isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
poema ”Incenso fosse música” do livro Distraídos venceremos (1991) de Paulo Leminski
Paulo Leminski é o poeta brasileiro mais querido e popular dos tempos atuais. Pena que essa popularidade tenha demorado um pouco a aparecer. Não que o poeta não tivesse prestígio suficiente antes, longe disso, mas pode-se dizer que hoje é uma figura pop reconhecida. O poeta não está dentre nós desde 1989 quando, aos 44 anos, dá adeus ao nosso mundo. Mas, não deu adeus antes de nos presentear com belíssimas produções. Escritor, tradutor, professor, crítico literário, publicitário e, obviamente, poeta, o curitibano Leminski também contribuiu para a música brasileira, com letras/poemas musicados por grandes nomes de nossa música. Alguns deles? Caetano Veloso, Itamar Assumpção, Ney Matogrosso, Moraes Moreira, Vítor Ramil, Paulinho Boca de Cantor, etc, etc, etc…
”Verdura”, no disco Outras Palavras (1981) de Caetano Veloso. Letra de Paulo Leminski.
Na poesia de Leminski encontramos uma visceralidade precisa. Quer dizer, uma visceralidade lapidada, não crua, senão que obra do artesanato de um poeta crítico com seu material poético. A aparente simplicidade de seus versos e rimas escondem um poeta dedicadíssimo na sua produção. Passeando pela poesia concreta, sem ocultar o conteúdo e a carga afetiva na maior parte de sua obra, o poeta é produtor de belas e singelas imagens e é, também, um dos mestres no haikai brasileiro (poema japonês com características particulares, dentre elas haver apenas três versos). Isso tudo é apenas um suposto ecletismo, pois o estilo de Leminski se torna inconfundível, onde a emoção e um artesanato afiado conciliam-se numa obra leve e profunda ao mesmo tempo.
”Promessas demais”, do disco Matogrosso (1982) de Ney Matogrosso ao vivo em Lisboa no mesmo ano. Letra de Paulo Leminski, música de Moraes Moreira e Zeca Barreto.
Outra faceta considerável da poesia de Leminski é o seu cuidado minuncioso com o ritmo e a melodia. E aí que entra a música: há inúmeros poemas de Leminski passíveis de ser musicados. Muitos foram, outros ainda não. Dentre poemas musicados, e letras feitas especificamente para a música de outrem, sua filha Estrela Ruiz Leminski cria o projeto ”Leminskanções”, onde sua banda ”Estrelinski e os Paulera” gravam (e também tocam ao vivo) dois discos recheados de produções do Leminski pai(ouça na íntegra em www.leminski.com.br). Além da voz de Estrela, temos aqui a participação, dentre outras, de Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro e Zélia Duncan, potencializando o que já é está muito bem feito por Estrelinski e os Paulera.
”Desilusão” por Estrelinski e os Paulera. Letra de Paulo Leminski
Não há poeta brasileiro mais musical que Leminski. Seu cuidado rítmico e melódico com a poesia o colocam como o poeta mais passível de traduções em música de sua obra. Essa é só uma amostra da infinidade que sua obra pode alcançar em, inclusive, ”novas canções” que podem ir beber na sua fonte. Pena ele não estar aqui pra ver tudo isso.
”Luzes”, do disco Paradeiro (2001) de Arnaldo Antunes. Letra de Paulo Leminski.
Obs.: Como dito anteriormente, o poeta Arnaldo Antunes costuma gravar musicalmente outros poetas.
Lucas Krüger é psicólogo, psicanalista e poeta, autor do livro O sonho da vírgula (2015): http://www.lucaskruger.com | arteseecos@lucaskruger.com