Música para chorar

02/09/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

02/09/2014

Fotos: Camila Mazzini

Depois de duas décadas de estrada, a banda inglesa Spiritualized tocou pela primeira vez no Brasil.

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Sabe quando você tem um dia horroroso e não vê a hora de chegar em casa para chorar enrolado nas cobertas? Nessas horas sempre gostei de ouvir música triste. Bem triste. Garanto: melhor catalisador de emoções represadas não há. Choro com vontade e no outro dia acordo nova, esperançosa, como se tivesse apertado a tecla reset. Quem tem cadeira cativa no meu top ten deprê é a música “Broken Heart”, da banda inglesa Spiritualized, que eu tive a oportunidade de ouvir ao vivo no dia 28 de agosto, na mais recente edição do festival Popload Gig, no Audio Club em São Paulo.

Conhecido pelos riffs barulhentos, o Spiritualized veio desplugado para o seu primeiro show no Brasil, duas décadas depois do lançamento do disco de estreia. O espetáculo Acoustic Mainlines foi lindo, lindo, lindo, mas foi somente para os fortes. Até São Pedro colaborou: estava uma noite gelada e chuvosa. Jason Pierce, fundador e compositor da banda, subiu ao palco e ajoelhou no milho sentou numa cadeira empunhando o violão. Para acompanhá-lo, nada de baixo e bateria. De um lado do palco estavam Pierce e quatro cantoras gospel, todos vestidas de branco. De outro, um quarteto feminino de cordas acompanhava o pianista inglês Doggen, parceiro de Pierce na banda, todos vestidos de preto.

Jason Pierce

Jason Pierce

Quando os primeiros acordes soaram, me dei conta de que o céu deve ser bem parecido com aquilo, um paredão sonoro com violinos, cantoras gospel e indie rock. Eles abriram o show com “Sitting on Fire”, do disco Songs of A&E (2008), gravada enquanto Pierce se recuperava de uma pneumonia dupla que quase o matou. É, não se trata de mimimi adolescente, diferentemente das minhas eventuais crises. Basta uma olhada no setlist para entender o clima da noite: “True Love Will Find You in the End” (cover do incrível artista americano Daniel Johnston), “Feel So Sad”, “Going Down Slow”, “Stop Your Crying”, “Broken Heart”, “Lord Can You Hear Me?” e, claro, o hit “Ladies and Gentleman We’re Floating In Space”, ainda mais incrível com os violinos e ponto alto do show. Entrosada, a banda parecia se conhecer há anos, mas tinha sido montada na véspera pela produção no Brasil. A plateia só descobriu isso no bis, quando as cantoras começaram a cantar em português trechos de “I Think I’m in Love”.

Ao fim, deu peninha dos desavisados que perderam o clima de paquera e diversão nos bares numa quinta-feira à noite e foram tentar a sorte naquele show. “Não vai ter u-m-a música animada?”, uma menina perguntou para outra na plateia ao meu lado. A ode à música de fossa deixou o público de coração partido quando terminou. Como lidar com tamanha beleza e tristeza? Será que o Jason Pierce quer um abraço? Perguntas estampadas no rosto dos presentes. Muita gente deve ter ido para casa chorar enrolado nas cobertas. Tomara que tenham acordado bem.

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02/09/2014

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