A Tuyo, trio curitibano formado por Lio e Lay Soares com Jean Machado, é uma das bandas mais prolíficas da cena independente. Desde que despontaram em 2017, com o EP Pra Doer, o grupo engatou o ritmo agitado e nunca mais parou. No currículo constam três discos, uma porção de singles e colaborações com nomes do rock ao hip hop – Terno Rei, Fresno, O Rappa, Rashid, Luccas Carlos, Baco Exu do Blues, Rico Dalasam, Jonathan Ferr, entre outros.
Quando a pandemia bateu na porta da banda, em 2020, eles se perguntaram: qual caminho seguir? “A gente estava com vontade de ser pautado somente pelo nosso desejo”, afirma Lio sobre o início do processo do disco Paisagem, lançado em abril. Com dez músicas, o registro traz participações de Luedji Luna (“Paisagem”), JOCA (“Devagar”) e arranjos de Arthur Verocai (“Apazigua”).
“A gente vem do Pra Doer, Pra Curar, do Chegamos (sozinhos em casa), pensando sempre no que a gente precisava dizer. A ansiedade de dizer algo é o que nos movimenta em direção a um disco: é uma ânsia, uma gana, de mostrar o nosso ponto de vista. Com o terceiro trabalho, a gente sentia que já tinha pagado todos os tributos do mercado”, divide Lio.
Ao reajustarem a rota, os músicos entenderam que precisavam voltar ao cerne do que os uniu: experimentar e compor juntos. “O Paisagem trouxe a sensação de ‘relaxa, o que queremos fazer agora?'”, conta a vocalista. Se havia uma preocupação em equilibrar as sonoridades sintéticas e orgânicas, hoje se sentem mais à vontade no eletrônico, ainda que os violões e guitarras ainda sejam muito presentes nas músicas.
Eles se encontravam para estudar arranjos, explorar as possibilidades dos sintetizadores e teclados e pensar no que desejavam passar para o público. “Sinto que começamos o disco achando que a gente precisava mostrar algo novo. Durante o processo, entendemos que a gente precisava curtir o que estava acontecendo”, lembra Lay. “É um novo ciclo, partimos da vontade de se ver de um jeito diferente e experimentar as outras pessoas que podemos ser.”
Ao formatarem as faixas de Paisagem, o grupo sabia que os shows teriam os três no palco, sem músicos adicionais. Depois de entenderem como apresentar as músicas novas, garimparam no repertório novas formas de apresentar as canções já conhecidas. Para Jean, esse processo foi natural: “rearranjar as próprias músicas é muito importante, é como pegar uma roupa antiga e mexer nela. Você sabe da história dela, de tudo o que ela representa, mas você precisa de algo novo. Criar novos arranjos é a ferramenta que temos de nos mostrar para o mundo de uma forma diferente.”
Desde o lançamento, o grupo passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Vila Velha, cidade onde Jean nasceu e viveu até mudar para Curitiba na infância. No palco do Movimento Cidade, em Vila Velha, eles encerraram a primeira parte da turnê. No sábado, o dia mais cheio do evento, eles dividiram o line-up com Marina Sena e Ebony. “Sinto que por muitos anos, passamos tocando em uma bolha de conforto onde as pessoas que iam ao nosso show já nos conheciam. No momento, acompanhamos o fluxo de novas audiências tentando saber quem a gente é”, reflete Lio.
“Voltar ao nosso beabá faz parte disso: nós três no palco com violão e teclas. Tenho a sensação que o espetáculo está mais didático. Quem volta para casa depois do show e escutar o disco, vai entender o que acontece no ao vivo e o que acontece na gravação. Montar esse show foi um dos maiores desafios, mas pesquisar música é gostoso demais.”
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