Há cinco anos, Roberta de Razão, projeto encabeçado por Lorena Bonna, estreou no palco do TendaLab com apenas duas músicas. Na época, o evento capixaba ainda acontecia dentro da programação do Festival de Cinema de Vitória, e ela cantou seis vezes as mesmas duas canções. A impressão foi tão boa que, em 2024, a artista retornou ao palco do festival para realizar o show de lançamento do primeiro disco, Mais Forte Que Trovão, disponível nas plataformas desde 14 de junho.
O trabalho foi elaborado pela artista, ao lado do produtor musical Rodolfo Simor, que inclusive, a ajudou a encontrar o estilo do álbum. O processo de gravação se iniciou antes da pandemia, porém as músicas ficaram guardadas na gaveta durante um tempo e foram finalizadas nos últimos dois anos.
“As músicas não tinham uma definição concreta. Estava tomando uma cervejinha no boteco quando pensei: ‘é isso aí tudo, bicho’. Elas são punk, brega, psicolésbico”, lembra a compositora. Além da dupla, o guitarrista Felipe Cordeiro soma em “Talvez (Lucia)”, evidenciando a fusão de estilos musicais. Já Fábio Mozine, do selo Läja Records, colaborou na composição de algumas das faixas.
Para Lorena, por mais que exista uma grande mistura de referências, a unidade do trabalho está na voz: “O vocal está fora de tudo, ele não segue a rítmica do instrumental, acho que é isso que dá a conexão entre as músicas.”
As letras foram elaboradas a partir de histórias reais, porém embebidas de ironia dentro da persona Roberta de Razão. A última faixa a entrar no disco foi “Pessoinha Peçonhenta”: “Foi muito difícil fechar a letra, porque não quero que fique uma coisa tosca. Ela é meio debochada, quase como uma afronta. Gosto de viver a coisa. Tive uma vivência e fui escrever na mesma noite.”
Mesmo tendo circulado pela cena de hardcore com as bandas What Happened To Baby Jane? e Arame, a artista não se enxerga como parte desse circuito. “Não quero me ver dentro de nada. Todo muito está absorvendo as mesmas informações o tempo todo, então a gente acaba se perdendo de si e do que está acontecendo”, afirma.
Inclusive, reforça que mesmo no underground, o pensamento retrógrado afasta as mulheres de ocupar certas posições. “O cenário punk é difícil para as minas, ele é muito old school, então tento sair um pouco fora disso”, reflete. Foi justamente essa motivação que tornou Roberta de Razão inclassificável.
“Ainda mais sendo queer no mundo punk, vivendo no interior, não tem muita gente assim. Você cresce meio sozinha, então estou tendo essa vivência agora e estou surpresa com a repercussão”, divide.
Recentemente, em março, Lorena viajou a São Paulo para realizar um sonho de adolescência: assistir o Bikini Kill ao vivo. Nem a perna quebrada foi impeditivo para viver essa experiência. “Me botaram na cadeira de rodas e fiquei lá na frente de gesso. Eu não conseguia parar de chorar”, lembra.
Os ícones do riot grrrl foram inspiração para a artista começar a compor e a fazer o próprio som. Além da banda americana, cita como referência os grupos essenciais do punk rock feminista no país, caso do Dominatrix, Bulimina e Anti-Corpos.
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