Um músico argentino que vai fazer você se encantar pela sua poesia e sonoridade da língua espanhola. Com ironia, Florentino canta sobre o dia-a-dia, do instante à aranha dentro do violão, às vezes fazendo uma reflexão maior por trás de algo cotidiano. Seu som é bastante novo pra gente, mas também muito familiar em certos momentos. E não é por menos: o Brasil é uma grande inspiração para Florentino.
Cuando el Bosque Despierta (2010) foi seu primeiro disco solo, aquele que apresentou o leque de possibilidades do artista. La Banda Floricalista (2011), o segundo, já chegou com uma ideia mais coesa de álbum, com faixas abertas e coloridas. Mas foi com Cosas Así (2013), seu último lançamento, que Florentino conseguiu reunir suas referências como Caetano Veloso, Novos Baianos, Nick Drake, The Kinks, Eduardo Mateo [compositor uruguaio] em um registro alegre, mas também profundo.
Nesses quatro anos de carreira solo, Florentino já fez diversos shows pela Argentina, mas o mundo ainda o espera. Algumas letras em inglês e português presentes nos discos podem fazer com que a comunicação com públicos estrangeiros seja ainda mais fácil. No momento, ele está trabalhando nas composições do próximo disco e prestes a lançar o documentário “Florentino Na Bahia”, cujo trailer você assiste no final da entrevista que fizemos com ele.
Como você sobrevive na Argentina?
Eu sou músico e designer gráfico. Trabalho com imagem e com som. Divido meu tempo entre as duas atividades. Componho músicas e as gravo na minha casa, onde eu tenho um pequeno home studio. Eu adoro a produção musical. Para a mistura e o mastering dos discos eu gosto de trabalhar com Juan Stewart e Manza Esaín, dois engenheiros de som muito talentosos. Na sequência, eu desenho a capa dos discos e faço a edição de forma independente. Eu adoro os momentos em que a música e o design se misturam. Faço shows sozinho com violão e também acompanhado pela banda Floricalista, parceiros que me ajudam a interpretar algumas músicas.
Em que região da Argentina você reside? E como está cena musical daí atualmente?
Eu moro em Tigre, ao norte da província de Buenos Aires, bem perto do Rio Lujan. Uma área muito umidade com muita vegetação. Em Buenos Aires, temos uma oferta muito grande de música de diferentes gêneros musicais e a cena independente é muito diversificada. A capital (Buenos Aires) tem a maior concentração de músicos, rádios, produtoras e lugares para tocar. Temos muitos músicos produzindo discos próprios e os apresentando todas as noites. A única coisa que eu acho que falta para completar a cena musical independente é um maior público interessado em novas propostas musicais.
Não há como não notar uma brasilidade na sua música. Qual sua relação com o Brasil e a música daqui? Já esteve em terras brasileiras?
Eu adoro a música brasileira dos anos 60 e 70 principalmente. Sou apaixonado pela Tropicália, a Bossa Nova e a MPB. Sou colecionador de discos de vinil: Gil, Gal, Tom Zé, Os Mutantes, Jorge Ben, Raúl Seixas, João Gilberto, Dorival Caymmi e muitos mais. Gosto muito da musicalidade do idioma. Também de tentar cantar em português.
Para meu disco Cosas Así, eu escrevi uma música em português chamada “Chocomenta”, inspirada em “Durval Discos”, um filme brasileiro de 2002 com uma trilha sonora deliciosa.
Eu fui pro Rio de Janeiro nas férias de 2010 e fiz o vídeo clipe (low budget/de baixo orçamento) da música “Mancuspias”, do meu primeiro disco. O clipe foi feito no Jardim Botânico do Rio. No ano passado eu fui convidado para participar do Festival Latitudes Latinas em Salvador, Bahia. Foi uma experiência incrível conhecer essa cidade que tantas vezes ouvi nas músicas e letras dos grandes compositores baianos. Eu viajei com minha mulher, que trabalha fazendo fotografia e vídeo, para documentar todos os momentos do festival. Agora estamos trabalhando em um documentário sobre essa viagem, com músicas gravadas em meio à cidade. O nome do documentário é “Florentino Na Bahia”, em breve será disponibilizado online.
Como é seu processo de composição?
Minha cabeça e minhas mãos primeiro fabricam uma melodia ou umas poucas palavras cantadas. Depois, tenho que encontrar uma hora do dia para trabalhar sozinho com meu violão, concentrado em juntar as palavras, a melodia e o ritmo, da ideia inicial. Às vezes eu fico com uma melodia sem letra por muito tempo. Nesses casos, eu gravo apenas a música e aproveito as viagens de trem para pensar em palavras e frases. Quando eu tenho música e letra que considero bacanas, eu volto a verificar as palavras e a forma de cantá-las. Por fim, eu escolho o nome da música.
O que desperta sua vontade de começar a escrever uma música?
É um impulso interno, uma necessidade artística e uma forma de me expressar. Eu posso contar uma história, que ouvi ou imaginei e também é uma forma de falar de alguns sentimentos. Os livros, os filmes, os contos e a vida mesma desperta a minha vontade de escrever uma letra. Eu acho que nós, músicos, sempre temos essa coisa de estar todo o tempo fazendo música.
Florentino na Bahia – Trailer oficial (2015) HD from Planeta del Cangrejo on Vimeo.
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