Diversas histórias e mitologias tentam definir a origem do amor, afinal, esse sentimento pode ser explicado de diferentes formas dependendo de cada cultura. Para Laura Pires, mestra em Linguística Aplicada na UFRJ e criadora de conteúdo, a forma como enxergamos o amor tem a ver com o contexto cultural no qual estamos inseridos.
“Nós temos a impressão de que é algo universal, um sentimento que todo mundo sente igual, mas na verdade, ele é culturalmente localizado”, explica Laura Pires. Ou seja, seria impossível separar a forma como cada pessoa experiencia certas emoções do seu entorno. “O que é mais significativo no momento, ou o que é uma prioridade na vida, pode ser associado como amor. No final, acaba sendo aquilo que toca o coração.”
As formas como as pessoas se relacionam mudam com o tempo. A independência feminina, o divórcio e o avanço de discussões sociais criaram novas configurações de relacionamentos, que vão além da monogamia e da visão patriarcal.
“Quando a gente fala que, no passado, as relações eram mais duradouras e significativas, estamos igualando duração com profundidade, como se isso significasse amor de verdade. Porém, isso não se comprova na prática. As relações duravam mais porque as mulheres eram dependentes economicamente dos maridos, entre outros fatores sociais”, afirma a especialista.
As novas formas de relacionamentos garantem liberdade de escolha, onde cada relação pode ser construída de formas diferentes. A fluidez contemporânea possibilita arranjos inéditos, elaborados conforme as necessidades das partes envolvidas:
“A questão não é se forçar a viver uma coisa diferente da norma, mas entender que os padrões existem, e se questionar se essas coisas fazem sentido. Dessa forma, você constrói o seu próprio relacionamento. O que torna as relações mais saudáveis e satisfatórias é abrir mão das categorias presumidas e levar em consideração o que é importante, intolerante e inegociável para os lados.”
Caminhos abertos
Acostumados a compor e cantar sobre o amor e relacionamentos em suas variadas formas, convidamos cinco artistas para destrinchar esse conceito amplo.
ÀIYÉ
“A relação de banda parece um casamento. Quando você começa ver aquelas pessoas que você ama tocando com outras bandas você sente ciúme. Por outro lado, você percebe que isso faz bem para aquela pessoa e que ela se sente bem com aquilo. Nesse processo, você percebe que o fato dessa pessoa estar indo para outros mundos te engrandece e faz você amá-la mais. Dentro dessa perspectiva, percebi que as minhas relações também são assim. Nós nos apaixonamos por artistas, discos, músicas, mas não nos apaixonamos só por um. Nós temos múltiplas formas de se apaixonar por diversas artes e por diversos seres. Demorei para me entender como poligâmica e pansexual, mas sinto que hoje é mais fácil discutir esse assunto.”
Bruno Berle
“Recentemente, eu comecei gostar de mim e percebi que as pessoas me olham diferente. Hoje, eu me acho um cara bonito, mas esse processo é recente e confuso – me vejo desconfiando demais das situações, existe uma insegurança.”
Duquesa
“Eu me senti amada quando comecei a trabalhar com música. As pessoas nem me conheciam, no quesito vida pessoal e convivência, mas me amavam muito porque falo sobre mim e exponho o que penso. Nas relações com os meus amigos, eu também me sinto muito amada, vivi fases ruins e me senti compreendida por eles. Além deles me acalmarem e terem paciência para lidar comigo. Ter paciência comigo é um ato de amor.”
Luedji Luna
“Nós não vamos nos sentir humanos enquanto não experimentarmos o amor. Isso nas mais diversas facetas, não só o amor romântico. O amor é uma pedra fundamental para gente se constituir como humano. Os meus pais me ensinaram a amar e me trouxeram a percepção de que eu era amada. Tanto que houve um grande conflito entre o meu lar, que era cercado de amor e afeto, e a escola, que era o mundo externo. A minha primeira experiência de amor foi com a minha família e a minha primeira experiência de desamor foi na escola. Com o Dayo, me derreto toda, ele é quem eu mais beijo, abraço e amo na vida. Ser mãe é experimentar um amor avassalador.”
Rico Dalasam
“Sempre idealizei o que era o amor, ficava pensando como seria se sentir amado. No colégio, tive um sentimento por um aluno novo e nós ficamos juntos, mas naquela época, me questionava se eu merecia aquilo. Nisso, alguns medos e traumas se expressavam. Com o passar do tempo, comecei a ter as minhas experiências e perdi um pouco da idealização. Conforme vivia, entendia que o importante é estar aberto para o acaso da vida. Eu acredito que é necessário se desprender de algumas idealizações para viver o amor.”
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