de compartilhamento influenciavam nas suas escolhas?
Senti que em artistas que eu considerava importantes a apresentação era tosca faltando maiores informações. O ideal seria que todos mandassem os projetos de forma completa: um áudio, um texto explicativo, um vídeo e fotos.
O que pesava mais nas suas indicações?
Principalmente se era a primeira vez que pedia o patrocínio da Natura e se o valor estava dentro da realidade do mercado.
Rafael Rocha (Diretor de Criação da Noize)
O que vc procurava nos projetos?
procurava originalidade, representatividade com o cenário e cultura brasileira. Sempre busquei projetos que acrescentassem artisticamente, e que de fato necessitavam do apoio proposto pela Natura.
Que detalhes dos projetos chamam mais sua atenção?
Quando uma historia era bem contada, os argumentos válidos (principlamente na pasta de legado), todos nós (especialistas) concordávamos. O áudio que vinha junto e o material em anexo, assim como o que há do artista e projeto na web, sempre foram fundamentais.
O que pesava mais nas suas indicações?
A relevância artística para a cultura e o valor dele na soma das pastas.
Mídias e formatos de compartilhamento influenciavam nas suas escolhas?
Claro. Pois sempre era bom buscar mais informações. Onde o artista estava, o que ele já tinha feito, em que fase de carreira ele se encontra. Tudo isso pesava.
Edvaldo Souza (pesquisador e jornalista)
O que vc procurava nos projetos?
Projetos que tenham boa circulação, legitimidade, resgates de obras e interações.
Quais detalhes dos projetos chamam mais sua atenção?
A continuidade e compromisso com a sua obra, interação entre artistas das diversas regiões do pais.
Mídias e formatos de compartilhamento influenciavam nas suas escolhas?
Atualmente a melhor forma de avaliação são as redes sociais e sem dúvidas se o artista estiver presente e atuantes na grande rede, eu o considero atuante e conectado.
O que pesava mais nas suas indicações?
A circulação na região norte e formação de parcerias entre os projetos analisados.
Quer mais dicas? Então leia aqui um manual de como gravar um disco patrocinado em 10 passos.