Do luxo ao lixo, esse foi o caminho enveredado por muitos dos discos de 78 rotações aqui no Brasil. Espécie de ancestral do LP, essas gravações eram realizadas no material conhecido como goma-laca e chegaram ao país em 1901, onde prosperaram até a década de 50, quando foram ultrapassadas pela chegada dos discos de vinil. Por ter prata em sua composição, muitos de seus exemplares foram parar em ferros-velhos e se tornaram sucatas. Felizmente, nem todos.
O Instituto Moreira Salles (IMS) se aliou aos principais colecionadores de gravações em 78 rpm para concretizar o projeto Discografia Brasileira, acervo digital que já disponibiliza 46 mil arquivos de áudio do tipo. O site está no ar e pode ser acessado aqui. Há anos, o IMS já havia adquirido acervos de colecionadores e pesquisadores minuciosos, como Humberto Franceschi e José Ramo Tinhorão, com coleções de 6 mil fonogramas cada. Um nome inigualável, entretanto, é o de Leon Barg (1930 – 2009), criador da gravadora Revivendo. A coleção que leva seu nome, considerada o maior acervo de música brasileira em 78 rpm, possui cerca de 31 mil lançamentos, o equivalente a 80% de toda a discografia nacional lançada no período. Obtido pelo IMS no ano passado, os arquivos reunidos por Barg já estão inventariados e aguardam o processo de digitalização para serem incorporados ao site.
Para se ter uma dimensão do valor histórico do projeto, o site compila, digitaliza, preserva e divulga cinco décadas de produção musical nacional, compreendendo dois processos: o de gravação mecânica, com uso de cornetas, e de gravação elétrica, com a introdução dos microfones. Entre os registros, encontram-se verdadeiras riquezas: a primeira música a ser gravada no país, “Isto É Bom”, de Xisto Bahia, em 1902; o primeiro samba gravado no Brasil, “Pelo Telefone”, de Donga, disponível em duas versões de 1917 – uma instrumental e outra cantada; o disco pioneiro na gravação em sistema elétrico no Brasil, “Passinho do Má” e “Albertina”, de Francisco Alves em 1927; o primeiro rock brasileiro gravado: “Rock’n’ Roll em Copacabana”, de Cauby Peixoto, em 1957, além do início da bossa nova com “Chega de Saudade”, de João Gilberto, em 1958.
A plataforma ainda opera com o cruzamento de dados nas buscas, permitindo, assim, que os visitantes possam montar suas próprias playlists e ainda compartilhar os links em suas redes, além das playlists feitas pela equipe do Discografia Brasileira. Os áudios estão na íntegra, mas só podem ser consumidos no site. Incrível, né?